quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Ainda somos os mesmos ...


Ainda somos os mesmos ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

É, o mundo do século XXI ainda se fundamenta pela expressão “Os fins justificam os meios”, uma paráfrase de Nicolau Maquiavel, que viveu entre os séculos XV e XVI.  Acontece que para toda ação há uma reação. De modo que as palavras do renascentista italiano abdicam de trazer à discussão quanto aos desdobramentos e consequências inerentes ao processo.

Dito isso, penso que seja prudente aos cidadãos do mundo a consciência de não apostarem suas fichas na conquista de um modelo de sustentabilidade socioambiental, conforme clamam as demandas planetárias. Infelizmente, grande parte das nações persiste em relativizar o recrudescimento dos impactos ambientais e dos eventos extremos do clima, apesar de todo o embasamento científico comprobatório.

Não, não há somente negacionismo vigorando sobre o assunto. Há, também, o relativismo. De modo que ambos impõem um jogo perigoso com o tempo, como se fosse possível flexibilizar os desastres ambientais à uma postergação indefinida. Porém, isso é pura insanidade idealista. Não existe a terceira margem da história, ou seja, ou defendemos um modelo de sustentabilidade socioambiental para o planeta ou nos entregamos de corpo e alma ao velho ideário desenvolvimentista.

Bem, a historicidade prova, por a mais b, que o desenvolvimentismo não foi capaz, em tempo algum, de aparar as arestas das desigualdades, por onde passou. Suas práxis são puramente exploratórias e degradantes, seja do ponto de vista das riquezas vegetais e minerais; mas, da própria população local. O ciclo de exploração da borracha, na Amazônia, é um exemplo disso. Milhares de pessoas acabaram mortas pela ação da tríade da fome, das doença e do abandono estatal, no fim do século XIX e início do século XX. Afinal, essa parece ser a estratégia empregada. Sensibilizar a opinião pública, de alguma forma, visto que, a verdade não consegue angariar apoio.  

Por isso, caro (a) leitor (a), não é só a extração de petróleo na foz do rio Amazonas, o que preocupa. Muitos devem se lembrar de como o país encontrou os Yanomamis, no início de 2023. O franco processo de extermínio a que haviam sido submetidos pelo total abandono do Estado brasileiro, tinha como pano de fundo a extração mineral aurífera. Então, se formos pensar em todo o potencial mineral existente na vasta territorialidade brasileira, começamos a entender a dimensão da ameaça que afeta não só o meio ambiente e seus recursos naturais; mas, milhares de cidadãos, habitantes dessas localidades.

Ora, a natureza sempre foi dinâmica. Mas, após a deflagração da 1ª Revolução Industrial e todo o processo de transformação socioambiental que ela desencadeou, a incidência dos impactos ambientais negativos passou a ser cada vez mais recorrente e avassaladora. Mesmo com a criação de instrumentos legais e de fiscalização, os riscos na contemporaneidade parecem, cada vez mais, subdimensionados, dada a força imposta pelos episódios extremos que vêm ocorrendo sistematicamente.

A verdade é que os sistemas de prevenção de desastres ambientais se mostram insuficientes e ineficientes para a realidade atual. E apesar dessa constatação, o país continua caminhando pela trilha de medidas minimamente mitigadoras, as quais não tendem a proteger nada e nem ninguém. No entanto, a sanha desenvolvimentista continua a todo vapor! Velhas mazelas. Novas mazelas. Nem sinal de que o desenvolvimentismo conseguiu dar um jeito de resolver os problemas que se arrastam historicamente, no país. Ao invés de diminuir, eles só fazem aumentar e se aprofundar. E quando chegam as eleições, se transformam em pauta de campanha, no mesmo lenga-lenga de promessas.  

Nos últimos tempos tem se usado muito o termo genocídio para explicar os acontecimentos beligerantes, em curso, no planeta. Muitos dedos em riste, para uns e outros, justificados pela participação inconteste deles no morticínio de milhares de pessoas. Mas, o que dizer do genocídio ambiental?

Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), “Dos mais de 120 milhões de deslocados forçados no mundo, três quartos vivem em países fortemente impactados pelas mudanças climáticas. Metade está em locais afetados por conflitos e riscos climáticos, como Etiópia, Haiti, Mianmar, Somália, Sudão e Síria” 1.

A permanecer-se distante da consolidação de um modelo de sustentabilidade socioambiental, o planeta Terra, em breve, estará diante de um extermínio ambiental, em massa, da sua população. Os mais de 8 bilhões de seres humanos estão sim, sob ameaça de morrerem por fome, por sede, por frio, por calor extremo, por afogamento, por deslizamento de terra, por tsunamis, por furacões, por vulcões e/ou por terremotos.

Decorrências diretas e indiretas das ações antrópicas realizadas, que romperam com o equilíbrio natural e geográfico, nos últimos séculos. Porém, dessa vez, longe de ser um extermínio por raça, etnia ou religião, ele será a consequência fatal da deliberação contra a sobrevivência da raça humana em si. O que significa que por trás de cada vida ceifada irá se saber que os algozes foram a ganância, a cobiça e o poder, apropriados por certas figuras despidas da sua própria humanidade.