“Apitagem” ou “Arbitragem”?
Por Alessandra Leles Rocha
Agora é assim: toda quarta-feira e todo domingo
sempre apresentam motivos para bochichos e falatórios indignados quanto à
arbitragem do futebol nacional! Não digo que os deslizes, ou erros, sejam
frutos recentes; mas, que a situação está de mal a pior, isso está!
Rogávamos aos Céus e bradávamos furiosos quando o
assunto eram os campeonatos sul-americanos e o Brasil, quase sempre, era
prejudicado de modo desleal, aviltante; porque a arbitragem deles era ruim,
tendenciosa e não se esforçava em nada para cumprir o papel conforme as regras.
Ora! Mas quando o assunto acontece no limite das quatro linhas nacionais... o
vexame é inevitável!
Primeiro, porque somos penta campeões mundiais de
futebol; o esporte por aqui se aprende ainda no berço. Temos lastro de
experiência para não permitir macular o espetáculo de forma tão grosseira, não
é mesmo? Além disso, estamos às portas de sediar uma Copa das Confederações, em
2013, e a Copa do Mundo, em 2014. Sim, eu sei que os árbitros que serão
selecionados pela Federação Internacional de Futebol (FIFA) passam por um
critério rígido de escolha; mas, de qualquer forma, a seleção de arbitragem
disponível anda “fazendo feio”.
Entre deslizes, errinhos, errões, absurdos, já há
quem sinalize a necessidade de mudanças urgentes na condução dos jogos,
incluindo a utilização do replay por parte da comissão arbitral durante a
partida, como acontece no tênis. Mas, só a tecnologia não me parece suficiente;
a formação e periódica requalificação dos árbitros necessita reformulação do
modelo vigente. As regras não parecem tão claras como deveriam ser, para a
maioria deles! A arbitragem sinaliza ares de amadorismo, embora o futebol nas
últimas décadas adquirisse contornos altamente profissionais, de empresas de
grande sucesso.
Bem, mas enquanto as mudanças não chegam, o vento
não sopra a favor do espetáculo, o torcedor padece. Quão poucas as
oportunidades de se sentir feliz na vida, de extravasar a euforia através da
simbologia contida no time do coração e alguém estraga a festa! Era o dia da
alegria, o ingresso comprado com dificuldade, a longa viagem de ônibus ou de
trem lotado até o estádio, o manto sagrado vestido com todo zelo, chuva e sol
disputando quem iria prevalecer nos noventa minutos, da confiança no time
aguerrido, enfim... Como um disco arranhado que fere a audição dos ouvintes, o
despreparo da arbitragem descompensa a emoção dos espectadores, mistura os
sentimentos, destempera as reações. E ninguém, no calor dos fatos, se importa
ou não com quaisquer justificativas!
Não se pode esquecer de que o futebol só existe
graças à paixão incontrolável dos seus torcedores! São eles que mantêm de pé a
engrenagem do esporte; compram camisas, ingressos, souvenires, bandeiras,
acompanham os jogos em outras cidades,... Mas esse tipo de “desrespeito” vai
minando, deteriorando a relação, minguando a credibilidade, até que se
pergunte: será que vale a pena torcer pelo futebol? Entre os profissionais
envolvidos, por mais seriedade e comprometimento que exista, também um
inevitável sopro de descrença começa a envolver os trabalhos e desenvolver a desmotivação;
afinal, tanto esforço, luta, concentração, suor, dor, para no fim das contas se
deparar com o anti-profissionalismo da arbitragem.
Chegou a hora de escolher se pretendemos continuar
realizando “apitagem” ao invés de “arbitragem”! Em 13º lugar no ranking da
FIFA, o futebol brasileiro não precisa de mais razões para nos incomodar. Ao
contrário disso, os problemas são bons indicadores do que há para ser
reorganizado, reestruturado, ou simplesmente, realizado pela primeira vez. O
esporte precisa acompanhar o desenvolvimento que acontece no mundo; a
tecnologia, a ciência, o treinamento, a logística,... muitos são os elementos
agregadores de qualidade que não podem mais ser negligenciados ou trabalhados
de forma desconectada.