quinta-feira, 8 de maio de 2025

A simbologia da podridão


A simbologia da podridão

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não adianta negar! Infelizmente, estamos diante do apodrecimento do Legislativo federal. Eleitos como representantes da população para defender suas demandas, muitas delas históricas, eles se prestam ao papel abjeto e constrangedor de ocupar seu tempo afrontando a Carta Magna do país.

Dos 513 deputados que compõem a Câmara, 315 reafirmaram os acontecimentos antidemocráticos golpistas, que culminaram no 08 de janeiro de 2023, votando pela suspensão da ação penal, em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), relativa aos crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Simbolicamente, o voto desses deputados significa a legitimação de tais crimes.

Apesar de todos os pesares, um fato merece destaque. Agora, diante do número concreto de 315, que votaram a favor da Resolução 18/25, se conhece quem está alinhado às pautas defendidas pelo ideário Direitista nacional e se propõe a atuar de maneira ANTICIDADÃ, ANTIDEMOCRÁTICA, ANTI-INSTITUCIONAL. Na medida em que, diante de tal votação, revelaram o caráter vil do uso do voto dos eleitores que os elegeram. 

No entanto, é importante esclarecer que tamanho absurdo decorrente dessa votação é INCONSTITUCIONAL. O próprio presidente da 1ª Turma do STF, onde correm as ações relativas aos crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, já havia feito o alerta formal a respeito, para o Presidente da referida casa legislativa. Mas, a sanha em tumultuar e promover um discurso paralelo equivocado, junto aos seus apoiadores e simpatizantes, falou mais alto. Afinal, a ideia de fomentar um embate constante contra a Suprema Corte é o grande objetivo desses deputados.

Por quê? Porque o STF tem sido o mantenedor da segurança jurídica, no país, ao defender o ordenamento estabelecido pela Constituição Federal. Ora, isso esbarra diretamente nos interesses, nas regalias e nos privilégios do corpo político-partidário ligado à Direita e seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas. Eles se julgam uma casta superior, legitimada historicamente a agir, segundo suas próprias vontades e quereres, sem precisar se submeter ao que determina a legislação nacional. De modo que o STF representa um obstáculo tanto às suas tentativas de flexibilização das normas jurídicas quanto às suas constantes manifestações de inação no papel legislativo.  

É lamentável, que eles não se importem em gastar o tempo fomentando polêmicas e caos na Câmara dos Deputados, enquanto assuntos realmente importantes deveriam estar sendo tratados. Mas, como já tive oportunidade de escrever anteriormente, isso acontece para “assegurar a continuidade da assimetria da organização social brasileira, para que possam permanecer exercendo plenamente seus interesses e poderes”1 .

Queiram ou não admitir, as classes dominantes nacionais ligadas diretamente à Direita e seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas, fazem dos espaços de poder uma extensão das suas propriedades, a partir de apoios e recursos de campanha. Então, basta que se sintam desconfortáveis, com essa ou aquela decisão do Judiciário, para que façam de seus legisladores, instrumentos de contestação.

Daí a necessidade de atenção ao que é disseminado pelas mídias sociais. Como escreveu George Orwell, “A linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável, bem como a imprimir ao vento uma aparência de solidez” 2. Afinal, “Toda propaganda de guerra, toda a gritaria, as mentiras e o ódio, vem invariavelmente das pessoas que não estão lutando” (George Orwell).

Por isso, antes de permanecer repetindo as velhas práxis, lembre-se da seguinte metáfora: “Se os porcos pudessem votar, o homem com o balde de comida seria eleito sempre, não importa quantos porcos ele já tenha abatido no recinto ao lado” (Orson Scott Card - escritor de ficção científica e fantasia estadunidense).



2 ORWELL, G. Politics and the English Language. A Collection of Essays Nova York, Doubleday, 1954.