Ainda
somos os mesmos ...
Por Alessandra
Leles Rocha
É, o mundo do século XXI ainda se
fundamenta pela expressão “Os fins justificam os meios”, uma paráfrase
de Nicolau Maquiavel, que viveu entre os séculos XV e XVI. Acontece que para toda ação há uma reação. De modo
que as palavras do renascentista italiano abdicam de trazer à discussão quanto aos
desdobramentos e consequências inerentes ao processo.
Dito isso, penso que seja
prudente aos cidadãos do mundo a consciência de não apostarem suas fichas na
conquista de um modelo de sustentabilidade socioambiental, conforme clamam as
demandas planetárias. Infelizmente, grande parte das nações persiste em
relativizar o recrudescimento dos impactos ambientais e dos eventos extremos do
clima, apesar de todo o embasamento científico comprobatório.
Não, não há somente negacionismo
vigorando sobre o assunto. Há, também, o relativismo. De modo que ambos impõem um
jogo perigoso com o tempo, como se fosse possível flexibilizar os desastres
ambientais à uma postergação indefinida. Porém, isso é pura insanidade
idealista. Não existe a terceira margem da história, ou seja, ou defendemos um modelo
de sustentabilidade socioambiental para o planeta ou nos entregamos de corpo e
alma ao velho ideário desenvolvimentista.
Bem, a historicidade prova, por a
mais b, que o desenvolvimentismo não foi capaz, em tempo algum, de aparar as
arestas das desigualdades, por onde passou. Suas práxis são puramente
exploratórias e degradantes, seja do ponto de vista das riquezas vegetais e
minerais; mas, da própria população local. O ciclo de exploração da borracha,
na Amazônia, é um exemplo disso. Milhares de pessoas acabaram mortas pela ação
da tríade da fome, das doença e do abandono estatal, no fim do século XIX e
início do século XX. Afinal, essa parece ser a estratégia empregada. Sensibilizar
a opinião pública, de alguma forma, visto que, a verdade não consegue angariar apoio.
Por isso, caro (a) leitor (a), não
é só a extração de petróleo na foz do rio Amazonas, o que preocupa. Muitos devem
se lembrar de como o país encontrou os Yanomamis, no início de 2023. O franco
processo de extermínio a que haviam sido submetidos pelo total abandono do
Estado brasileiro, tinha como pano de fundo a extração mineral aurífera. Então,
se formos pensar em todo o potencial mineral existente na vasta
territorialidade brasileira, começamos a entender a dimensão da ameaça que
afeta não só o meio ambiente e seus recursos naturais; mas, milhares de
cidadãos, habitantes dessas localidades.
Ora, a natureza sempre foi dinâmica.
Mas, após a deflagração da 1ª Revolução Industrial e todo o processo de transformação
socioambiental que ela desencadeou, a incidência dos impactos ambientais
negativos passou a ser cada vez mais recorrente e avassaladora. Mesmo com a
criação de instrumentos legais e de fiscalização, os riscos na
contemporaneidade parecem, cada vez mais, subdimensionados, dada a força imposta
pelos episódios extremos que vêm ocorrendo sistematicamente.
A verdade é que os sistemas de
prevenção de desastres ambientais se mostram insuficientes e ineficientes para a
realidade atual. E apesar dessa constatação, o país continua caminhando pela
trilha de medidas minimamente mitigadoras, as quais não tendem a proteger nada
e nem ninguém. No entanto, a sanha desenvolvimentista continua a todo vapor! Velhas
mazelas. Novas mazelas. Nem sinal de que o desenvolvimentismo conseguiu dar um jeito
de resolver os problemas que se arrastam historicamente, no país. Ao invés de
diminuir, eles só fazem aumentar e se aprofundar. E quando chegam as eleições,
se transformam em pauta de campanha, no mesmo lenga-lenga de promessas.
Nos últimos tempos tem se usado
muito o termo genocídio para explicar os acontecimentos beligerantes, em curso,
no planeta. Muitos dedos em riste, para uns e outros, justificados pela
participação inconteste deles no morticínio de milhares de pessoas. Mas, o que
dizer do genocídio ambiental?
Segundo dados do Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), “Dos mais de 120
milhões de deslocados forçados no mundo, três quartos vivem em países
fortemente impactados pelas mudanças climáticas. Metade está em locais afetados
por conflitos e riscos climáticos, como Etiópia, Haiti, Mianmar, Somália, Sudão
e Síria” 1.
A permanecer-se distante da consolidação
de um modelo de sustentabilidade socioambiental, o planeta Terra, em breve,
estará diante de um extermínio ambiental, em massa, da sua população. Os mais
de 8 bilhões de seres humanos estão sim, sob ameaça de morrerem por fome, por
sede, por frio, por calor extremo, por afogamento, por deslizamento de terra, por
tsunamis, por furacões, por vulcões e/ou por terremotos.
Decorrências diretas e indiretas
das ações antrópicas realizadas, que romperam com o equilíbrio natural e geográfico,
nos últimos séculos. Porém, dessa vez, longe de ser um extermínio por raça,
etnia ou religião, ele será a consequência fatal da deliberação contra a sobrevivência
da raça humana em si. O que significa que por trás de cada vida ceifada irá se
saber que os algozes foram a ganância, a cobiça e o poder, apropriados por
certas figuras despidas da sua própria humanidade.