Nem tudo
é o que parece ...
Por Alessandra
Leles Rocha
Sim, a história repete seus
ciclos ou, pelo menos, tenta. Afinal de contas, nesse sentido, o tempo é uma
variável imperiosa e que não pode ser desconsiderada, sob nenhuma hipótese. Ainda
que à revelia de uns e outros, por aí, o mundo gira, rodopia, dá voltas e mais
voltas, o que significa que se permite transformar, metamorfosear. Por mais que
a resistência egóica que acompanha o ser humano insista em negar.
Feita essa breve consideração, olhemos
para os recentes acontecimentos, no teatro da geopolítica global. Não há acaso
em política, do mesmo modo que não há na vida. A presença estadunidense como
interlocutora para o fim da guerra na Ucrânia, começou pelo interesse envolvendo
a exploração de minerais raros em troca de apoio militar e segurança. Considerando
que a Ucrânia possui grandes reservas desses minerais. Assim, a ideia era
estabelecer uma exploração conjunta de recursos minerais estratégicos, tais como
o lítio e o titânio, cruciais para a indústria de tecnologia e de baterias.
Mas, como costumam dizer, por aí,
“faltou combinar com os russos”! O recente encontro, entre EUA e Rússia,
ocorrido no Alasca, parece ter frustrado essas expectativas. Acontece que as reservas
desses minerais em solo ucraniano estão presentes principalmente no leste e sul
do país, o que inclui áreas atualmente sob controle russo. Daí o governo de
Moscou não parecer interessado em abrir mão da sua ocupação naquele país, pois
a exploração desses recursos é de grande interesse geopolítico. Sem contar que
a Rússia e a China, pertencentes ao bloco dos BRICS, também, desfrutam de uma
parceria pragmática que envolve interesses econômicos e de segurança.
E a questão dos tais minerais
raros é um assunto que gera disputa entre China e Estados Unidos, na medida em
que os estadunidenses buscam reduzir sua dependência dos chineses em relação a
esses minerais estratégicos, os quais são cruciais para tecnologias como
eletrônicos, veículos elétricos e sistemas de defesa. O que torna uma posição
similar sobre o Ocidente e o futuro da ordem mundial, entre chineses e russos,
um motivo a mais de aliança entre as duas potências, aprofundando a decepção estadunidense.
Tanto que, rapidamente, os EUA postou-se menos entusiasmado na interlocução pelo
fim da guerra na Ucrânia.
Contudo, seu plano B, parece ser
intensificar as ações intimidadoras e beligerantes na América Latina; posto
que, enviou destroieres para perto da Venezuela, sob o pretexto de que o regime
venezuelano é um cartel de drogas terrorista. Bem, narcotráfico não combina com
terrorismo. Envolvido com a produção, a distribuição e o consumo de substâncias
ilícitas, narcotraficantes estabelecem suas relações de poder de uma maneira,
geralmente, camuflada em relação a atenção das autoridades. Já o terrorismo é
visto como um fenômeno social que vai além da violência física, envolvendo
aspectos como motivação, comunicação, normas sociais e percepções públicas.
Terroristas fazem questão da visibilidade, da comunicação e da propaganda não
só para recrutar novos membros quanto para disseminar medo e influenciar a
opinião pública.
Mas, observando atentamente o
movimento belicoso dos EUA na região venezuelana, a intenção parece ser
reafirmar, diante do mundo, seu poder sobre sua antiga área de influência, ou
seja, a América Latina. Os antigos ventos da Guerra Fria, quando os EUA e a
URSS exerciam sua influência de natureza política, econômica, militar e/ou
cultural, mediante a aceitação, por parte dos estados menores, de sua posição
subordinada em relação a eles. Acontece que, o mundo do século XXI, é outro. A
China vem exercendo uma influência crescente no Sul Global, ou seja, países em
desenvolvimento e ex-colônias, especialmente na Ásia, África e América Latina. Portanto,
essa influência multifacetada, envolvendo aspectos econômicos, políticos e
culturais, tem implicações significativas para a ordem mundial e as relações
internacionais, que afetam os interesses dos EUA e rompem com a ilusão de que a
América Latina, por exemplo, ainda faça parte do “quintal estadunidense”.
O tabuleiro geopolítico contemporâneo está, portanto, sob uma outra dinâmica. Intimidações, sanções, beligerâncias, ... não parecem ter o efeito prático ideal, como acontecia antigamente. O mundo do século XXI traz à tona uma reconfiguração das relações de poder no cenário internacional, o que permite criar outras dinâmicas e alianças. Tanto que o bloco dos BRICS, formado por onze países membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, vem buscando fortalecer a cooperação econômica, política e social entre seus membros, promovendo um aumento da sua influência na governança internacional; bem como, visando impulsionar o desenvolvimento socioeconômico sustentável e promover a inclusão social.