Para
refletir ...
Por Alessandra
Leles Rocha
Depois de uma espera de pouco
mais de 6 anos, a justiça em relação ao assassinato de Marielle Franco e seu
motorista Anderson Gomes começa a ser materializada, a partir do julgamento e
condenação dos seus executores. A justiça tarda, mas não falha.
Acontece que esse caso é um bom
exemplo para se tecer uma análise sobre a realidade brasileira. Começando pela
demora na sua elucidação. Não se engane, essa não foi uma questão de polarização
política, de Direita ou de Esquerda, pura e simplesmente.
Trata-se do resistente ranço
histórico do colonialismo nacional, que coloca na dianteira dos exercícios de
poder as elites herdeiras da burguesia e da corte metropolitana. Gerações que
se sucedem, secularmente, mantendo suas regalias, privilégios e influências,
conquistadas ao peso do poder capital acumulado.
Basta um breve levantamento da
historicidade brasileira para se perceber como o ideário progressista levou
tempo para se firmar no ponto mais alto do poder. Majoritariamente, o Brasil
foi conduzido não só pelos herdeiros do colonialismo; mas, pelas práxis políticas
e sociais por eles defendidas.
Daí o progressismo, no Brasil,
encontrar tamanha resistência para se afirmar. Além das construções ideológicas
deturpadas, com o objetivo de desqualificar seus integrantes e suas propostas, reforçando
um discurso de medo e ódio a seu respeito, falta-lhes o equilíbrio do poder
capital para disputar os espaços sociais em critério de igualdade.
Assim, qualquer um que defenda a
sua identidade progressista, no campo político brasileiro, corre sim, o mesmo
risco que Marielle correu. Afinal, é preciso admitir que o conservadorismo,
cujas raízes profundas estão fixadas nos tempos coloniais, está devidamente
capilarizado dentro da estrutura organizacional e institucional, do país.
Tudo transita sob a observância invisível
dos membros e simpatizantes desse pacto ideológico. E quando necessário, o
poder capital dessa gente entra em cena para acelerar ou desacelerar os
movimentos. Algo que ultrapassa as fronteiras dos próprios poderes
institucionalizados. Portanto, não é de hoje que o Brasil vive a existência de
um poder paralelo, o poder conservador das elites e seus matizes, mais ou menos
afortunados.
Haja vista como, nas últimas décadas,
o progressismo brasileiro vem sendo asfixiado pelas práxis empregadas por esses
grupos, com ou sem apoio de seus simpatizantes no cenário internacional. Eles
não mediram esforços, de nenhuma maneira, a fim de interromper, ou pelo menos
tentar, a ascensão progressista, no país.
Precarizaram o trabalho com a Reforma
Trabalhista. Trouxeram o país de volta ao cenário da insegurança alimentar.
Construíram uma Reforma da Previdência extremamente perversa e cruel. Impuseram a
estrutura econômica brasileira ao alinhamento dos mercados. Retrocederam em leis
ambientais importantíssimas. Fizeram emergir uma onda de casos de trabalho
análogo à escravidão. Na Reforma Tributária, como já era de esperar, rejeitaram
a proposta de taxar grandes fortunas. ...
E o assassinato de Marielle
Franco tem a ver, também, com as ingerências das elites conservadoras, dado o
vigor da sua posição progressista na vereança, no Rio de Janeiro. Ela despontava
como uma liderança importante nesse cenário e incomodava as pretensões e os
interesses de seus opositores das bancadas conservadoras. Por isso calaram a
sua voz.
Do mesmo modo que calaram outros
progressistas, tais como Chico Mendes, Bruno Pereira, o jornalista britânico Dom
Philip, a missionária Dorothy Stang. A ideia que eles consideram é de que é preciso
calar as vozes do progressismo, para silenciar a população e mantê-la alienada
e subserviente.
No entanto, esse tipo de silenciamento
me traz uma outra perspectiva a respeito. Com toda a inserção de poder,
inclusive capital, o que temem as camadas conservadoras ao ponto de precisar
eliminar pessoas, as quais estão em posição de desvantagem? Será que o
progressismo desaparecerá por isso?
Bem, pessoas morrem; mas, as
ideias não. Especialmente, quando a realidade que as sustenta se recrudesce a
cada dia e demanda por transformação. Não é á toa que Benjamin Franklin
manifestou: “A justiça nunca será feita até aqueles que não são afetados se
indignarem como os que são”.
Assim, diante de tamanha avidez pelo poder, por parte dos conservadores, e de todas as manifestações do imponderável que tem ocorrido sobre o planeta, o progressismo parece com o campo aberto para se consolidar e materializar a amplidão da indignação popular, antes do que se possa imaginar.