Quanto
custa ao país a sua livre e espontânea vontade, hein?!
Por
Alessandra Leles Rocha
Já manifestei em outras ocasiões
que as escolhas, no fundo, não passam de meras ilusões porque o mundo é
circundado por limites. A ideia de que se pode fazer tudo e danem-se as consequências
é uma balela. Coisa que o inconsciente coletivo absorveu de todas as teorias
estabelecidas pela sociedade de consumo. Só que na prática não é bem assim!
Vejam o tamanho do problema que
esse comportamento vem causando durante a Pandemia. De livre e espontânea vontade
milhares de pessoas decidiram transitar na contramão da ciência, do bom senso,
do respeito, das leis, se aglomerando sem razão de ser, abdicando do uso da máscara,
agindo deliberadamente à revelia de quaisquer apelos e súplicas. O que causou
profunda estranheza, por se tratar de uma questão de saúde pública que envolve
a severidade do dilema entre a vida e a morte.
Mas, como em quaisquer outras
situações, deram de ombros e seguiram o baile, na maior desfaçatez. De certa
forma, já estão habituados a burlar daqui e dali as regras sociais, a crer
convictamente que as leis não se aplicam a todos, enfim... o que não deixa de
ter certo fundo de verdade, quando se acessam os veículos de comunicação e
informação e lá estão exibidas notícias diversas a respeito.
Não sei se é o caso de simplesmente
denominar essas pessoas como “Maria vai
com as outras”, porque no fundo da alma o ser humano gosta de exercitar seu
protagonismo. Entretanto, ainda que anseiem pelo seu diferencial, as pessoas de
modo geral, também, não gostam muito de se afastar da opinião pública vigente,
para não serem marginalizadas dentro de seus próprios grupos de convivência.
Mas, não bastasse isso, o que
pesa mesmo é o histórico transgressor, desafiador de muitos, o qual se sustenta
no fato de que tais práticas sociais dão respaldo e legitimação a tudo isso. Essa
gente, tida e conhecida pela imensa capacidade de distorcer e transformar as
normas, as regras, as leis, segundo suas próprias vontade, jamais se furtaria, então,
a estabelecer uma brechinha aqui e outra ali para se esquivar das obrigações,
dos compromissos, das responsabilidades.
Não resta a menor dúvida que esse
mau hábito significa acabarem se equilibrando em uma corda-bamba bastante
perigosa. No caso do COVID-19, a incerteza sobre como a doença vai transcorrer
é o ponto chave. Uma “loteria” da vida é algo efetivamente imprevisível. Mas, muitos
estão se abstendo de pensar e agindo em total impulso coletivamente legitimado.
Por isso, tudo se transforma em
pretexto para contestar. Os interesses individuais se estabeleceram tão
afrontosamente, que estão fazendo a vida perder seu status majoritário. Não há mais
instinto de sobrevivência. Não há mais bom senso. Não há mais racionalidade. De
modo que essas ausências, carências, constituem o cenário perfeito para as
guerras virais e toda sorte de outros problemas sociais que possam emergir de
repente.
Nesse caso específico, do
covid-19, tratam-se de condições ideais para a manutenção ativa do vírus. Na
medida em que ele tem um contexto de disseminação ampliada, ele também vai buscando
novas soluções biológicas de adaptação, as variantes decorrentes de mutações. Como
ele era um desconhecido, até bem pouco tempo para a Ciência, esse movimento representa
um desafio constante para descoberta de mecanismos que possam contê-lo e
preservar a espécie humana de consequências cada vez mais desastrosas. Afinal,
ele está sempre alguns passos à frente dos cientistas.
Mesmo diante da perspectiva das
vacinas já desenvolvidas e em desenvolvimento, o caminho resolutivo é longo e
permeado por inúmeras variáveis. Não será do dia para noite que a vida estará
livre da ameaça do COVID-19. A bem da verdade, talvez, essa experiência dura e
amarga tenha ocorrido para nos despertar a consciência de que somos mais vulneráveis
e frágeis do que acreditamos e que a vigilância será fundamental, na medida em que haverá sempre algo desconhecido,
imponderável, a nos espreitar. O contínuo da vida que acreditávamos existir,
portanto, se rompeu.
Justamente porque não dispúnhamos
de conhecimento para lidar com essa situação extrema é que precisávamos ter
sido mais comedidos, mais respeitosos, mais fraternos, mais humanos. Exceto a
Nova Zelândia que soube delinear um protocolo que se mostrou efetivo, o resto
do planeta convive há meses com maiores e menores desdobramentos, sem poder
precisar o momento em que o equilíbrio e a estabilidade estarão novamente em
curso. A única certeza que temos é a de que a transgressão caótica não ajuda em
nada.
A humanidade chegou a um ponto em que não basta o dinheiro, não basta o plano de saúde, não basta judicializar o problema ... não basta. Como disse o Sumo Pontífice, “todos estão no mesmo barco”. As deficiências e as insuficiências afetam a todos coletivamente. Daí a necessidade de união em favor de um objetivo comum. Só no Brasil já foram mais de 200.000 vidas perdidas. Imaginem 1000 aviões caindo sobre o país para estimar a dimensão dessa tragédia. Nenhum propósito existe fora da vida. É preciso estar vivo para realizar, pensar, construir, amar, sonhar... Eles já perderam essa oportunidade; mas, outros ainda podem ter, inclusive, você. Então...