quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Para refletir ...

Para refletir ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Depois de uma espera de pouco mais de 6 anos, a justiça em relação ao assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes começa a ser materializada, a partir do julgamento e condenação dos seus executores. A justiça tarda, mas não falha.

Acontece que esse caso é um bom exemplo para se tecer uma análise sobre a realidade brasileira. Começando pela demora na sua elucidação. Não se engane, essa não foi uma questão de polarização política, de Direita ou de Esquerda, pura e simplesmente.

Trata-se do resistente ranço histórico do colonialismo nacional, que coloca na dianteira dos exercícios de poder as elites herdeiras da burguesia e da corte metropolitana. Gerações que se sucedem, secularmente, mantendo suas regalias, privilégios e influências, conquistadas ao peso do poder capital acumulado.

Basta um breve levantamento da historicidade brasileira para se perceber como o ideário progressista levou tempo para se firmar no ponto mais alto do poder. Majoritariamente, o Brasil foi conduzido não só pelos herdeiros do colonialismo; mas, pelas práxis políticas e sociais por eles defendidas.

Daí o progressismo, no Brasil, encontrar tamanha resistência para se afirmar. Além das construções ideológicas deturpadas, com o objetivo de desqualificar seus integrantes e suas propostas, reforçando um discurso de medo e ódio a seu respeito, falta-lhes o equilíbrio do poder capital para disputar os espaços sociais em critério de igualdade.

Assim, qualquer um que defenda a sua identidade progressista, no campo político brasileiro, corre sim, o mesmo risco que Marielle correu. Afinal, é preciso admitir que o conservadorismo, cujas raízes profundas estão fixadas nos tempos coloniais, está devidamente capilarizado dentro da estrutura organizacional e institucional, do país.

Tudo transita sob a observância invisível dos membros e simpatizantes desse pacto ideológico. E quando necessário, o poder capital dessa gente entra em cena para acelerar ou desacelerar os movimentos. Algo que ultrapassa as fronteiras dos próprios poderes institucionalizados. Portanto, não é de hoje que o Brasil vive a existência de um poder paralelo, o poder conservador das elites e seus matizes, mais ou menos afortunados.

Haja vista como, nas últimas décadas, o progressismo brasileiro vem sendo asfixiado pelas práxis empregadas por esses grupos, com ou sem apoio de seus simpatizantes no cenário internacional. Eles não mediram esforços, de nenhuma maneira, a fim de interromper, ou pelo menos tentar, a ascensão progressista, no país.

Precarizaram o trabalho com a Reforma Trabalhista. Trouxeram o país de volta ao cenário da insegurança alimentar. Construíram uma Reforma da Previdência extremamente perversa e cruel. Impuseram a estrutura econômica brasileira ao alinhamento dos mercados. Retrocederam em leis ambientais importantíssimas. Fizeram emergir uma onda de casos de trabalho análogo à escravidão. Na Reforma Tributária, como já era de esperar, rejeitaram a proposta de taxar grandes fortunas. ...  

E o assassinato de Marielle Franco tem a ver, também, com as ingerências das elites conservadoras, dado o vigor da sua posição progressista na vereança, no Rio de Janeiro. Ela despontava como uma liderança importante nesse cenário e incomodava as pretensões e os interesses de seus opositores das bancadas conservadoras. Por isso calaram a sua voz.

Do mesmo modo que calaram outros progressistas, tais como Chico Mendes, Bruno Pereira, o jornalista britânico Dom Philip, a missionária Dorothy Stang. A ideia que eles consideram é de que é preciso calar as vozes do progressismo, para silenciar a população e mantê-la alienada e subserviente.

No entanto, esse tipo de silenciamento me traz uma outra perspectiva a respeito. Com toda a inserção de poder, inclusive capital, o que temem as camadas conservadoras ao ponto de precisar eliminar pessoas, as quais estão em posição de desvantagem? Será que o progressismo desaparecerá por isso?

Bem, pessoas morrem; mas, as ideias não. Especialmente, quando a realidade que as sustenta se recrudesce a cada dia e demanda por transformação. Não é á toa que Benjamin Franklin manifestou: “A justiça nunca será feita até aqueles que não são afetados se indignarem como os que são”.

Assim, diante de tamanha avidez pelo poder, por parte dos conservadores, e de todas as manifestações do imponderável que tem ocorrido sobre o planeta, o progressismo parece com o campo aberto para se consolidar e materializar a amplidão da indignação popular, antes do que se possa imaginar.