Quanto
vale a vida?
Por
Alessandra Leles Rocha
Quanto
vale a vida? Por mais impactante que a pergunta possa nos parecer, acima de
quaisquer polêmicas religiosas, éticas ou morais, trata-se de uma questão a ser
refletida com muita seriedade e objetividade; especialmente em tempos onde a violência
estúpida e irracional teima em afrontar com cinismo a todos os viventes.
Muitas
são as hipóteses a tentar respaldar, ou até mesmo justificar, o motivo da
exacerbação da violência na sociedade contemporânea: questões sociais, econômicas,
culturais, políticas, emocionais, comportamentais... Em muitos casos,
particularmente considero, uma busca desesperada por se justificar o injustificável,
tamanho o absurdo dos fatos e a plena convicção de que, enquanto, seres
racionais sabemos muito bem diferenciar o Bem e o Mal.
Atribuir
tudo aos ombros da impunidade, também me parece falho. Ela tem sim o seu peso
na recorrência dos episódios e na disseminação da violência entre a sociedade;
mas, não se caracteriza por si só como estopim. Há uma vontade, um querer incontrolável,
uma fúria indomesticada que impede de se pensar na vida tanto do ponto de vista
individual quanto coletivo; o nivelamento do matar e do morrer a um mesmo grau
de insignificância.
Todo
aquele primitivismo, o qual bem explica e tece interpretações a ciência sobre o
Homo sapiens, ao meu
modo de ver não parece se relacionar com o que exibe a sociedade contemporânea.
O bárbaro primitivo sobrepunha a força frente ao racional em busca de defender a
sua sobrevivência, as suas necessidades básicas, “olho por olho, dente por
dente”; já o bárbaro contemporâneo mata, e às vezes morre, sob o símbolo da
total insensatez, desfazendo-se com desdém da sua racionalidade. Podemos,
então, considerar que o ser humano tem desejado esticar os seus próprios
limites ao infinito, independentemente das consequências que tudo isso pode
acarretar a ele e aos outros; um mundo de seres mimados, cheios de vontades,
que não aceitam limites ou restrições e aboliram do seu vocabulário todas as
palavras que possam representar-lhes uma negação.
De certa
forma, ainda que perplexa, constrangida, amedrontada, a sociedade tem seu quinhão
de responsabilidade nesse assunto. Violência gera sim, mais violência! O modo
com o qual a sociedade, em seus diferentes segmentos e atribuições, fomenta e
promove o pensamento em torno da violência, ao contrário de tornar o assunto
público, discutível e aberto para o encontro de soluções, se estabeleceu uma
apologia a ela. A sensibilidade, a percepção, a compreensão da vida em cada
diminuto elemento da sua estruturação é algo extremamente particular e incomensurável;
por isso, não sabemos qualificar e nem tampouco quantificar os impactos que o
reforço constante das diversas formas de violência exibidas pelos meios de
comunicação pode trazer a cada individuo. Geralmente, o que vemos são os
reflexos disso estampados em manchetes terríveis; na ficção e na realidade círculos
que se repetem e não encontram um fim!
Abuso
de álcool, drogas e velocidade são causas comuns de atropelamentos, de mortes, de
angústia, de desespero, de revolta,... enfim, de desrespeito social gerados por
quem não está nem aí para a vida e suas implicações sociais 1. A Homofobia é causa comum de segregação,
de mortes, de angústia, de desespero, de revolta,... enfim, de desrespeito social
gerados por quem não está nem aí para a vida e suas implicações sociais 2. O comportamento passional é causa
comum de cárcere privado, de torturas físicas e psicológicas, de mortes, de
angústia, de desespero, de revolta,... enfim, de desrespeito social gerados por
quem não está nem aí para a vida e suas implicações sociais 3. Irresponsabilidade contra o idoso, à
criança e o adolescente é causa comum de maus tratos, de abandono, de
negligência, de mortes, de angústia, de desespero, de revolta,... enfim, de desrespeito
social gerados por quem não está nem aí para a vida e suas implicações sociais 4. Os abismos da sociedade – miséria,
fome, desemprego, ignorância - são causas comuns de violência, de mortes, de
angústia, de desespero, de revolta,... enfim, de desrespeito social gerados por
quem não está nem aí para a vida e suas implicações sociais 5...
Se
não morrermos “de susto, de bala ou vício”, como dizia a música de Caetano 6, talvez a hipertensão, o diabetes, a obesidade
e outros coadjuvantes do estresse concluam o serviço mais rápido 7. A verdade é que não estamos mais
vivendo! Estamos sobrevivendo aos solavancos e sustos de um “trem fantasma”. A cada
curva, a cada esquina,... de onde virá o perigo? Pelas mãos de quem? Dizemos um
“bom dia” sem a certeza da oportunidade de um “boa noite”. E temos pagado... Pagamos
caro pela vida! Tostão por tostão todos os dias, para ter a certeza de que ela
há algum tempo deixou de ter valor.