sábado, 25 de junho de 2022

Ladeira a baixo...


Ladeira a baixo...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Ladeira a baixo é uma boa expressão para definir o momento atual. As tentativas do fundamentalismo contemporâneo protagonizadas pelas diversas correntes da direita global podem fortalecer uma nova ordem social no mundo; mas, não exatamente como elas acreditam e almejam.

Enquanto se digladiam dentro de suas próprias fronteiras, e algumas vezes fora delas, o que muitos países, talvez, não tenham se dado conta (ou não queiram admitir) é o fato de que toda essa instabilidade é a tempestade perfeita para suas próprias derrocadas.    

Aqui, por exemplo, o esfacelamento das instituições às vésperas do pleito eleitoral é bastante emblemático. Suspeitas, investigações, prisões, orbitam o universo da corrupção, do tráfego de influências e outros “pecados” inconfessáveis, como se o país não pudesse virar as páginas da sua própria história.

Então, ele se repete, se repete, se repete, ... enquanto vê quaisquer perspectivas de estabilidade e progresso desaparecerem no horizonte, como miragem no deserto.

Nos EUA, a grande potência mundial, são as recentes decisões da Suprema Corte que criam uma aura de instabilidade social gravíssima, em meio ao caos que a própria economia foi submetida em decorrência tanto da Pandemia da COVID-19 quanto da recente Guerra na Ucrânia.

Trata-se de um retrocesso judiciário tão significativo que pode sim, afetar as bases da Democracia, da Liberdade e da prosperidade econômica, que eles sempre se orgulharam em defender.   

A história ensina, “grandes impérios um dia acabam ruindo”. Mas, isso vale também para os pseudoimpérios, que estão distribuídos, por aí, pela exacerbação narcísica de governos medíocres e instituições demasiadamente frágeis.

Simplesmente, porque seu excesso de certezas e convicções absurdas os fazem, mais dia menos dia, acabarem tropeçando no próprio cadarço.

Sabe aquela história de grandes marcas que sempre depositaram sua força e hegemonia no nome de mercado e acabaram sendo surpreendidas pelos concorrentes?

Pois é. Nome não ganha jogo. Nome não sustenta poder. É assim que o mundo funciona. Essa é a insígnia do desenvolvimento, da evolução.

Portanto, aqueles que trabalharam em favor das micro e macro estabilidades tendem a despontar no panorama de uma nova ordem global. Aliás, o ponto de vista desses bravos previdentes é bastante simples.

Pautas ideológicas comportamentais não colocam comida na mesa, não garantem empregos, não movimentam as bases econômicas, não impulsionam o protagonismo de mercado, não alinhavam credibilidade nas relações diplomáticas e de comércio exterior, não criam estruturas de avanço científico e tecnológico.  E países precisam disso, não é mesmo?

De modo que não se pode retirar o foco das demandas prioritárias, justamente em um momento em que o mundo ensaia uma retomada, depois de três anos difíceis de sobrevivência, diante da Pandemia.

Os prejuízos foram sentidos em cada canto do planeta, dentro das especificidades próprias das nações. Pior para alguns. Menos pior para outros. Mas, todos, sem exceção, não fugiram do impacto das adversidades.

Então, não dá para “procurar pelo em ovo” em torno de questões que estão longe de ser um consenso, que criam muito mais dissidência do que harmonia.

Esses são tempos para deixar o curso natural da história fluir e criar uma certa estabilização, ainda que temporária, para em momento mais oportuno buscar uma solução verdadeiramente profícua.

Agora, segundo analistas e especialistas, no campo da Economia, a realidade indica uma necessidade de coesão e coerência na tomada de decisões, na construção de planejamentos estratégicos, para se aguardar o processo de recuperação socioeconômica que aponta para um movimento gradual e lento.

Inclusive, torcendo para que nenhuma outra manifestação do imponderável, nenhuma imprevisibilidade mais arrasadora, se apresente e coloque o jogo na iminência de novos rearranjos e organizações.

Por isso, nesses tempos bicudos, como diz o provérbio, “Prudência e caldo de galinha não faz mal a ninguém”. Não é hora de ousar, de fazer graça, de brincar, de instigar a discordância, de desarmonizar o ambiente. O medo da recessão global tensiona o mundo.

E se a economia vai mal, os humores sociais se desestabilizam muito mais rapidamente e com muito mais intensidade. É o medo da inflação. O medo do desemprego. O medo da fome. O medo do empobrecimento. O medo do adoecimento. O medo em todas as suas formas e conteúdos.

Isso significa que as investidas do fundamentalismo contemporâneo, a partir de pautas conservadoras extremistas, é um desserviço aos países em que elas têm acontecido. Ora, a dignidade de sobrevivência humana é o que está em jogo.

Assim, é impossível pensar que ao limitar, retirar, proibir ou tolher direitos já, de certo modo, consagrados, a maioria da população vai aceitar isso pacificamente.

Principalmente, considerando que estas decisões são tomadas pela perspectiva minoritária de alguns em detrimento da maioria, que sustenta a base da pirâmide social.   

Querendo ou não, estamos no século XXI, em plena Era das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). O mundo convive e coexiste pelo toque nas telas. Tudo acontece, portanto, na velocidade da luz.

De modo que os conhecimentos são repartidos e compartilhados aos milhões por segundo, reduzindo, de algum modo, a impossibilidade de controle ao acesso das pessoas nesse universo virtual.

Enquanto, aqui ou ali as guerras travadas se baseiam em discussões, quase medievais, outros aproveitam a oportunidade para travar suas guerras pelo protagonismo e hegemonia global, tendo a tecnologia como a grande arma de dominação.

Não se esqueça de que o mundo vive a realidade da chamada Revolução Industrial 4.0! Com seus sistemas Ciber-físicos, com a internet das coisas, com a computação em nuvem, com a Inteligência Artificial (IA).  

Os países antenados a esse movimento já entenderam que o domínio da geografia do mundo não necessita mais de grandes exércitos, de invasões sangrentas, de arsenais sofisticados, de bombas aqui e ali.

O domínio do mundo está ao alcance das mãos, no olhar atento as telas, nas informações computadorizadas. Quem souber mais, quem desenvolver mais, quem criar mais, quem surpreender mais, vence o jogo. Porque vai se impor nos mercados do mundo. Vai fazer riqueza. Vai estabelecer dependência e domínio tecnológico. Vai dar as cartas.  Simples assim!

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