domingo, 10 de janeiro de 2021

Preste atenção aos limites!


Preste atenção aos limites!

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

É surto temporário ou as pessoas decidiram mesmo incorporar a insanidade como meio de vida. Porque misturar “alhos com bugalhos” é o que estão fazendo em relação a liberdade de expressão nas redes sociais, quando se questiona o bloqueio ou não de alguns indivíduos.

Para início de conversa, as redes sociais não são um depósito de lixo virtual onde se possa descartar quaisquer ideias e opiniões a bel prazer. Não precisa ser nenhum gênio para compreender que a existência humana não existe sem limites. Romper a linha da civilidade para assumir um verdadeiro vale-tudo da barbárie só faz piscarem os alertas das fronteiras institucionais e jurídicas. Isso, portanto, deveria ser óbvio.

A vociferação de absurdos nunca foi nem nunca será uma emissão discursiva equilibrada. Com a cabeça fervendo, o sangue esquentando nas veias, a loucura entra pela porta e a sanidade sai pela janela. Não há coesão no pensamento. Não há coerência na expressão. O que era para ser entendido se transforma em um gigantesco imbróglio, uma Torre de Babel contemporânea, porque no afã da compreensão cada um começa a gritar mais alto, a falar simultaneamente e aquilo que já era intraduzível se torna ainda pior.

O ponto é que as pessoas ainda insistem em enxergar as redes sociais como “terra de ninguém”, um espaço dialógico isento de regras e de legislações pertinentes. O que nunca foi verdade. O mundo virtual é regulado tanto quanto o mundo real; afinal, seus participantes são os mesmos, gente de carne e osso. Que por mais que queiram negar, sabem exatamente muito bem onde termina o seu limite e começa o limite do outro. Simples assim.

Quando se chega a bloquear alguém, então, é porque a tal fronteira foi em muito extrapolada e pode acarretar desdobramentos ainda maiores se nada for feito a respeito. Esse “cala boca” tecnológico é necessário sim, quando se percebe uma verborragia incontrolável no campo dos piores e mais nefastos comportamentos. Então, ele serve como sacudir alguém em pleno episódio de histeria, para ver se a pessoa recobra a razão.

Mas um aspecto muito importante nessa discussão, e que cabe em tantos outros da vida, é que os protocolos sejam sempre pensados sob uma aplicação homogênea dos usuários, ou seja, que não haja critérios e tendenciosidades que isentem uns e outros. As regras têm que valer para todos em qualquer lugar.

Nesse sentido, há de se pensar a respeito dessa miscelânea, na qual o institucional e o privado, se confundem como uma coisa só. As redes sociais disponíveis ao público em geral não foram pensadas para servirem como instrumentos de comunicação institucional. Por mais que os ares da contemporaneidade soprem sobre nós, a formalidade que reveste as instituições precisa ser preservada a fim de manter em mais alto grau a sua credibilidade.

Vejam que não tem sido incomum pessoas se descobrirem demitidas por meio das redes sociais. Essa não é só uma situação constrangedora; mas, também, desrespeitosa institucionalmente porque repassa a ideia de uma prática fundamentalmente amadora, sem uma base sólida profissional. E de um exemplo assim, para outros piores, é um pulo. Visto que as pessoas se acostumam tanto as informalidades que naturalizam o que não deveria ser naturalizado no campo institucional.

E nem é falta de uma etiqueta constituída pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Esse comportamento, talvez, seja decorrente da própria necessidade social de julgar, com dedos em riste, isso ou aquilo como fora de moda, ultrapassado, inclusive no que tange a alguns hábitos; a fim de que caiam em desuso pela manifestação arbitrária de suas vontades. Não é difícil perceber as consequências desastrosas disso!

Diante do exposto, particularmente não vejo espaço para “coitadismos”. Em quaisquer lugares do globo a vida segue seu curso sob diretrizes e legislações bastante claras, havendo sempre direitos e deveres determinados aos cidadãos. Não há gratuidade e oportunismo na punição; mas, há evidente desobediência ao que é previamente estabelecido ou que está na iminência de ferir gravemente a lei. A humanidade tem intelecto suficiente para manifestar-se; não há necessidade de baixar o nível, de cruzar a linha. Como escreveu Martha Medeiros, “Mantenha-se atrás da faixa amarela... é proibido tocar no sagrado de cada um! ”. E tenha certeza de que esse “sagrado” podem ser muitos.