sábado, 8 de março de 2025

O que querem as mulheres???


O que querem as mulheres???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

O que querem as mulheres? Decidi começar a minha reflexão por essa pergunta; pois, ela me causa um profundo desconforto. Paira no ar uma sensação de materialismo, como se as mulheres fossem despojadas da sua natureza humana e, portanto, só pudessem almejar pelo material.

Entretanto, tal perspectiva destoa completamente da realidade. Basta um pouco de atenção, para descobrir que respeito pode sim, ser o ponto de partida para se conhecer as ambições femininas.  São tantas as camadas que revestem o desrespeito às mulheres, que nada mais faz sentido.

O pior é que estamos tratando de uma questão histórica. Ao serem objetificadas, desde sempre, as mulheres foram alijadas da sua condição humana para serem tratadas como um bem de natureza material da família. Sem direito a vez e a voz. Aviltadas na sua dignidade. Parte, então, desse desrespeito, um processo de reverberação das violências, ou seja, física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.   

A ausência, cada vez mais frequente, de respeito às mulheres é decorrência de um padrão comportamental replicado ao longo das gerações. E a razão disso acontecer é simples. A objetificação não só silenciou a mulher, como obstaculizou a sua participação social em pé de igualdade com os homens. Assim, eles não precisavam dividir os espaços de poder com as mulheres.

Diante desse processo de lançá-las à condição de objeto, de coisa, eles puderam garantir o seu status quo na sociedade. Contudo, essa realidade veio sofrendo transformações profundas ao longo do tempo. Lenta e gradativamente, as mulheres vêm se apropriando do seu protagonismo, da sua identidade, e ampliando a sua participação na dinâmica do mundo.

Acontece que esse processo não chegou distante das tensões e das insatisfações masculinas. Aceitar tais mudanças parece incômodo demais para muitos. De modo que o desrespeito ganhou contornos mais exacerbados, em plena contemporaneidade. Tudo o que as mulheres se propõem a realizar é submetido a um nível de escrutínio público, altamente extenuante. Há sempre um senão. Elas dificilmente são reconhecidas no seu talento, na sua competência, na sua capacidade.

E para isso, são utilizadas estratégias diversas de invisibilidade, de desqualificação, de inferiorização, de preconceito. Como se pudessem construir justificativas que ofuscassem quaisquer possibilidades de contestação por desrespeito. Ora, o desrespeito não se apaga dos contextos. Ele não desaparece por mera justificativa. Porque ele se multiplica indiscriminadamente na sociedade. São milhares de casos por dia.

Não é à toa que o assédio moral, sexual e/ou psicológico, nos mais diferentes ambientes da sociedade, dão materialidade ao desrespeito às mulheres. O que significa que, apesar de todos os seus esforços e lutas para se tornarem protagonistas da sua história, na verdade, elas permanecem tão objetificadas quanto no tempo das cavernas. Sim, porque as violências contemporâneas não são menos ofensivas e brutais.

Infelizmente, “Temos um mundo cheio de mulheres que não conseguem respirar livremente porque estão condicionadas demais a assumir formas que agradem aos outros” (Chimamanda Ngozi Adichie). Em uma tentativa desesperada de evitar o desrespeito e suas terríveis consequências. Contudo, isso não adianta. Nem tampouco muda o fato de que “A pessoa mais qualificada para liderar não é a pessoa fisicamente mais forte. É a mais inteligente, a mais culta, a mais criativa, a mais inovadora. E não existem hormônios para esses atributos” (Chimamanda Ngozi Adichie).

Ah, não se engane em pensar que o desrespeito só chega pelas mãos dos homens! O desrespeito também aponta para a falta de sororidade, ou seja, o sentimento que une mulheres por uma rede de solidariedade, empatia, proteção e companheirismo. Muitas não se dão conta de que “A linguagem é o repositório de nossos preconceitos, de nossas crenças, de nossos pressupostos” (Chimamanda Ngozi Adichie), e saem, por aí, legitimando o discurso de certos homens.

Por isso, o melhor presente para uma mulher é o respeito. 365 dias por ano. Um respeito comunicado em atos e palavras. Um respeito que abraça, que acolhe, que a faz sentir importante. Um respeito que nutre as suas emoções e sentimentos. Lembre-se de que “Nada é mais depreciável que o respeito baseado no medo” (Albert Camus). Já dizia Santo Agostinho, “Na essência somos iguais, nas diferenças nos respeitamos”; visto que, não há razão para não ser assim.