quinta-feira, 29 de maio de 2025

Qual é a sua visão de DESENVOLVIMENTO?


Qual é a sua visão de DESENVOLVIMENTO?

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

A contemporaneidade tem nos imposto uma análise reflexiva, a qual precisa dissecar camada por camada dos fatos e acontecimentos, para ser efetivamente compreensível. Talvez, por isso, a grande maioria das pessoas não se disponha a atuar nesse sentido, porque isso demanda algum tempo. Quando o assunto diz respeito às questões socioambientais, isso fica muito evidente!

Para início de conversa, é impossível entrar nessa seara, desconsiderando os impactos que o DESENVOLVIMENTO, impulsionado pelas Revoluções Industriais, apresenta. É certo que, nos idos do século XVIII, não se dispunha de uma compreensão ampla e aprofundada a respeito das reverberações e consequências que emergiriam da industrialização.

No entanto, seus apoiadores e financiadores se apressaram a propagar, de maneira maciça, uma visão idealizada e enviesada do assunto. O que significava estar alinhada a contemplar prioritariamente os benefícios, invisibilizando e/ou excluindo os malefícios. E esse é o ponto chave, que atormenta a realidade contemporânea.

As acaloradas e desrespeitosas discussões, que vêm acontecendo, nos últimos dias, no cenário político-partidário nacional, é prova cabal dessa situação1. A visão dissociativa entre DESENVOLVIMENTO, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE, revela como esse discurso foi secularmente moldado no inconsciente coletivo.

Com base na própria historicidade nacional, ou seja, o Brasil como ex-colônia de exploração da metrópole portuguesa, se entende por quais caminhos a noção de DESENVOLVIMENTO foi formulada, no país. Um DESENVOLVIMENTO voltado exclusivamente para a produção de riqueza, de lucro. Algo que, diante do passar do tempo, foi justificado por um fim. Qual seria ele? A geração de emprego e renda, o que para um país, com uma flagrante desigualdade socioeconômica, parece bastante convincente.

Só que não. Basta um breve passar de olhos pelos veículos de informação e de comunicação, diariamente, para ser confrontado com as marcas das desigualdades nacionais. Um sinal claro de que o DESENVOLVIMENTO, por aqui, dentro desses moldes, permanece satisfazendo aos interesses diretos das elites e seus meios de produção.

Por essas e por outras, esses indivíduos estão se manifestando de maneira belicosamente histriônica. A histórica conquista brasileira, a qual parecia se consagrar como uma reparação à irracionalidade dos ciclos exploratórios ocorridos no país, o LICENCIAMENTO AMBIENTAL não só impõe uma nova visão de DESENVOLVIMENTO; mas, incomoda a permanência das velhas práxis garantidoras dos interesses desse estrato social.

Vejam, a ausência de licenças para instalação, ampliação, modificação e operação de atividades que utilizam recursos naturais ou que podem causar impactos ambientais, é uma obstaculização gratuita ao DESENVOLVIMENTO. Com base nos exemplos retratados nos filmes MINAMATA (2021) 2, O PREÇO DA VERDADE (2019) 3 e ERIN BROCKOVICH (2000) 4, se torna facilmente compreensível o papel fundamental das licenças ambientais para evitar consequências e desdobramentos irreparáveis, capazes de impactar negativamente outros setores da sociedade.

Licenças ambientais não se baseiam em ideologias! Elas são instrumentos de natureza técnico-científica. Seu objetivo primordial é garantir a compatibilidade entre o desenvolvimento econômico-social e a proteção do meio ambiente, a partir da regulamentação das atividades que possam ser direta e/ou indiretamente causadoras de impactos negativos, inclusive, letais.

Mesmo com sua existência, no Brasil, não podemos jamais esquecer de episódios como os ocorridos em Mariana (2015) e em Brumadinho (2019). Cujos processos judiciais ainda se arrastam, repercutindo o sofrido e angustiante desalento dos atingidos; bem como, se mantêm expostos à força do poder capital dos responsáveis para não só postergar, mas inviabilizar as reparações e os ressarcimentos materiais estabelecidos pela Justiça.

Nada surpreendente se observado o modelo de DESENVOLVIMENTO presente na realidade brasileira, e que vem sendo defendido raivosa e estridentemente nos palcos político-representativos, a fim de gerar uma adesão social rasa e irreflexiva.  Relembrando Fernando Pessoa, o famoso poeta português, “O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte do desenvolvimento superior dela - em segui-la pois mimeticamente com uma insubordinação inconsciente e feliz”.

Assim, diante do cenário do século XXI, o que está em discussão é o DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, “o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades” (Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega e líder internacional em desenvolvimento sustentável). O que significa que “A sustentabilidade é uma questão de vida ou morte para a humanidade” (Jacques Cousteau - oceanógrafo, cineasta e autor francês).

Lembre-se: “As letras e a ciência só tomarão o seu verdadeiro lugar na obra do desenvolvimento humano no dia em que, livres de toda a servidão mercenária, forem exclusivamente cultivadas pelos que as amam e para os que as amam” (Piotr Kropotkin - geógrafo e escritor russo). Somente nesse contexto é que a sociedade entenderá as palavras de Mahatma Gandhi, advogado, nacionalista anticolonial e eticista político indiano, “Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome”.



3 O Preço da Verdade - Dark Waters | Trailer Legendado - https://www.youtube.com/watch?v=02QZ4fFXaoU

4 Erin Brockovich 2000 Official Trailer - https://www.youtube.com/watch?v=IRPjTMbSEG0