sexta-feira, 27 de junho de 2025

O melancólico fim dos “Salvadores da Pátria” diante da contemporaneidade


O melancólico fim dos “Salvadores da Pátria” diante da contemporaneidade

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Há um provérbio que diz, “há males que vêm para o bem”! Verdade. A derrubada, pelo Congresso Nacional, do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), ao menos em tese, deveria expandir nossas fronteiras reflexivas. Afinal de contas, por trás de todo o ranço colonial que vigora no país, incluindo os espaços de poder, há muito mais a ser analisado e discutido.

Para início de conversa, cada cidadão brasileiro deveria fazer um "mea culpa", pela teimosia em insistir na dissociação da realidade. Ora, o tempo foi, é e sempre será fluido, portanto, passível de sofrer inúmeras transformações e rearranjos. De modo que a historicidade cotidiana não permanece a mesma. Não há como.

Sei que costumo tecer muitas considerações sobre a contemporaneidade; mas, faço isso, justamente, pela importância que esse recorte temporal vem exercendo sobre a humanidade, em diferentes aspectos.  Afinal de contas, ele começa na Revolução Francesa (1789) e continua até os dias de hoje. De modo que podemos percebê-lo mais concretamente em razão das grandes transformações sociais, políticas e tecnológicas, incluindo o desenvolvimento do capitalismo, da industrialização e da globalização.

Assim, a realidade brasileira até o início do século XXI nem de longe é a mesma duas décadas depois. As mudanças trazidas pela Revolução Industrial 4.0, tais como a inteligência artificial, a internet das coisas (IoT) e a robótica na produção e em diversos setores, reformulou as relações no mais profundo da estrutura socioeconômica.

Passamos a conviver com a ingerência maciça das redes sociais na dinâmica cotidiana. A precarização do trabalho se acentuou, em razão da tecnologização, ou seja, da utilização e integração tecnológica com o propósito de otimizar processos, melhorar a eficiência e promover inovações. Algo que resultou na aceleração do empobrecimento social; sobretudo, pelo desaparecimento de inúmeras frentes de trabalho.

Acontece que isso não é pouco. Trata-se de mudanças ocorridas em um curto espaço de tempo, de poucas décadas, e de maneira brutal, não oportunizando, à uma imensa parcela da sociedade, uma preparação ideal. Sim, fomos pegos de calças curtas! O que não é de se espantar dada a genuína incapacidade nacional de acompanhar com atenção o que acontece no mundo, além das suas fronteiras. Como se o modelo colonial, ainda em curso, tornasse os assuntos presentes na realidade contemporânea desimportantes.

Mas esse descaso, essa negligência voluntária, não deixam de marcar suas consequências. E a pior delas diz respeito ao sentimento de incerteza, de instabilidade, em relação ao amanhã. Qualquer um que esteja abaixo do topo da pirâmide social brasileira não tem como negar os fatos. As próximas décadas do século XXI tendem a ser cada vez mais desafiadoras, do ponto de vista socioeconômico, em razão das contínuas transformações impostas pelo desenvolvimento científico e tecnológico.

Bem, e se a população brasileira não estava preparada para a nova face da realidade contemporânea, é importante que os gestores públicos e seus asseclas prestem bastante atenção. Para agravar, um bocadinho mais a situação, não se pode esquecer que o mundo está envelhecendo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o “Número de pessoas com mais de 65 anos deve dobrar até 2050, chegando a 1,6 bilhão; expectativa média de vida também vem subindo; estudo do Departamento para Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas alerta para a necessidade de investimentos e políticas públicas para atender demandas de um mundo em envelhecimento” 1. Portanto, um contingente populacional que transitará à margem das futuras revoluções industriais, já em curso.  

É nesse sentido, que as discussões em torno das desigualdades socioeconômicas, especialmente, no que diz respeito à distribuição de renda, não é desproporcional e, nem tampouco, absurda. Dados do Relatório Mundial Social de 2025, divulgado pelas Nações Unidas, “revela que mais de 690 milhões de pessoas vivem atualmente em pobreza extrema, sobrevivendo com menos de US$ 2,15 por dia. Além disso, cerca de 2,8 bilhões, mais de um terço da população mundial, vivem com rendas entre US$ 2,15 e US$ 6,85 por dia, o que as torna extremamente vulneráveis a qualquer choque externo, como uma crise econômica ou desastre natural” 2.

E mesmo “Viver com mais de US$ 6,85 por dia não garante segurança econômica. A maioria dos trabalhadores em países de rendas baixa e média está inserida no setor informal, sem garantias de salário justo, proteção social ou estabilidade. Em muitos casos, os trabalhadores permanecem nesse tipo de emprego ao longo de toda vida”.

Enquanto isso, o mesmo relatório mostra que “Desde 1990, a desigualdade de renda aumentou em muitos países, incluindo os mais populosos do mundo, que são China e Índia. Atualmente, os países onde a desigualdade cresceu concentram dois terços da população mundial”. Sem contar que “os 1% mais ricos detêm mais riqueza do que 95% da humanidade”.

Em linhas gerais, isso significa que “A concentração de renda está diretamente ligada à instabilidade social e à erosão da confiança pública”. Aos olhos da população economicamente ativa (PEA), ou seja, a parcela da população de um país que tem idade para trabalhar e está empregada ou procurando emprego, o cenário contemporâneo parece reafirmar uma total insegurança econômica, uma desigualdade persistente e um colapso da confiança social, principalmente, na classe política.

Daí não se poder subestimar e/ou negligenciar o papel das redes sociais, no agravamento desse fenômeno. Apesar do seu potencial de conexão e informação, elas também têm sido palco de desinformação, discurso de ódio e polarização política, comprometendo não só o exercício consciente da cidadania; mas, de uma busca coletiva para o enfrentamento desses grandes desafios globais.

Além disso, em paralelo a todos esses movimentos e acontecimentos, no caso brasileiro, não se pode esquecer de analisar o papel do Legislativo Federal, a partir do início do século XXI. A mesma postura tomada pelo Congresso Nacional, recentemente, em relação ao IOF, trouxe prejuízos imensos à população brasileira, em inúmeras outras vezes, ao longo desse período, e sequer foram devidamente publicizadas.

É preciso frear os impulsos em dissociar a realidade! Gostem ou não, o Brasil está diante do melancólico fim dos “Salvadores da Pátria”, imposto pelas conjunturas contemporâneas. Desse modo, dissociar os fatos em nome de reduzir o desconforto, em relação a uma série de comportamentos inconsistentes e incoerentes, sustentados por crenças e valores distorcidos e equivocados, torna-se uma ameaça, uma verdadeira temeridade à sobrevivência social.  Não adianta fugir, se esconder, desconversar; pois, a realidade atual exige responsabilidade e bom senso, tanto individual quanto coletivo.


Já dizia o Velho Guerreiro, o Chacrinha, "Quem não se comunica se trumbica"!

Já dizia o Velho Guerreiro, o Chacrinha, "Quem não se comunica se trumbica"!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Nada acontece ao acaso. Em 2023, ainda no início do atual governo, “o Congresso nacional aprovou a medida provisória 1.154/2003, que reestruturou os ministérios, impondo uma organização contrária ao previsto pelo Executivo, numa clara exibição de interferência de um Poder em outro. O que gerou profundo desagrado dentro de certos setores da República; mas, particularmente, em uma parcela significativa da opinião pública nacional e estrangeira.  Afinal, esse tipo de ingerência respaldada pela mais absoluta falta de critério técnico e necessidade, se visibiliza no ato das escolhas” 1.

Ali, contrariando o recorrente mimimi, congressista, a respeito da interferência de um Poder em outro, dados os inúmeros casos em que o Judiciário é chamado a arbitrar e decidir sobre assuntos que já poderiam ter sido resolvidos, não fosse a morosidade e o descaso legislativo, eles próprios ultrapassaram os limites. O problema é que nada foi feito a respeito, naquela ocasião. Abrindo-se, portanto, um precedente extremamente perigoso, que, agora, chega pela derrubada do decreto governamental relativo ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Vejam, “aceitar o fisiologismo como mal necessário para a governabilidade brasileira é reafirmar a noção conformista e resignada de que não há outros caminhos. É curiosa a rendição do governo, nesse contexto, na medida em que parece tornar os votos de algumas bancadas político-partidárias do Congresso Nacional mais importantes do que os votos dos seus próprios eleitores. Jogo arriscado; pois, brincar à beira de um poço sem fundo pode ser fatal!” 2.

Depois de tudo o que já se sabe a respeito da tentativa de Golpe de Estado recente, é inconcebível que o Executivo federal não venha colocar os pingos nos is, como se deve. Vamos e convenhamos que o conhecimento a respeito do papel de cada um dos Poderes da República, por uma imensa maioria da população, ainda é vago e enviesado. Daí tantas Fake News, tantas mentiras, tantas distorções, têm sido usadas para permanecer sustentando as narrativas que visam fragilizar e comprometer a governabilidade, as quais não encontram resistência do contraditório, por parte do atual governo.

Tamanha passividade não leva o governo a lugar algum! O diálogo só existe quando há uma disposição por parte de todos os interlocutores. Assim, esgotada essa estratégia diplomática, é hora de usar todos os veículos de comunicação e de informação para trazer ao conhecimento público, o que realmente vem acontecendo nos bastidores do poder. Sim, é hora de colocar os eleitores governistas no jogo, conclamar o seu apoio e exigir que exerçam a sua cidadania, além do voto.

Queiram ou não admitir, o Brasil vive um momento histórico! Velhas pendências começam a ser resolvidas. Velhos paradigmas começam a ser reescritos. O baú das verdades indigestas foi aberto. Por isso, a oposição no Congresso Nacional está tecendo um golpe sutil. Isso significa que estão tentando enfraquecer o governo, retirar-lhe poder e recursos, para extinguir suas possibilidades de vitória no pleito de 2026. Aliás, estão atentando contra a escolha dos 59.563.912 eleitores (50,83% dos votos válidos), que elegeram o atual Presidente da República. Querem ver essas pessoas desapontadas, decepcionadas, pela impossibilidade de o governo eleito realizar a sua plataforma de governo.

Portanto, é hora de virar o jogo. Como diz a expressão popular, "dar nome aos bois", explicando de carreirinha, em bom português, o que estão fazendo contra o Brasil, contra a grande massa da população. Mais do que atentar contra a Democracia, as Instituições, a grande maioria do Congresso Nacional está atentando contra os seus próprios eleitores, quando trabalha em favor de manter o país sob as botas das elites, como era no tempo colonial. Trabalhando para que a Constituição Federal, a Constituição Cidadã, seja, cada vez mais, um ideário distante da prática, para que as leis só possam atender aos direitos daqueles que detêm historicamente o poder e o capital, nesse país.


quinta-feira, 26 de junho de 2025

Qual o motivo do espanto, da perplexidade?


Qual o motivo do espanto, da perplexidade?

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Qual o motivo do espanto, da perplexidade? Não é a primeira e, certamente, não será a última vez, que parte da representatividade político-partidária nacional se despe da ética, da moral e do compromisso constitucional, para trair a pátria. Vamos, lá! Vamos fazer uma breve retrospectiva dos acontecimentos. Lembrando que não há acasos e nem coincidências na historicidade brasileira.

Dada a sua gênese colonial, as forças do poder concentradas, ao longo de pouco mais de 500 anos, nas mãos de uma ínfima minoria, é desde sempre refratária a quaisquer movimentos que busquem uma transformação social por meio de reformas e avanços, geralmente em áreas como direitos humanos, igualdade social e justiça. Bem, mas é nas mãos dessa gente que, também, se concentram os poderes político-partidários.

Portanto, a verdade é que essa gente não se sente representante de quem não pertença ao seu nicho social. O que significa que eles não se veem obrigados ou compromissados a trabalhar em favor das camadas que os sustentam na pirâmide social.  Pelo contrário, eles estão sempre a postos para defender os seus interesses e os daqueles que lhes são apoiadores, financiadores e simpatizantes. Afinal, eles não estão dispostos a incorrer em aventuras que sinalizem uma   transformação social, no país.

Daí a fúria, a indignação, o inconformismo, sob diferentes formas e conteúdos, que essa gente tem apresentado para retomar as rédeas do Brasil, em suas mãos; bem como, banir, a qualquer preço, a presença física e ideológica das correntes progressistas, no país. Haja vista a arquitetura de um processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff. A prisão do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para impossibilitá-lo de concorrer às eleições de 2018. As maquinações engendradas para desqualificar o sistema eleitoral brasileiro, a partir de 2019. E a configuração de inúmeros atos antidemocráticos, que culminaram na depredação das sedes dos Poderes, em Brasília, no 08 de janeiro de 2023.

Acontece que o resultado dessa empreitada não foi o esperado. Apesar de todos os pesares, o progressismo retornou ao poder. Antevendo essa possibilidade, mesmo valendo-se de todo o uso da máquina pública para garantir que o resultado das urnas, em 2022, os favorecesse, eles trabalharam arduamente no desmantelamento da organização institucional, do país.

Não bastasse a imposição de um modelo político-administrativo com plena ênfase no livre mercado, na intervenção mínima estatal, na desregulamentação, na privatização, na austeridade fiscal, ainda que em detrimento do bem-estar social, a gestão federal entre 2019 e 2022, deixou um campo minado para o governo posterior.

Aliás, eu trouxe esse assunto em textos como, “Até o apagar das luzes...” 1, “Orçamento federal para 2023. Reminiscências do Beija-Mão.” 2 e “Promessas, prioridades, necessidades... O impasse da LDO/2023” 3.

Portanto, basta de ingenuidade! A historicidade humana não deixa dúvidas sobre o quanto as relações sociais são atravessadas e manipuladas pela força do poder econômico. Assim, considerando o fato de que um governo progressista foca em questões como, por exemplo, a eliminação da pobreza, da discriminação e do acesso aos serviços básicos, minar sob diferentes aspectos a economia é uma estratégia de fragilização e obstaculização para o engessamento das pautas governamentais.

Clara e objetivamente, a decisão do presidente da Câmara dos Deputados em pautar e colocar em votação, na calada da noite, de forma inesperada, o projeto que derruba o decreto do governo federal sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) 4, é só mais um estratagema de reapropriação do poder pelos herdeiros históricos do topo da pirâmide social.

Trata-se de uma atitude que não é menos ruim ou grave do que a barbárie do 08 de janeiro de 2023, na medida em que tem como pano de fundo, o mesmo objetivo, ou seja, demonstrar aos quatro cantos do país a sua fúria, a sua indignação, o seu inconformismo, diante de quaisquer iniciativas que teimem em alterar o seu status quo. Eles e seus apoiadores, financiadores e simpatizantes não desejam um país diferente do que herdaram de suas ascendências.  

Bem, e se há fúria, indignação e inconformismo, pode-se esperar novos movimentos contra o governo. De modo que é preciso trazer à tona, à luz da população, de maneira didática, o que está acontecendo no país e o que pode vir a acontecer. As pressões e tensões, para impedir que o Brasil construa uma sociedade mais justa e equitativa, estão cada vez mais acirradas. É fundamental que a população entenda a dimensão das perdas que isso representa para ela, no seu dia a dia, antes que ela descubra da pior forma.

Não nos esqueçamos das palavras de Bertolt Brecht, quando diz que “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.

domingo, 22 de junho de 2025

O mundo. Seus pedaços. Seus remendos.


O mundo. Seus pedaços. Seus remendos.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não, não adianta negar. Fugir. Se esconder. Desconversar. O cenário atual do mundo, repleto de guerras e conflitos, não deixa dúvidas quanto a um processo de desdemocratização global. Em linhas gerais, isso significa que as correntes de poder, lideradas principalmente pela ultradireita, estão imbuídas em trabalhar a favor da redução de direitos, liberdades e participação popular.

Guerras e conflitos são um prato cheio para essa ideia. Afinal, eles estabelecem um cenário bastante favorável à submissão e ao desalento, por parte de todos aqueles que se encontram abaixo das linhas de poder. Não é à toa que a beligerância vem explodindo de um lugar para outro, sem trégua, sem limites, sem razão.

Na verdade, esse é um processo contextualizado pelas idas e vindas dos ciclos colonizatórios e imperialistas, os quais a historicidade tem muito a revelar. O que importa, diante da conjuntura atual, é entender as razões que levam certos grupos a lançarem mão da desdemocratização como estratagema de manutenção e preservação de poder.

O grande passo dado pela humanidade com a Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII, fracassou nas suas promessas. A começar pelo fato, por exemplo, de que a autorregulação do mercado, sem intervenção estatal, não foi capaz de garantir o bem-estar social. Além disso, os custos sociais e ambientais das atividades econômicas, como poluição e degradação ambiental, mostraram-se inúteis e desproporcionais diante de recursos naturais finitos, os quais a qualquer momento podem causar a paralização dos processos. Assim, busca-se com a deflagração de um estado de beligerância global promover um elevado tensionamento social que submeta a população aos ordenamentos impostos pelas forças de poder.

Algo já conhecido historicamente nos tempos coloniais e/ou imperialistas. Acontece que nesse tipo de geopolítica, em pleno curso, na contemporaneidade, há uma nova sistemática de apropriação indevida do espaço geográfico e, portanto, um rearranjo das fronteiras e limites territoriais, à revelia da soberania dos países. De modo que os ciclos exploratórios, sob diferentes formas e conteúdos, acontece alheia aos parâmetros jurídicos, inclusive, do direito internacional. Essa grave violação de direitos, geralmente através da força militar e com a perda de autonomia da região colonizada, ameaça populações inteiras, no que diz respeito à sua identidade e patrimônio nacional.    

Sem contar que, dentro desse contexto, o papel da desdemocratização busca enfraquecer as instituições locais, estabelecer leis que enfraquecem, de diferentes maneiras, o exercício cidadão, acirrar a desigualdade social e econômica, usar a máquina estatal em favor dos seus interesses privados, e, por fim, causar a erosão completa do Estado de Direito a fim de que as leis existentes sejam aplicadas de forma seletiva ou não sejam respeitadas.

É isso o que está acontecendo no mundo, em pleno século XXI. Para garantir que os processos industriais permaneçam, por mais algum tempo, viáveis e que a acumulação de capitais esteja dentro dos parâmetros esperados pelas elites do poder, esse é o preço que está sendo cobrado da humanidade. Haja vista a escalada de violência e de práxis autoritárias, que vem sendo empregada nas guerras e conflitos, em curso.

Bem, dizia Agustina Bessa-Luís, escritora portuguesa, “As guerras não surgem por motivos econômicos ou passionais. É uma atitude de indivíduos abandonados à razão, incluindo a razão do seu mundo interior isolada do mundo exterior”. Mas, seja por qual motivo for, a única verdade é que “Ninguém ganhou a última guerra nem ninguém ganhará a próxima” (Eleanor Roosevelt - Ex-primeira-dama dos Estados Unidos).

Afinal, “Não é a paz que lhe interessa. Eles se preocupam é com a ordem, o regime desse mundo. (...) O problema deles é manter a ordem que lhes faz serem patrões. Essa ordem é uma doença em nossa história” (Mia Couto - O Último Voo do Flamingo, 2000). Por essa razão, “Sorte a dos que, deixando de ser humanos, se tornam feras. Infelizes os que matam a mando de outros e mais infelizes ainda os que matam sem ser a mando de ninguém. Desgraçados, enfim, os que, depois de matar, se olham ao espelho e ainda acreditam serem pessoas” (Mia Couto - Mulheres de Cinza, 2015).


DOE SANGUE. VOCÊ PODE.

Saiba mais em

sábado, 21 de junho de 2025

Para cada criança no mundo ...

“A infância não é um tempo, não é uma idade, uma coleção de memórias. A infância é quando ainda não é demasiado tarde. É quando estamos disponíveis para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar. A infância é uma janela que, fechada ou aberta, permanece viva dentro de nós”.

(Mia Couto. Tradutor de chuvas. Portugal: Ed Caminho, 2015.)

20 de junho - Dia Mundial do Refugiado


Todos os anos, em 20 de junho, o mundo honra a força e a coragem das pessoas que foram forçadas a deixar seu país de origem em função de conflitos, perseguições e violações de seus direitos. A data reforça a necessidade de seguir defendendo o direito delas de buscar proteção e de serem devidamente incluídas no país de acolhida.

Saiba mais em

https://www.acnur.org/br/dia-mundial-do-refugiado


quinta-feira, 19 de junho de 2025

Documentário: "REY, ciência em defesa da vida"


Ele foi para a Amazônia como médico. Levou jovens para conhecer a realidade do país. Foi proibido de ensinar e pesquisar pelo regime militar. Combateu as doenças da pobreza em diversos países. Orientou e formou dezenas de alunos. Escreveu livros. 'Rey, ciência em defesa da vida' é um documentário sobre o legado de um brasileiro. Realização: Instituto Oswaldo Cruz / Fiocruz Apoio: Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde / Fiocruz Ano da produção: 2018 Distribuição: VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz e Editora Fiocruz

Cientistas fazem apelo para uma resposta coordenada e sistêmica visando a proteção de crianças expostas a agrotóxicos

Em artigo de discussão recém-publicado na revista STOTEN (Science of The Total Environment, Volume 990), o professor Rafael Buralli, do Departamento de Política, Gestão e Saúde da FSP-USP, lidera um time internacional de autores em um importante e urgente chamado à ação, envolvendo a vigilância e a proteção à saúde de crianças expostas a agrotóxicos em áreas rurais de países com menor renda. [...]

Saiba mais e leia o artigo na íntegra em

https://www.fsp.usp.br/site/noticias/mostra/61692

14 de junho - Dia Mundial do Doador de Sangue 2025

Todos os anos, em 14 de junho, o mundo celebra o Dia Mundial do Doador de Sangue para agradecer aos doadores voluntários e não remunerados por suas contribuições que salvam vidas e para conscientizar sobre a necessidade contínua de doar sangue regularmente para garantir a qualidade, a segurança e a disponibilidade de sangue e hemoderivados para as pessoas que necessitam.

As transfusões de sangue são essenciais:

¨para mulheres que sofrem hemorragias durante a gravidez e o parto;

¨para crianças que sofrem de anemia grave devido à desnutrição ou por causa da malária;

¨permitem realizar procedimentos médicos e cirúrgicos complexos e melhoram as taxas de sobrevivência e a qualidade de vida de muitos pacientes;

¨para pessoas que necessitam de tratamentos periódicos ou contínuos, como aquelas com anemia falciforme, talassemia, hemofilia ou imunodeficiências; e

¨em situações de emergência para atender as pessoas feridas em desastres naturais, acidentes e conflitos armados.

Lema da campanha deste ano

O lema da campanha deste ano é: "Doe sangue, doe esperança: juntos, salvamos vidas".

Esta mensagem destaca a capacidade dos doadores de sangue de levar vida a quem precisa. O objetivo é conscientizar a população de que vidas podem ser salvas pelo simples ato de doar sangue. A campanha apresentará histórias de pessoas que sobreviveram graças a doações, publicará depoimentos de doadores, incentivará doadores regulares a manterem seu compromisso e motivará pessoas saudáveis, especialmente jovens adultos, a doar sangue pela primeira vez.  

Para promover o tema do Dia Mundial do Doador de Sangue, podem ser organizadas atividades como eventos comemorativos, encontros e workshops, cerimônias de agradecimento aos doadores, campanhas nas redes sociais, programas especiais nos meios de comunicação, apresentações musicais e artísticas em homenagem aos doadores de sangue e publicações de experiências relevantes, entre outras iniciativas. 

Os objetivos da campanha deste ano são:

¨Sensibilizar a opinião pública sobre a necessidade de doar sangue e plasma para cuidar da saúde das pessoas.

¨Convencer pessoas a doarem sangue regularmente, ajudando a manter reservas estáveis ​​e suficientes.

¨Destacar o impacto positivo da doação de sangue na saúde e no bem-estar de outras pessoas e promover a solidariedade, a compaixão e o espírito comunitário por meio deste ato.

¨Obter o apoio de governos e parceiros para o desenvolvimento a fim de investir na criação e manutenção de programas nacionais de doação de sangue que permitam realizar transfusões seguras em todo o mundo.

Fonte: https://www.paho.org/pt/campanhas/dia-mundial-do-doador-sangue-2025# 

terça-feira, 17 de junho de 2025

Resex Chico Mendes: Um legado de luta pelas florestas.


Em 1985, Chico Mendes fundou, junto com outras lideranças a Aliança dos Povos da Floresta, que unia indígenas, ribeirinhos e povos extrativistas. Juntos eles criaram o conceito das Resex (Reservas Extrativistas), áreas de floresta protegidas por leis e conservadas com ajuda da população local usando técnicas extrativistas não predatórias. As primeiras Resex, foram criadas apenas cinco anos depois da criação da Aliança, em 1990, pouco mais de um ano depois do assassinato de Chico Mendes. Uma das primeiras recebeu o nome de Chico Mendes. Hoje, mais de 30 anos após a criação das Resexs, essas áreas de floresta continuam ameaçadas por invasores que querem destruí-las para transformar em pasto. A família de Chico continua lutando pela preservação das Resex e aposta na juventude para dar continuidade a esse legado. #ChicoMendes #Resex #EuUsoAMinhaVozPelasFlorestas #ChicoVive #JuntosÉpossível

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Já parou para pensar???


Já parou para pensar???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Cada dia mais, observando a contemporaneidade, me convenço de que as opiniões não são tecidas, na maioria das vezes, por ignorância; mas, por dissonância cognitiva ou por satisfação de algum interesse impróprio.  Haja vista o embate que vem sendo travado no Congresso Nacional, pela Direita e seus matizes, e o Executivo, na figura do Ministério da Fazenda.

É sempre importante lembrar que a historicidade não se resume aos instantes fotográficos; mas, ao filme em si. Dito isso, olhemos para o Brasil de forma retrospectiva.  Bem, depois de 21 anos de Ditadura militar, a redemocratização nacional teve início em 1985, ainda que a contragosto de diversos segmentos da sociedade, especialmente, aqueles que foram simpatizantes, apoiadores e/ou executores do golpe de 1964. Basicamente, indivíduos pertencentes ao espectro político-partidário de Direita.

Sobre eles pairava uma nuvem de desconfiança e temor de que o progressismo pudesse interferir na manutenção dos seus interesses e poderes, no âmbito da República.  Acontece que, diante da dinâmica dos acontecimentos pregressos, ela própria, incluindo os seus elementos mais radicais e extremistas, foi convencida de que um dos caminhos para a pavimentação do processo de resgate democrático seria a aceitação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

Assim, ao longo de 18 meses, entre 1987 e 1988, estabeleceu-se um novo marco jurídico-institucional no país, com a garantia de direitos e liberdades individuais, a promoção da igualdade de gênero, a criminalização do racismo e a proibição da tortura. De modo que a Constituição, promulgada em 05 de outubro de 1988, ficou conhecida como "Constituição Cidadã", devido à sua ampla garantia de direitos e liberdades individuais e sociais.

No entanto, ao longo desses 37 anos, em tese, acalmadas as desconfianças e temores pós-ditadura, o sentimento de insatisfação, por parte de muitos simpatizantes, apoiadores e membros da Direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, reacendeu. Aliás, um recrudescimento significativo depois de assistirem à ascensão progressista ao poder, no país. Algo que vem, então, motivando um conjunto de práxis que não só afrontam a Carta Magna de 1988; mas, promovem uma deterioração às conquistas nela estabelecidas.

Haja vista como ela enfrenta desafios em sua implementação e efetivação. Direitos como saúde, educação, moradia e transporte, estão longe de uma garantia plena e igualitária. Há problemas de financiamento, acesso desigual e falta de regulamentação de algumas normas, ou seja, o país carece da efetivação de políticas públicas que promovam uma igualdade cidadã. Aí surge a pergunta que não quer calar: a quem pertence a função primordial de criar e aprovar leis que regem a sociedade? Bingo! As casas legislativas federais, ou seja, ao Congresso Nacional.

Portanto, esse é o ponto.  Ao longo desses 37 anos, sob a influência de simpatizantes, apoiadores e membros da Direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, o Brasil tem presenciado inúmeras tentativas de asfixia da governabilidade, predominantemente, ao longo dos governos de viés progressista. É flagrante o modo como os parâmetros estabelecidos constitucionalmente, no que diz respeito às questões de igualdade, justiça social e direitos humanos, são afrontados todos os dias.  

Nesse contexto, a melhoria das condições sociais, econômicas e políticas, decorrente de reformas e mudanças estruturais, enfrenta, constantemente, inúmeras tentativas de boicote e obstaculização. Como no episódio recente experenciado pelo Ministério da Fazenda.

De modo que o arraigamento demonstrado no discurso liderado pelos simpatizantes, apoiadores e membros da Direita e seus matizes, sinaliza um distanciamento absoluto em relação à busca por propiciar um desenvolvimento mais justo, igualitário e sustentável, ao país. Então, a culpa do seu descontentamento raivoso não é dos governos progressistas, nem tampouco, da própria Constituição vigente!

Tamanha animosidade tem suas raízes na historicidade nacional, no ranço colonial brasileiro. Não se pode negar que o período colonial deixou marcas profundas, por aqui, como as desigualdades sociais, a concentração de terras, os padrões culturais, o enviesamento desproporcional na organização da sociedade e uma relação de dependência com o exterior. Questões que, portanto, resistem e persistem na sociedade brasileira contemporânea.

Assim, um dos aspectos mais relevantes para reflexão, se apresenta pela hierarquização social, durante o Brasil Colônia, a qual estabelece uma divisão baseada em critérios raciais e econômicos. No topo, proprietários de terra (latifundiários), comerciantes e burocratas portugueses, que controlavam a economia e a política.

Abaixo deles, havia uma camada intermediária composta por homens livres, muitos deles mestiços, que exerciam atividades como pequenos comércios e ofícios, e atuavam como soldados na defesa da colônia. Por fim, na base da pirâmide social, encontravam-se os indígenas e os africanos escravizados, que eram a força de trabalho principal e sujeitos às condições de vida extremamente precárias.

De modo que a tal elite agrária representa a ancestralidade, hoje, manifesta pelos elementos da Direita e seus matizes. Daí a perpetuação do discurso colonial, visto que os detentores do poder econômico e político permanecem inseridos na mesma linhagem histórica. Portanto, não se permita esquecer que “A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será” (Eduardo Galeano - escritor e jornalista uruguaio).