quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Por um acaso a Pandemia acabou?


Por um acaso a Pandemia acabou?

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Em menos de 24 horas o Brasil perdeu dois grandes expoentes da sua Arte Cênica, um para o vírus da COVID-19 e outro para uma pneumonia. Mais dois, para cerrar fileira com outros tantos que vieram se perdendo nesses anos recentes de Pandemia, unidos a uma legião de anônimos não menos importantes. Então, só para “aliviar” meu coração, eu teimo em perguntar, por um acaso a Pandemia acabou?

Se fontes, muito bem informadas, dos veículos de imprensa trazem novidades, a situação está anos luz de se resolver. Mesmo com tantos esforços para aniquilar a Ciência nacional, o GENOV 1, projeto de vigilância por sequenciamento amostral do Sars-Cov-2 no Brasil, descobriu uma variante da variante Gama, antes denominada P1 e descoberta em Manaus, a qual foi denominada de Gama-Plus. Segundo os cientistas, essa nova variante conta com a mesma alteração genética presente na variante Delta, relacionada a entrada do vírus nas células, ou seja, a facilidade de contaminação.

Portanto, aos que teimam deliberadamente em negar a Ciência, lamento reafirmar pela milionésima vez que isso não adianta, não muda os fatos; apenas, facilita o trabalho de mutação para adaptação e sobrevivência dos vírus.

Esse tipo de negação está simplesmente colocando a população em contradição com suas próprias expectativas e desejos, na medida em que a Pandemia está aí, continua matando e adoecendo pessoas, provando que o cotidiano não voltou aos parâmetros de antes.

E mais, o cumprimento correto do protocolo de vacinação é fundamental para mitigar eventuais riscos de contaminação. Sendo assim, por mais que haja pessoas propagando discursos contrários aos imunizantes, desqualificando sua eficácia, estes são, ainda, a melhor alternativa de contenção da doença e seus desdobramentos mais graves.

O que ocorre é que nenhuma vacina ou remédio existente no mundo traz na sua bula 100% de eficácia para prevenir ou tratar uma respectiva doença; pois, os organismos humanos comportam-se de maneira distinta, apesar da sua similaridade biológica. Basta a uma doença pré-existente, ou uma disfunção no sistema imunológico do indivíduo, ou alterações decorrentes da própria idade, para que as respostas não satisfaçam as expectativas.

De modo que prevenir, ainda, permanece sendo a melhor opção. Se há uma possibilidade de, pelo menos, atenuar a severidade de uma doença, não faz sentido abdicar de esforços amplamente comprovados e referendados pela Ciência, por puro capricho e inconsequência. Só aqueles, que já demandaram atendimento médico-hospitalar de alta complexidade em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para saber exatamente o que é.

Transpor a porta de uma UTI pode representar tanto uma nova oportunidade quanto o fim. É uma loteria. Tudo pode acontecer e não há previsibilidade. E o que a COVID-19 representa é exatamente essa incerteza, esse imponderável, que milhares de pessoas teimam em desafiar, com base em achismos e especulações infundadas.

É curioso como a contemporaneidade conseguiu colocar abaixo o instinto de sobrevivência humana. Se havia um fenômeno que desencadeava respeito, temor, cuidado, era, justamente, a epidemia de doenças infectocontagiosas. O medo da contaminação era tão grande que as pessoas isolavam os pacientes em lugares distantes.

Haja vista os “leprosários”2, citados desde a época de Cristo, por exemplo. Depois vieram os retiros, em lugares frios e montanhosos, para os tuberculosos; os hospitais especializados para atendimento dos sifilíticos. E tantos outros espaços destinados a tratar e cuidar de doenças graves e letais.

Afinal, nenhuma moléstia surgiu na humanidade fornecendo todas as suas credenciais. O começo de tudo é sempre desafiador. Descobrir qual o vetor, como acontece a contaminação, quanto tempo dura a infecção, que fármacos respondem satisfatoriamente ao tratamento, qual o tipo de terapêutica mais eficaz, enfim...

Por isso, as pessoas entendiam que a sua sobrevivência dependeria, antes de tudo, de seus próprios cuidados e prevenção. Não havia essa história de se expor, de correr risco, gratuitamente. Eram tempos do amor-próprio; mas, também, da empatia, do afeto, da fraternidade, do respeito ao próximo. Bons tempos.

Então, a continuar como estamos, muita água vai rolar por debaixo da ponte. Talvez, muitas lágrimas de dor e sofrimento, antes que a história vire a última página dessa Pandemia. Até lá, as perdas materiais e imateriais irão continuar, porque o Sars-Cov-2 descobriu que tem muitos aliados entre os mortais e está se divertindo como nunca, enquanto a Ciência se desdobra para reverter o caos e os prejuízos.

Como escreveu George Bernard Shaw, escritor irlandês, “O pior crime para com os nossos semelhantes não é odiá-los, mas demonstrar-lhes indiferença: é a essência da desumanidade”. E não é isso o que estamos assistindo nesses quase dois anos?