sexta-feira, 4 de abril de 2025

Por linhas bem tortas ...

Por linhas bem tortas ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Por linhas bem tortas, não é que o tarifaço, promovido pelos EUA, trará benefícios! Diante da proposta, a sociedade estadunidense que cresceu embalada pelo consumo desenfreado, agora, terá que aprender, a duras penas, a conter seus impulsos. Mas, não somente ela. Todos aqueles que se encantaram pelo “America way of life”, cujo pano de fundo era justamente aderir às práxis consumistas. Desse modo, caro (a) leitor (a), com os preços pela hora da morte, os cidadãos terão que repensar suas prioridades e colocar o pé no freio da gastança.   

Quem diria, não é mesmo?! Ao que tudo indica, o grande beneficiado, nessa história toda, foi o meio ambiente. Afinal de contas, a desaceleração do consumo tem impacto direto sobre as condições ambientais. Menor desperdício e produção de resíduos. Menor consumo de recursos hídricos. Menor emissão de gases poluentes. Menor utilização de agentes químicos. Enfim... Isso porque a industrialização tende a se moldar, segundo a nova realidade da demanda global.  O tal “tarifaço” impôs, na verdade, uma desaceleração da produção e do consumo, ao redor do planeta.

Seja do ponto de vista da microeconomia ou da macroeconomia, a tomada de decisão estadunidense em esgarçar a ideia do multilateralismo para impor o bilateralismo, dentro de uma assimetria de forças, tende a tornar o mundo muito mais empobrecido e, portanto, menos capaz de consumir.  Daí o fato de estarmos diante, então, do início de um processo de reeducação da sociedade. O consumismo que veio impulsionando o cenário contemporâneo, sofrerá um grande revés. Sobretudo, no que diz respeito, aos supérfluos. Nada de explosões contínuas de novidades!

Desse modo, o ser humano terá que rever a dinâmica da sua própria vida. Reaprender a priorizar. Conter seus ímpetos irrefletidos. Dissociar-se da necessidade da exposição midiática. ... Dispor-se a um processo de reumanização. Em linhas gerais, equilibrar a coexistência entre o SER e o TER, no sentido de uma reapropriação da importância da própria essência. Já dizia Albert Einstein, “Procure ser um homem de valor, em vez de ser um homem de sucesso”. Porque, na maioria das vezes, infelizmente, esse sucesso está condicionado às conquistas materiais e capitais. Uma pena, pois “Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais” (Charles Chaplin).

Além disso, o que se tem bem diante do nariz é o descortinar de algo elementar, ou seja, “Os mais perigosos inimigos não são aqueles que te odiaram desde sempre. Quem mais deves temer são os que, durante um tempo, estiveram próximos e por ti se sentiram fascinados” (Mia Couto). De modo que essa não é só uma crise de natureza econômica, ou ambiental, ou comportamental, ... Essa é uma crise existencial geopolítica, na qual os interesses de um se colocaram acima dos demais, não importando quem sejam eles. Como escreveu Henri Frédéric Amiel, filósofo, crítico e poeta suíço do século XIX, “A nossa maior ilusão é acreditar que somos o que pensamos ser”. Tudo é efêmero. Nada é para sempre.