segunda-feira, 25 de agosto de 2025

O Brasil que não gosta do Brasil


O Brasil que não gosta do Brasil

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Os verdadeiros inimigos do país não estão além de suas fronteiras. Eles estão aqui e fazem parte do espectro político-partidário da Direita. O que inclui não somente os seus representantes; mas, financiadores de campanha, apoiadores e simpatizantes. Portanto, gente que cultua, de maneira cega e arraigada, o ranço colonialista que escreveu as páginas da historicidade brasileira.

Segundo a imprensa nacional, “Estratégia da oposição cria bomba fiscal para esvaziar aposta de Lula na isenção do IR” 1 , visando ameaçar o projeto que isenta do imposto de renda todos os brasileiros com renda de até 5 mil reais mensais, ou seja, o que seria um alívio para 26 milhões de contribuintes.

Durante os últimos anos, em especial, tentou-se fazer incutir no inconsciente coletivo brasileiro, a título de justificar a polarização político-partidária, a ideia do “antilulismo”, a qual descreve a corrente de oposição e desaprovação ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma estratégia de personificação do desagrado em reação às políticas progressistas e de caráter social.    

Acontece que esse desagrado não tem absolutamente nada a ver com o rosto, a figura, desse ou daquele indivíduo. O que eleva a ira do espectro político-partidário da Direita é a presença do progressismo no país. Afinal, essa é uma corrente de pensamento que defende o progresso social, político e econômico através de reformas, transformações e a busca pela igualdade e os direitos humanos.

Algo que entra em choque direto com todos os princípios e valores herdados dos tempos em que o Brasil foi Colônia de Exploração. Eram tempos de um modelo de economia voltado exclusivamente para a exportação, com a presença de grandes latifúndios alicerçados por monoculturas, tais como a cana-de-açúcar e o café, e pela utilização de mão de obra escravizada. O que limitou significativamente o desenvolvimento nacional e perpetuou um ciclo de dependência econômica e desigualdade em relação às Metrópoles europeias.

Portanto, as consequências sociais desse modelo podem ser compreendidas pela reafirmação de uma desigualdade social e econômica acentuada, presença de forte imobilismo social, a perda e a supressão de culturas e identidades locais, a disseminação de doenças que causaram alta mortalidade entre populações nativas, a imposição de estruturas socioeconômicas alienígenas, ou seja, estranhas, bizarras e opressoras para a maioria da população, a marginalização de grupos sociais e de gênero, e a perpetuação da violência através da escravidão e do trabalho forçado. E é dentro desse contexto, que o Brasil vem transitando ao longo dos seus pouco mais de 500 anos.

Daí a dificuldade das elites brasileiras, o topo da pirâmide social, em aceitar os ventos do progresso. Essa gente quer manter tudo como sempre esteve. Quer permanecer defendendo a preservação de instituições sociais, valores, costumes e tradições, o que se traduz, por exemplo, pela naturalização da desigualdade, da resistência às mudanças sociais, do aprofundamento da exploração, da defesa de suas regalias e privilégios, e da propagação de preconceitos e discursos de ódio.

Algo que não passa mais despercebido de nenhuma viva alma, considerando-se o fato de que, há um certo tempo, perderam totalmente o pudor quanto à ruidosa legitimação da sua hegemonia, enquanto classe dominante; bem como, pelos recorrentes episódios de desmantelamento dos sistemas de proteção social, resultando em crises sociais e econômicas e na repressão dos direitos humanos.

Portanto, há sim, uma parte do Brasil que não gosta do Brasil! Que não compreende o país como unidade, totalidade, coletividade. Que resiste bravamente a qualquer possibilidade de avanço do progresso, dificultando a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, limitando o desenvolvimento das pessoas e das comunidades, apenas para atender ao seu desejo de manter os padrões sociais, políticos e econômicos arcaicos, os quais se acostumou a desfrutar.

Acontece que essa parte do Brasil que não gosta do Brasil tem em sua composição elementos representativos, apontados pelo voto democrático. O que significa uma escolha do cidadão. E escolhas podem ser revistas, repensadas, não é mesmo? Ter um representante que não cumpre o papel de defender os interesses de boa parte do seu eleitorado não faz nenhum sentido.

Por isso, como disse George Bernard Shaw, dramaturgo, romancista irlandês e Prêmio Nobel de Literatura, em 1925, “O progresso é impossível sem mudança; e aqueles que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada”.