segunda-feira, 7 de novembro de 2011

MPB e modesta homenagem a livro de Aldravias‏


Da música popular brasileira a aldravias

Pedro Franco

Ainda que agora muita música popular brasileira seja para pular (trocadilho infame e até porque trocadilhos estão fora de moda), a música popular do Brasil tem dado ótimos poetas, vide Chico Buarque, Tom, Vinicius e sem falar nos mais antigos, exemplo, entre mil outros, Orestes Barbosa, que tem frase em “Chão de estrelas”, que Manuel Bandeira gostaria ter escrito – “a lua furando nosso zinco, salpicava de estelas nosso chão”, cantada por Sylvio Caldas, também autor e com emoção. Pena que a música depois virou pão de ló de festa e cantada demais, deu-nos fastio. Falei do Chico, Chico poeta, não o romancista, e não posso deixar de lembrar “que um muro alto proibia” na inspiradíssima “Até pensei”. Ou “eu só teria a minha agonia para te oferecer”. (que time, Chico, Vinicius e Tom). Volto no tempo e pesco entre mil cocorocas e canhanhas de Benedito Lacerda e Jorge Faraj, “louco de amor no teu rastro, vagalume atrás de um astro...” Pena que não há mais amores loucos. São agora medidos, comedidos, antecipados, pensados, com até escrituras pré-matrimoniais. Era emocionante saber, não viver, confesso, amores tísicos, platônicos e desesperados. Amor era mais amor que a atual paixão, com conotações sexuais e com os Kama Sutra da vida. Não posso tocar o barco sem lembrar muitas músicas de Milton Nascimento (a voz brasileira mais privilegiada) com Fernando Brant, com seu “chutando podre e pedra” e “no sobe desce ladeira”. `Tá tudo aplanado e gritam agora, ´tá dominado, ´tá dominado, dominado, aplanado, em mesmice trágica radiofônica. Que se ouve de bom em música nas rádios atuais? Que? Ouço notícias e viva a CBN. E jogando fora ceticismos e espantando meus mofos vou citar frase de autor, que não se apresenta rotineiramente com músicas poéticas, Wando, mas que tem frase de que gosto. “Você é meu sim e nunca o meu não.” É de amor antigo a ideia. Como era bom quando havia pessoa que sempre era um sim para outra e nunca o não. Desde que houvesse reciprocidade, acrescento. Vão dizer que não havia reciprocidade nas relações (não me falem em discutir a relação – se acontece, já virou vinagre!), havia machismo, preponderância financeira, sociedade machista, inclusive acalentada por mães, enfim o feminino por baixo e sem alusões de outra espécie. Concordo com a hipocrisia, que os hipócritas dizem que é homenagem que o vício presta à virtude e haja véu hipócrita para encobrir tolices. E vou à exceção: se havia amor bilateral, igualdade, respeito humano, volto verdadeiro amor, amor de cama e mesa, em casa e na rua, havia o meu sim e nunca o meu não, bilateral. Termino com aldravia de minha autoria e enquanto tenho amigos que já compuseram mais de mil, fiz apenas cinco e olhe lá. O gênero está em moda e até cinco amigos juntaram-se em ótimo livro “Aldravias a Cinco Vozes” – Edir Meirelles, Juçara Valverde, Luiz Gondim, Marcia Barroca e Messody Benoliel). A ideia quimérica do Wando, talvez seja até machista e baseio-me para o julgamento em outras composições deste autor. Mas a aldravia abaixo prega apenas a união amorosa de duas pessoas. Oh coragem de um não poeta.

Você
Um
Eu
Um
Nós
um
* Texto encaminhado pelo amigo e grande poeta, Luiz Gondim.
  

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