sábado, 26 de março de 2022

Um pouquinho de Cultura. Um pouquinho de Brasil.


Um pouquinho de Cultura. Um pouquinho de Brasil.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Preferência é uma questão pessoal. Mas, para que ela exista é fundamental a diversidade, e nesse sentido, o Brasil é farto. Sobretudo, quando se trata da Cultura. São inúmeros os nossos artistas e suas manifestações. Oriundos das ruas ou das Academias, não importa. A expressão do talento, da competência e, porque não dizer, da genialidade desses artistas, é indiscutível e consagrável a todos os aplausos e reverências.

É por isso que se torna irrelevante tomar por base de opinião o comentário de uns e outros. O que anda faltando no Brasil é retirar dos olhos as travas e se permitir enxergar a Cultura na real dimensão que ela se permitiu alcançar por aqui. Afinal de contas, para quem ainda não se deu conta, “A Cultura é entendida como um modelo rico em símbolos que molda a consciência e o comportamento humano” (RAJABI; KETABI, 2012, p.705) 1.

Portanto, viva a nossa arquitetura, as nossas artes plásticas, a nossa literatura, as nossas artes cênicas, a nossa dança, a nossa música, não importando se individualmente ou através de suas variadas combinações! Muito além de traduzir as subjetividades que edificam a nossa identidade multicultural e miscigenada, elas também são um pedaço desse alicerce que sustenta o desenvolvimento e o progresso do país, dentro e fora de suas próprias fronteiras.

Ao olharmos para a nossa identidade cultural, com a devida atenção e respeito, conseguimos perceber o quanto ela é “um processo contínuo em que se acumulam conhecimentos e também práticas que resultam da interação social entre os indivíduos” (COELHO; MESQUITA, 2013, p.27) 2. A cultura do Brasil não se resume a isso ou aquilo, ela está sempre aberta à sua capacidade e potencialidade de transformação, de renovação e de novas descobertas.

É certo que demorou para isso ser assimilado e compreendido. A cultura brasileira enfrentou muitos desafios para se consolidar, para romper a bolha das influências estrangeiras que se formou a partir do seu processo colonial. Durante muito tempo, éramos sim, uma cópia representativa das expressões culturais dos outros. Mas, como nada por aqui é definitivo é estático, a força dos movimentos internos provou que era preciso acompanhar o fluxo do tempo, da história, dos acontecimentos, da própria diversidade populacional.  

Índios, negros e brancos, cada qual ao seu modo, sempre impregnaram o país com suas contribuições culturais. O que houve, durante séculos, foi a existência de uma resistência a verdade dos fatos, pelo ranço colonial manifesto através da força da visão eurocêntrica que se disseminou pelo mundo. A cultura das antigas colônias padecia com a pecha de algo inferior, desimportante, fora dos padrões estabelecidos pelas metrópoles europeias.

Até que os realinhamentos, trazendo novas conjunturas e realidades geopolíticas capazes de interferir na dinâmica das relações sociais, estimularam as correntes culturais vanguardistas.  Trata-se do momento em que cada expressão cultural passou a buscar o seu lugar de fala no mundo, possibilitando dessa forma a sua visibilização dentro do coletivo social e, portanto, o surgimento da preferência, da escolha, da decisão dos indivíduos.

A cultura adquiria, então, uma verdadeira apropriação por parte das pessoas, segundo o grau de significância que estabeleciam com aquelas expressões.  Ela se descobria, então, multi e intercultural. Você pode gostar disso, daquilo e daquilo outro. Você pode juntar, misturar, compor, segundo o seu próprio sistema de crenças, de valores, de atitudes, porque a cultura tem tudo a ver com a liberdade. A liberdade de ser, de estar, de sentir, de criar, de produzir... De modo que a cultura é sempre um terreno totalmente flexível, cujos limites existem para serem confrontados, desalinhados, desconstruídos, ressignificados.

Como escreveu Coll (2002), a interculturalidade “representa uma experiência libertadora para todas e cada uma das culturas que interagem, por meio da qual podemos reconhecer os limites inerentes às nossas culturas e nossos mundos; ao mesmo tempo, porém, ela nos permite perceber o caráter infinito e transcendente de nós mesmos, de nossas identidades e de nossos respectivos mundos” 3. A cultura é, portanto, um universo em expansão.  

Assim, antes de encerrar essa leitura e pôr fim à reflexão que ela propõe, convido o (a) leitor (a) a fechar os olhos, por um instante, e pensar nas seguintes personalidades. Pode ser que não as conheça em certa profundidade; mas, ao menos, já ouviu falar a seu respeito, seja na arquitetura, nas artes plásticas, na literatura, nas artes cênicas, na dança e/ou na música. Deixo aqui, então, um pouquinho de Cultura. Um pouquinho de Brasil. Para você pensar e sonhar.

®   Oscar Niemeyer. Lúcio Costa. Roberto Burle Marx. Ruy Ohtake. Lota de Macedo Soares. Aleijadinho. Rosa Kliass. Felipe Hess. Maurício Arruda. Marcelo Rosenbaum. ... Esses são alguns dos expoentes da nossa arquitetura, urbanismo e paisagismo. Artistas que alteraram a nossa percepção sobre o espaço geográfico brasileiro, seja do micro ao macro.

®   Tarsila do Amaral. Djanira da Motta e Silva. Almeida Junior. Cândido Portinari. Hélio Oiticica. Lygia Clark. Lygia Pape. Emanuel Araújo. José Leonilson. Siron Franco. Arthur Bispo do Rosário. Adriana Varejão. Rosana Paulino. ... Esses são alguns dos expoentes das nossas artes plásticas. Artistas, cujo trabalho têm o potencial devastador de transformar nossa relação com as formas, os materiais, os conteúdos, as energias.   

®   Carlos Drummond de Andrade. Jorge Amado. Zélia Gattai. Caio Fernando Abreu.  Cecília Meireles. Rachel de Queiroz. Marina Colasanti. Clarice Lispector. Rubem Alves. Paulo Coelho. Mário de Andrade. Manuel Bandeira. Vinícius de Moraes. Cora Coralina. Adélia Prado. João Cabral de Melo Neto. Ariano Suassuna. ... Esses são alguns dos expoentes da nossa literatura.

São artistas que nos apresentam, por meio de suas obras, a compreensão de que “A língua envolve todas as ações e pensamentos humanos e possibilita ao indivíduo exercer influências ou ser influenciado pelo outro, desempenhar o seu papel social na sociedade, relacionar-se com os demais, participar na construção de conhecimentos e da cultura, enfim, permitir-lhe se constituir como ser social, político e ideológico” (COELHO; MESQUITA, 2013, p.26).

®   Fernanda Montenegro. Fernando Torres. Gianfrancesco Guarnieri. Paulo Autran. Tony Ramos. Glória Pires. Raul Cortez. Tarcísio Meira. Glória Menezes. Chico Anysio. Taís Araújo. Lázaro Ramos. Cláudia Raia. Jarbas Homem de Mello. Tiago Abravanel. Amanda Acosta. Bibi Ferreira. Marília Pêra. Lucinha Lins. Miguel Falabella. Matheus Nachtergaele. Selton Mello. Bruno Gagliasso. ... Esses são alguns dos expoentes das nossas artes cênicas. Artistas que nos permitiram sonhar e expiar sobre a própria condição humana, através da ficção.

®   Ana Botafogo. Carlinhos de Jesus. Ivaldo Bertazzo. Ady Addor. Mercedes Baptista. Deborah Colker. Ismael Ivo. Cecília Kerche. Lia Rodrigues. Márcia Haydée. Thiago Soares. Iolanda Braga. Klauss Vianna. .... Esses são alguns dos expoentes da nossa dança. Artistas que nos permitiram voar sem asas, através da grandiosidade plástica dos seus corpos.

®   Chico Buarque de Hollanda. Caetano Veloso. Gilberto Gil. Geraldo Vandré. Maria Bethânia. Gal Costa. Elis Regina. Nara Leão. Ivan Lins. Milton Nascimento. Lô Borges. Roberto Carlos. Erasmo Carlos. Maria Rita. Cartola. Pixinguinha. D. Ivone Lara. Beth Carvalho. Zeca Pagodinho.  Demônios da Garoa. Zélia Duncan. Marisa Monte. Carlinhos Brown. Arnaldo Antunes. Maria Gadú. Lenine. Djavan. Rita Lee. Nelson Motta. Lulu Santos. Cazuza. Barão Vermelho. Engenheiros do Hawaii. Legião Urbana. Titãs. Os Paralamas do Sucesso. Anitta 4. Pabllo Vittar 5. ... Esses são alguns dos inúmeros expoentes da nossa música. Artistas que transcenderam a voz brasileira, tantas vezes silenciada e oprimida, para fazê-la ecoar além de quaisquer fronteiras.



1 RAJABI, S.; KETABI, S. Aspects of cultural Elements in Prominent English Textbooks for EFL Setting. Theory and Practice in Language Studies, Finland, v.2, n. 4, p.705-712, April 2012.

2 COELHO, L. P.; MESQUITA, D. P. C. de. Língua, Cultura e Identidade: Conceitos intrínsecos e interdependentes. ENTRELETRAS, Araguaína/TO, v.4, n.1, p.24-34, jan./jul.2013.   

3 COLL, A. N. Interculturalidade - Propostas para uma diversidade cultural intercultural na era da globalização. São Paulo, Instituto Pólis, 2002. 124p.

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