sábado, 28 de outubro de 2017

Cultura - O que está por trás da censura à arte no Brasil

Por Coryntho Baldez

A arte é a mais recente vítima da onda de intolerância que corrói o país. Tudo começou com o cancelamento da exposição Queermuseu  Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, no Santander Cultural, em Porto Alegre, no dia 10/9. Com foco temático em diversidade sexual, a mostra reunia 270 trabalhos de 85 artistas e foi suspensa após protestos nas redes sociais liderados pelo Movimento Brasil Livre (MBL). A queixa era de que as obras, assinadas por nomes consagrados como Adriana Varejão, Cândido Portinari e Lygia Clark, faziam apologia à pedofilia e à zoofilia. Uma tentativa do Museu de Arte do Rio (MAR) de trazer a mostra para a cidade foi desautorizada pelo prefeito Marcelo Crivella.
Dois episódios posteriores confirmam que a livre expressão artística virou alvo preferencial de ataques dos ultraconservadores, cujas demandas vêm encontrando acolhida no aparato jurídico-policial. Em Campo Grande (MT), a polícia apreendeu uma tela exposta no Museu de Arte Contemporânea do Mato Grosso do Sul, sob a mesma acusação de apologia à pedofilia. E um juiz proibiu a peça Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, minutos antes da estreia, no Sesc Jundiaí, em São Paulo, em 15/9 – posteriormente, a exibição foi liberada pela Justiça em Porto Alegre.

Retrocesso atual lembra ditadura militar

Essas ações, segundo especialistas, configuram um cerco sem precedentes à liberdade de expressão e à arte desde o fim da ditadura militar. Carla Costa Dias, professora da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ, considera o cenário muito preocupante.
“Estamos vivendo um período de retrocesso. Temos visto um movimento de direita crescente. O MBL é financiado por corporações exatamente para impor uma pauta ampla de cerceamento dos movimentos sociais. Esse mesmo grupo faz a apologia do que chamo de ‘Escola Com Censura’, que busca limitar a ação dos professores e o pensamento”, critica.
Ela ressalta que, no momento, o alvo maior dos ataques é a expressão artística que retrata a diversidade sexual. Segundo Carla, a leitura que esses grupos fazem das obras é completamente equivocada, mas o fato de a exposição abordar o tema abertamente e sem preconceitos incitou o ódio daqueles que promovem a LGBTfobia. “Na internet, esses grupos de direita são muito ativos e chegam a falar em um complô para impor uma pauta”, afirma.
Felipe Scovino, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da EBA/UFRJ, lembra que o Brasil tem um histórico preocupante de exposições fechadas e de peças teatrais e músicas censuradas, especialmente no período da ditadura militar. [...]


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