segunda-feira, 18 de março de 2024

Diante de uma absoluta relativização numérica ...


Diante de uma absoluta relativização numérica ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Números apontam grandes cifras produzidas e lucros astronômicos, no universo do agronegócio mundial. No entanto, os números também apontam valores expressivos para o desmatamento, as queimadas, a exaustão dos recursos naturais – tais como, água e solo, a insegurança alimentar e o desperdício. Diante disso, a quais números devemos, de fato, render reverências?

Cientes de que há no planeta, mais de 8 bilhões de seres humanos e que a alimentação é necessidade básica de todos eles, essa é uma pergunta fundamental.  Há séculos tem se visto ampliar as fronteiras agrícolas, o desenvolvimento de novas técnicas de produção e o surgimento de insumos com alta base científica. A primeira impressão é de total sucesso. Só que não.

Vejam, essas iniciativas impactaram o equilíbrio natural dos biomas. Seja pela ruptura com a periodicidade e volume de chuvas. Ou da umidade do ar. Ou com o balanço nutricional do solo. Ou com o regime de ventos. Ou com as estações climáticas bem definidas. Enfim, tudo o que é essencial para o agronegócio e não pode ser substituído por avanços técnico-científicos.

Sem perceberem, o ciclo de investimentos milionários para aumentar a produção e os lucros tornou-se uma espiral que exige cada vez mais e devolve cada vez menos, dadas as imposições conjunturais da própria natureza. E ao contrário de analisar crítica e reflexivamente essas práxis, diversos produtores ainda insistem nelas.

O que significa que ao ampliar o nível de desequilíbrio natural dos biomas, o agronegócio abre uma guerra contra si mesmo, expondo suas produções às novas pragas, à intensificação das demandas químicas, à contaminação da água e do solo e à própria dinâmica climática. Algo que já não é bem-visto, pelos mercados consumidores estrangeiros, muitos deles franco defensores das políticas sustentáveis da economia verde.

Porque gastar mais não significa produzir mais e melhor. Aliás, esse alto custo de produção não tem impedido a ausência de muitos produtos nas prateleiras dos mercados e supermercados, mundo afora; bem como, o decréscimo da qualidade deles, quando disponíveis. Além disso, é preciso pensar sobre o impacto que a lei da oferta e da procura traz ao contexto da insegurança alimentar.

Se por um lado se vê, em pleno século XXI, o amiúde desperdício de alimentos, a inacessibilidade a eles é uma realidade triste e cruel. A indisponibilidade de produtos ou o seu alto custo de aquisição impede que milhões de seres humanos supram a sua necessidade fundamental de alimentação. Ao que se vê, ter ampliado as fronteiras agrícolas, desequilibrado os biomas, tecnologizado a produção, investido em super insumos, nada disso cumpriu o papel primaz do agronegócio, ou seja, nutrir os seres humanos.

Sem contar que certos impactos negativos, tais como o deflorestamento, têm sim, sua parcela de responsabilidade na disseminação de importantes doenças, especialmente, as arboviroses. Segundo estudo da Fiocruz, por exemplo, “a dengue vem se espalhando para as regiões Sul e Centro-Oeste, onde a doença não era tão comum. Isso está ocorrendo por conta do aumento na ocorrência de eventos climáticos extremos, como secas e inundações. Além disso, outro fator decisivo seria a degradação ambiental, especialmente no Cerrado, que vem sofrendo com o desmatamento, queimadas e conversão de florestas em pasto” 1.

Lembre-se, “A primeira lei da ecologia é que tudo está ligado a todo o resto” (Barry Commoner)! Daí a necessidade de reflexão, quando se percebe a insuficiência ou a ineficiência da economia para proteger a sobrevivência humana na Terra. Não se pode encarar o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social como questões excludentes, porque tem sido essa a visão que está levando à humanidade a sua extinção 2. Portanto, é urgente romper com esse cenário caótico, o qual não aponta uma relação custo/benefício equilibrada para nenhuma das partes envolvidas.

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