Preste
atenção aos limites!
Por
Alessandra Leles Rocha
É surto temporário ou as pessoas
decidiram mesmo incorporar a insanidade como meio de vida. Porque misturar “alhos com bugalhos” é o que estão
fazendo em relação a liberdade de expressão nas redes sociais, quando se
questiona o bloqueio ou não de alguns indivíduos.
Para início de conversa, as redes
sociais não são um depósito de lixo virtual onde se possa descartar quaisquer
ideias e opiniões a bel prazer. Não precisa ser nenhum gênio para compreender
que a existência humana não existe sem limites. Romper a linha da civilidade
para assumir um verdadeiro vale-tudo da barbárie só faz piscarem os alertas das
fronteiras institucionais e jurídicas. Isso, portanto, deveria ser óbvio.
A vociferação de absurdos nunca
foi nem nunca será uma emissão discursiva equilibrada. Com a cabeça fervendo, o
sangue esquentando nas veias, a loucura entra pela porta e a sanidade sai pela
janela. Não há coesão no pensamento. Não há coerência na expressão. O que era
para ser entendido se transforma em um gigantesco imbróglio, uma Torre de Babel
contemporânea, porque no afã da compreensão cada um começa a gritar mais alto,
a falar simultaneamente e aquilo que já era intraduzível se torna ainda pior.
O ponto é que as pessoas ainda
insistem em enxergar as redes sociais como “terra de ninguém”, um espaço
dialógico isento de regras e de legislações pertinentes. O que nunca foi
verdade. O mundo virtual é regulado tanto quanto o mundo real; afinal, seus
participantes são os mesmos, gente de carne e osso. Que por mais que queiram
negar, sabem exatamente muito bem onde termina o seu limite e começa o limite do
outro. Simples assim.
Quando se chega a bloquear
alguém, então, é porque a tal fronteira foi em muito extrapolada e pode
acarretar desdobramentos ainda maiores se nada for feito a respeito. Esse “cala boca” tecnológico é necessário sim,
quando se percebe uma verborragia incontrolável no campo dos piores e mais
nefastos comportamentos. Então, ele serve como sacudir alguém em pleno episódio
de histeria, para ver se a pessoa recobra a razão.
Mas um aspecto muito importante
nessa discussão, e que cabe em tantos outros da vida, é que os protocolos sejam
sempre pensados sob uma aplicação homogênea dos usuários, ou seja, que não haja
critérios e tendenciosidades que isentem uns e outros. As regras têm que valer
para todos em qualquer lugar.
Nesse sentido, há de se pensar a
respeito dessa miscelânea, na qual o institucional e o privado, se confundem
como uma coisa só. As redes sociais disponíveis ao público em geral não foram pensadas
para servirem como instrumentos de comunicação institucional. Por mais que os
ares da contemporaneidade soprem sobre nós, a formalidade que reveste as instituições
precisa ser preservada a fim de manter em mais alto grau a sua credibilidade.
Vejam que não tem sido incomum pessoas
se descobrirem demitidas por meio das redes sociais. Essa não é só uma situação
constrangedora; mas, também, desrespeitosa institucionalmente porque repassa a
ideia de uma prática fundamentalmente amadora, sem uma base sólida profissional.
E de um exemplo assim, para outros piores, é um pulo. Visto que as pessoas se
acostumam tanto as informalidades que naturalizam o que não deveria ser
naturalizado no campo institucional.
E nem é falta de uma etiqueta constituída
pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Esse comportamento,
talvez, seja decorrente da própria necessidade social de julgar, com dedos em
riste, isso ou aquilo como fora de moda, ultrapassado, inclusive no que tange a
alguns hábitos; a fim de que caiam em desuso pela manifestação arbitrária de
suas vontades. Não é difícil perceber as consequências desastrosas disso!
Diante do exposto,
particularmente não vejo espaço para “coitadismos”. Em quaisquer lugares do
globo a vida segue seu curso sob diretrizes e legislações bastante claras,
havendo sempre direitos e deveres determinados aos cidadãos. Não há gratuidade e
oportunismo na punição; mas, há evidente desobediência ao que é previamente
estabelecido ou que está na iminência de ferir gravemente a lei. A humanidade
tem intelecto suficiente para manifestar-se; não há necessidade de baixar o
nível, de cruzar a linha. Como escreveu Martha Medeiros, “Mantenha-se atrás da faixa amarela... é proibido tocar no sagrado de
cada um! ”. E tenha certeza de que esse “sagrado”
podem ser muitos.