Educação.
Cultura. Cidadania... Direitos fundamentais.
Por
Alessandra Leles Rocha
Não é de hoje que a Educação é
artigo raro para muita gente, no Brasil. Educação e poder aquisitivo sempre
estiveram atrelados na história desse país de origem colonial. Os filhos dos nobres
e da aristocracia mineradora e agrária, durante cerca de quase 300 anos, eram encaminhados
à Metrópole para constituir sua formação educacional e profissional, custeados,
literalmente, a peso de ouro.
Somente, em 11 de agosto de 1827,
D. Pedro I formalizou a criação dos dois primeiros cursos de Direito no Brasil,
a Faculdade de Direito do Recife, em Olinda, e a Faculdade de Direito, em São
Paulo capital; razão pela qual, comemora-se o Dia do Estudante, na referida
data. Assim, tendo em vista a tecitura sócio-histórica nacional, o acesso à
Educação 1 sempre dependeu dos interesses
majoritários da elite.
Por isso, até certo ponto, não
surpreende a fala recente do Ministro da Educação em defesa de um acesso, à
universidade, restrito a poucos 2. O que
parece advir desse ranço colonial, na verdade, não passa das recorrentes
manifestações de ideias e valores pertencentes a extrema-direita nacional, que
tenta se reafirmar novamente.
Há um forte apelo no sentido de
manter ativas as desigualdades, partindo de políticas públicas que vêm
promovendo o desmantelamento de vários setores do país, tais como a Educação e
a Cultura 3, para que feneçam no seu compromisso
constitucional de atendimento à população, sem distinções de quaisquer
naturezas.
Desse modo, não se trata apenas
de um expressivo valor de custeio do ensino superior ou eventual propaganda em
favor de cursos técnicos, o que move tal discurso. Na verdade, os cortes
orçamentários no Ministério da Educação, desde 2019, têm atingido a todos os
níveis de ensino, do básico à pós-graduação, inviabilizando a operacionalização
de todo o sistema, por problemas de ordem diversa, implicando diretamente na paralisação
e na limitação do desenvolvimento educacional do país.
A verdade é uma só, educação
pública de qualidade nunca foi prioridade para o país. Haja vista, os últimos
resultados, do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA) desenvolvido
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que o
Brasil não registrou avanços significativos no desempenho dos estudantes em
leitura, matemática e ciências.
Isso significa que dois terços dos
brasileiros de 15 anos sabem menos que o básico de matemática e ciências e, que
no caso dos dados da leitura, há uma estagnação nos últimos 10 anos. É
importante destacar que o país participa dessa avaliação desde 2000, quando foi
convidado, apesar de não ser membro da referida organização.
Bem, se os dados do ensino básico
se mostram deficitários, por consequência e lógica, os do ensino médio e do
superior tenderão a apresentar problemas ainda maiores. O que, em grande parte,
explica as deficiências e carências presentes tanto na formação cidadã quanto
profissional da população brasileira.
O país não faz por onde
desenvolver as aptidões, as habilidades e as competências de sua gente; posto
que, seus modelos de educação não dispõem de uma identidade própria capaz de promover
atualizações e reconfigurações para atender e compatibilizar as demandas evolutivas
e progressistas locais e do mundo. Isso quer dizer, então, que um grande
contingente de estudantes brasileiros está sendo nivelado, constantemente, por
baixo. O que é uma pena.
Ao que tudo indica, a ideia do
Ministério da Educação é abdicar cada vez mais do seu compromisso com a
educação pública para favorecer a iniciativa privada. Entretanto, os rumos da
Economia nacional acenam para uma redução, cada vez mais expressiva, do número
de pessoas que terão reais condições de pagar por isso.
Ora, a elite já representa apenas
6% da população, então, o que se vislumbra no horizonte é a retomada do velho
caminho do Brasil colonial, ou seja, se é para pagar, vale mais a pena investir
na educação dos filhos em outro país, frustrando às expectativas dos grupos
educacionais privados locais.
Resta saber se esse parco contingente
formado no exterior vai querer, depois, retornar ao Brasil e enfrentar os
desafios da escassez de oportunidades de trabalho, das baixas remunerações, do
alto custo de vida, enfim ... Porque a existência de uma flagrante dissociação
existente entre os diversos segmentos da administração pública gera obstáculos dialógicos
grandiosos, como esses, desfavorecendo por completo a manutenção de uma dinâmica
social compatível aos interesses idealizados, do país.
Infelizmente, a extrema-direita
nacional não entendeu o significado de que “Conhecimento
é poder” (Tomas Hobbes – filósofo inglês). Na sua visão estreita e
limitada, ela considera que esse “poder”
deva ser um privilégio restrito a meia dúzia de cabeças pensantes, pertencentes
a uma casta social superior; pois, assim, não perderia o controle. Esse é,
então, um “poder” minguado, vulgar, insuficiente
na sua intenção de correr parelha com os demais, de ser grande, de ser
importante.
Conhecimento é poder de verdade,
quando “emerge apenas através da invenção
e da reinvenção, através da inquietante, impaciente, contínua e esperançosa
investigação que os seres humanos buscam no mundo, com o mundo e uns com os
outros”; afinal, “ninguém pode ser
autenticamente humano enquanto impede que os outros também o sejam” (Paulo Freire
– educador e filósofo brasileiro).
1 Art. 205 a
214. - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
2 https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/08/universidade-deveria-ser-para-poucos-diz-ministro-da-educacao-de-bolsonaro.shtml
3 Art. 215 e 216 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm