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Por Alessandra Leles Rocha
Embora não tenha sido manifestado nada nesse sentido, mas podemos inferir que a escolha do dissidente chinês, Liu Xiaobo1, para o Prêmio Nobel da Paz deste ano, seja de fato uma tentativa de romper a terrível ideia imposta pelos países ditatoriais de viverem como “bolhas de isolamento”.
A aparente força e poder dos regimes autoritários esconde em si mesmos uma fragilidade latente. Ninguém contesta a importância das convicções na vida de um ser humano. Sim! É extremamente salutar pensar, refletir, defender seus próprios pontos de vista. Mas, para se alcançar esse nível de reflexão o individuo há de conviver e compartilhar com seus semelhantes o universo de ideias e conceitos que os rodeia, para daí então, chegar as suas próprias conclusões. O que acontece em países como a China, a Coreia do Norte e Cuba, por exemplo, é que todos os códigos e preceitos de comportamento social são definidos e impostos por uma cúpula governamental, ou seja, as decisões de como ser, agir e pensar vem de cima para baixo e quaisquer manifestações contrárias são consideradas subversivas, uma grave ameaça à ordem estabelecida e, por isso, deve ser reprimida a qualquer preço. Então, o controle e a manipulação coletiva impedem o pensamento e erguem muralhas de isolamento para que o desenvolvimento e o progresso naturais do mundo não venham abalar ou destruir seus fundamentos.
Para o radicalismo dessa ínfima parte da pirâmide que detém o poder, pouco importa as condições pelas quais irá sobreviver a grande massa da população. Silenciados e ignorantes pela ausência de informações reais do que acontece dentro e fora de suas fronteiras, vivem das migalhas que lhes são lançadas. A crença cega e absurda em que são capazes de resistir aos embargos econômicos e comerciais, às retaliações internacionais diante de investidas desastrosas de exibição de poderio bélico-nuclear, dilapida gradualmente as reservas orçamentárias e empurra a economia à índices de renda per capita muito baixos. Por isso, aos poucos sua intransigência diplomática vem sendo reavaliada em nome da necessidade de sobrevivência, da constatação óbvia de que não há estado autossuficiente. Inevitavelmente, sempre chega a hora de reconhecer que a ruptura com a Democracia em nome da “luta pela igualdade política e social” é o maior dos desastres que um governo pode cometer. Só a Democracia pode conduzir a essa igualdade, porque um Estado Democrático de Direito permite que a discussão das diferenças ideológicas se desenvolva no intuito de fortalecer a nação e impulsioná-la a destacar seus talentos nas mais diferentes áreas da sociedade, registrando sem sombra de dúvidas a marca de seu próprio poder.
Guerra e Paz convivem sobre uma linha tênue do ideário social do planeta, uma constante oposição de forças que se revezam na tentativa de demonstrar o valor da sua supremacia. O importante é que a todos os habitantes seja dada a manifestação livre de posicionamento em um desses lados. Uma liberdade consolidada através do ensino de qualidade – que vise estimular o desenvolvimento de uma consciência cidadã -, e dos direitos básicos de vida – moradia, alimentação, saúde, emprego, segurança – qualitativa e quantitativamente. Só assim a coexistência passará a respirar os ares da modernidade e as forças poderão se somar em prol da grande esfera, chamada Terra.
Liu Xiaobo, assim como Gandhi2 e Martin Luther King Jr.3, vem reforçar que somente através do diálogo, da manifestação pública das ideias é que a vitória do Bem sobre o Mal pode ser alcançada. Sem sangue derramado, sem bombas ou canhões, sem tiros, as pessoas podem tornar o mundo um lugar melhor para se viver; um lugar de fato livre, igualitário e fraterno.