Tudo está
às claras ...
Por Alessandra
Leles Rocha
É, o Brasil rasgou a fantasia! Tudo
está às claras; sobretudo, a sua fragilidade identitária nacional, se assim
podemos dizer. Bem, particularmente, apesar de passados pouco mais de 500 anos
de história, não consigo afirmar; sobretudo, diante dos últimos acontecimentos,
se algum dia tivemos consciência de quem somos enquanto nação.
A verdade é que o país tem sim,
se permitido reproduzir os velhos padrões da sua historicidade colonial. A sabujice
que se instalou no inconsciente coletivo nacional dá provas concretas disso.
Hastear bandeiras de outros países. Aceitar a ingerência internacional em
detrimento da soberania brasileira. Venerar autoridades estrangeiras. Afrontar abertamente
os nossos princípios e valores constitucionais. ... Nem adianta negar!
O fato de não termos consolidado
e nos apropriado da nossa identidade nacional, a qual significa apresentar um
senso compartilhado de identidade coletiva, fundamentado pelo sentimento de
pertencimento a uma nação, construído através de laços culturais, históricos,
linguísticos e sociais, tem sim, o peso da influência aristocrática brasileira.
Diante de suas regalias, privilégios e poderes, essas pessoas se apropriaram do
país de tal forma, que não era do seu interesse que as outras camadas da pirâmide
social desenvolvessem algum tipo de ambição por pertencimento.
Não é à toa, então, os motivos
que levaram a aristocracia brasileira contemporânea, em seus mais diversos
espectros, a apoiar e a financiar toda a complexa trama golpista que se
encontra sob julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Ou o fato de
existirem cidadãos brasileiros, inclusive, parlamentares em mandato, cometendo crime
de "lesa-pátria" a partir de território estrangeiro. Ou o episódio do
dia, em que parlamentares de oposição ocuparam mesas do Congresso nacional e
usaram esparadrapo na boca em protesto contra a prisão do ex-presidente da República,
que é réu na trama golpista, já citada. Se não diz tudo, diz muito!
Caro (a) leitor (a), isso é suco
concentrado da historicidade brasileira! Veja, a identidade nacional não é algo
fixo e imutável, mas sim um processo contínuo de construção social. Acontece que
no Brasil, essa dinâmica processual nunca esteve em discussão, por conta dos
interesses aristocráticos, os quais foram sendo repassados de geração em geração,
sem sustos ou sobressaltos. E a construção da identidade nacional envolve a
criação de um senso de pertencimento, por meio de elementos diversos, os quais são
influenciados pelas mudanças sociais, políticas e econômicas.
Haja vista, por exemplo, o fato
de que esse ano, o Brasil celebra os 30 anos do reconhecimento oficial da
existência de trabalho escravo contemporâneo no país; mas, em todo o território
nacional, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou mais de 2 mil
pessoas em condições de trabalho análogo à escravidão em 2024, e 66 mil ao
longo desses últimos 30 anos. Isso é consequência de uma história que, vem sendo
compartilhada, há séculos, excluindo eventos significativos, heróis e mitos,
moldando uma identidade nacional incompleta, enviesada e não efetivamente
representativa Tampouco, capaz de exercer a sua identidade nacional.
Sei que há muita gente chocada e
escandalizada, por aí, por conta das recentes expressões da anticidadania e da
antidemocracia brasileira. Bem, mas como é possível entender, esse não pode ser
considerado um arroubo contemporâneo! Basta uma pitada de atenção, aqui e ali,
para perceber como a anticidadania exerce um papel atuante no país, em pleno
século XXI. A falta de envolvimento ativo e responsável dos indivíduos na vida
política e social do país, é consequência de um silenciamento histórico, de uma
segregação identitária flagrante.
Razão pela qual o senso
antidemocrático emerge para reafirmar as atitudes, as práticas e os sistemas,
que se opõem ou rejeitam os princípios e valores da democracia, valendo-se, por
exemplo, da negação da participação popular, da restrição de liberdades
individuais e da busca por regimes autoritários ou não representativos. Daí a
fúria das aristocracias, no Brasil, especialmente, no que diz respeito aos seus
representantes político-partidários, em desrespeitar as leis e as normas
sociais vigentes.
Por essas e por outras, o cenário
não é lastimável apenas pelo fato de que o Brasil existe em tempo suficiente
para ter consolidado a sua identidade nacional; mas, porque se permite alimentar
a nova fome imperialista contemporânea. Não se constrange e nem se envergonha
por exercer a sabujice, o servilismo, a bajulação, a submissão, de maneira tão degradante.
Um sinal claro de que, para uns e outros, por aí, o ranço colonial não foi
superado! Ele ainda bate forte e sentimental!