Por
um acaso a Pandemia acabou?
Por
Alessandra Leles Rocha
Em menos
de 24 horas o Brasil perdeu dois grandes expoentes da sua Arte Cênica, um para o
vírus da COVID-19 e outro para uma pneumonia. Mais dois,
para cerrar fileira com outros tantos que vieram se perdendo nesses anos
recentes de Pandemia, unidos a uma legião de anônimos não menos importantes. Então,
só para “aliviar” meu coração, eu teimo
em perguntar, por um acaso a Pandemia acabou?
Se fontes, muito bem informadas,
dos veículos de imprensa trazem novidades, a situação está anos luz de se
resolver. Mesmo com tantos esforços para aniquilar a Ciência nacional, o GENOV 1, projeto de vigilância por sequenciamento
amostral do Sars-Cov-2 no Brasil, descobriu uma variante da variante Gama,
antes denominada P1 e descoberta em Manaus, a qual foi denominada de Gama-Plus.
Segundo os cientistas, essa nova variante conta com a mesma alteração genética
presente na variante Delta, relacionada a entrada do vírus nas células, ou
seja, a facilidade de contaminação.
Portanto, aos que teimam
deliberadamente em negar a Ciência, lamento reafirmar pela milionésima vez que
isso não adianta, não muda os fatos; apenas, facilita o trabalho de mutação
para adaptação e sobrevivência dos vírus.
Esse tipo de negação está
simplesmente colocando a população em contradição com suas próprias expectativas
e desejos, na medida em que a Pandemia está aí, continua matando e adoecendo pessoas,
provando que o cotidiano não voltou aos parâmetros de antes.
E mais, o cumprimento correto do
protocolo de vacinação é fundamental para mitigar eventuais riscos de
contaminação. Sendo assim, por mais que haja pessoas propagando discursos
contrários aos imunizantes, desqualificando sua eficácia, estes são, ainda, a
melhor alternativa de contenção da doença e seus desdobramentos mais graves.
O que ocorre é que nenhuma vacina
ou remédio existente no mundo traz na sua bula 100% de eficácia para prevenir
ou tratar uma respectiva doença; pois, os organismos humanos comportam-se de
maneira distinta, apesar da sua similaridade biológica. Basta a uma doença
pré-existente, ou uma disfunção no sistema imunológico do indivíduo, ou
alterações decorrentes da própria idade, para que as respostas não satisfaçam
as expectativas.
De modo que prevenir, ainda,
permanece sendo a melhor opção. Se há uma possibilidade de, pelo menos, atenuar
a severidade de uma doença, não faz sentido abdicar de esforços amplamente
comprovados e referendados pela Ciência, por puro capricho e inconsequência. Só
aqueles, que já demandaram atendimento médico-hospitalar de alta complexidade
em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para saber exatamente o que é.
Transpor a porta de uma UTI pode representar
tanto uma nova oportunidade quanto o fim. É uma loteria. Tudo pode acontecer e
não há previsibilidade. E o que a COVID-19 representa é exatamente essa
incerteza, esse imponderável, que milhares de pessoas teimam em desafiar, com
base em achismos e especulações infundadas.
É curioso como a
contemporaneidade conseguiu colocar abaixo o instinto de sobrevivência humana. Se
havia um fenômeno que desencadeava respeito, temor, cuidado, era, justamente, a
epidemia de doenças infectocontagiosas. O medo da contaminação era tão grande
que as pessoas isolavam os pacientes em lugares distantes.
Haja vista os “leprosários”2, citados desde a época de Cristo, por
exemplo. Depois vieram os retiros, em lugares frios e montanhosos, para os
tuberculosos; os hospitais especializados para atendimento dos sifilíticos. E
tantos outros espaços destinados a tratar e cuidar de doenças graves e letais.
Afinal, nenhuma moléstia surgiu
na humanidade fornecendo todas as suas credenciais. O começo de tudo é sempre
desafiador. Descobrir qual o vetor, como acontece a contaminação, quanto tempo
dura a infecção, que fármacos respondem satisfatoriamente ao tratamento, qual o
tipo de terapêutica mais eficaz, enfim...
Por isso, as pessoas entendiam
que a sua sobrevivência dependeria, antes de tudo, de seus próprios cuidados e
prevenção. Não havia essa história de se expor, de correr risco, gratuitamente.
Eram tempos do amor-próprio; mas, também, da empatia, do afeto, da
fraternidade, do respeito ao próximo. Bons tempos.
Então, a continuar como estamos,
muita água vai rolar por debaixo da ponte. Talvez, muitas lágrimas de dor e
sofrimento, antes que a história vire a última página dessa Pandemia. Até lá,
as perdas materiais e imateriais irão continuar, porque o Sars-Cov-2 descobriu
que tem muitos aliados entre os mortais e está se divertindo como nunca,
enquanto a Ciência se desdobra para reverter o caos e os prejuízos.