O Brasil
que não gosta do Brasil
Por Alessandra
Leles Rocha
Os verdadeiros inimigos do país
não estão além de suas fronteiras. Eles estão aqui e fazem parte do espectro político-partidário
da Direita. O que inclui não somente os seus representantes; mas, financiadores
de campanha, apoiadores e simpatizantes. Portanto, gente que cultua, de maneira
cega e arraigada, o ranço colonialista que escreveu as páginas da historicidade
brasileira.
Segundo a imprensa nacional, “Estratégia
da oposição cria bomba fiscal para esvaziar aposta de Lula na isenção do IR”
1 , visando ameaçar o
projeto que isenta do imposto de renda todos os brasileiros com renda de até 5
mil reais mensais, ou seja, o que seria um alívio para 26 milhões de
contribuintes.
Durante os últimos anos, em
especial, tentou-se fazer incutir no inconsciente coletivo brasileiro, a título
de justificar a polarização político-partidária, a ideia do “antilulismo”, a
qual descreve a corrente de oposição e desaprovação ao Presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Uma estratégia de personificação do desagrado em reação às
políticas progressistas e de caráter social.
Acontece que esse desagrado não
tem absolutamente nada a ver com o rosto, a figura, desse ou daquele indivíduo.
O que eleva a ira do espectro político-partidário da Direita é a presença do
progressismo no país. Afinal, essa é uma corrente de pensamento que defende o
progresso social, político e econômico através de reformas, transformações e a
busca pela igualdade e os direitos humanos.
Algo que entra em choque direto
com todos os princípios e valores herdados dos tempos em que o Brasil foi Colônia
de Exploração. Eram tempos de um modelo de economia voltado exclusivamente para
a exportação, com a presença de grandes latifúndios alicerçados por monoculturas,
tais como a cana-de-açúcar e o café, e pela utilização de mão de obra
escravizada. O que limitou significativamente o desenvolvimento nacional e
perpetuou um ciclo de dependência econômica e desigualdade em relação às Metrópoles
europeias.
Portanto, as consequências sociais
desse modelo podem ser compreendidas pela reafirmação de uma desigualdade
social e econômica acentuada, presença de forte imobilismo social, a perda e a supressão
de culturas e identidades locais, a disseminação de doenças que causaram alta
mortalidade entre populações nativas, a imposição de estruturas socioeconômicas
alienígenas, ou seja, estranhas, bizarras e opressoras para a maioria da
população, a marginalização de grupos sociais e de gênero, e a perpetuação da
violência através da escravidão e do trabalho forçado. E é dentro desse
contexto, que o Brasil vem transitando ao longo dos seus pouco mais de 500 anos.
Daí a dificuldade das elites
brasileiras, o topo da pirâmide social, em aceitar os ventos do progresso. Essa
gente quer manter tudo como sempre esteve. Quer permanecer defendendo a
preservação de instituições sociais, valores, costumes e tradições, o que se
traduz, por exemplo, pela naturalização da desigualdade, da resistência às
mudanças sociais, do aprofundamento da exploração, da defesa de suas regalias e
privilégios, e da propagação de preconceitos e discursos de ódio.
Algo que não passa mais
despercebido de nenhuma viva alma, considerando-se o fato de que, há um certo
tempo, perderam totalmente o pudor quanto à ruidosa legitimação da sua
hegemonia, enquanto classe dominante; bem como, pelos recorrentes episódios de
desmantelamento dos sistemas de proteção social, resultando em crises sociais e
econômicas e na repressão dos direitos humanos.
Portanto, há sim, uma parte do
Brasil que não gosta do Brasil! Que não compreende o país como unidade,
totalidade, coletividade. Que resiste bravamente a qualquer possibilidade de
avanço do progresso, dificultando a construção de uma sociedade mais justa e
igualitária, limitando o desenvolvimento das pessoas e das comunidades, apenas
para atender ao seu desejo de manter os padrões sociais, políticos e econômicos
arcaicos, os quais se acostumou a desfrutar.
Acontece que essa parte do Brasil
que não gosta do Brasil tem em sua composição elementos representativos,
apontados pelo voto democrático. O que significa uma escolha do cidadão. E escolhas
podem ser revistas, repensadas, não é mesmo? Ter um representante que não cumpre
o papel de defender os interesses de boa parte do seu eleitorado não faz nenhum
sentido.
Por isso, como disse George
Bernard Shaw, dramaturgo, romancista irlandês e Prêmio Nobel de Literatura, em
1925, “O progresso é impossível sem mudança; e aqueles que não conseguem
mudar as suas mentes não conseguem mudar nada”.