sábado, 21 de dezembro de 2024

Reflexões sobre o avesso do sentimento humano


Reflexões sobre o avesso do sentimento humano

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Disposta a tentar compreender o ódio que se espalha pelo mundo, não pude deixar de observar como o poder se distribuiu entre duas formas. Bem, há os que, de fato, detêm o poder. A ínfima minoria que ocupa o ápice da pirâmide social.

No entanto, há uma legião, distribuída pelas demais camadas da pirâmide, que padece da chamada Síndrome do Pequeno Poder. Essas pessoas, então, assumem um comportamento autoritário e/ou opressivo, quando ocupam algum espaço de importância ou de destaque social.

Independentemente do grupo, está na questão do poder o foco de análise. Afinal, a historicidade humana se constituiu a partir dele. Ter e exercer o poder estabelece uma aura de distinção social extremamente cobiçada. Pelo menos em tese.

Porque esse suposto “passaporte para a felicidade”, que resolve todos os problemas, que abre todas as portas, que satisfaz todos os desejos, que influencia de diversas maneiras, dá sinais, na contemporaneidade, de ter exaurido a sua força.

Ainda que muitos aspirem por essa dádiva, o poder já não surte um efeito extasiante pleno. Infelizmente, vivemos uma realidade em que o ser humano parece, cada vez mais, incapaz de lidar com suas frustrações. Há um fastio pairando sobre a população, que não a permite se satisfazer e manifestar os melhores sentimentos e emoções.

O resultado disso tem sido a exacerbação do ódio e de outros sentimentos correlatos, tais como a antipatia, a aversão, a cólera, a covardia, o desconforto, a fúria, a impaciência, a ira, o nojo, a raiva, a repulsa, na maioria das vezes, expressos por indivíduos pertencentes a um ou ao outro grupo que detém algum tipo de poder.

Isso nos leva a pensar que o poder não supre os indivíduos. O fato de viverem uma condição social de destaque, sob diferentes aspectos, não preenche mais as suas lacunas existenciais. De modo que elas padecem de uma constante inquietação, desassossego, desapontamento, desgosto e/ou insatisfação.

E como não sabem lidar com esses sentimentos, elas promovem uma transferência para o outro. Ele se torna, então, o objeto do seu ódio e passam a sofrer todo tipo de ataques, desqualificações e violências.

Entretanto, é importante ressaltar que, esse outro, não é um de seus pares diretos. A escolha recai, quase sempre, sobre alguém que ele considera em posição de desvantagem social.  Muitas vezes, algum membro das minorias.

O que explica a presença marcante da aporofobia, da xenofobia, do racismo, da misoginia, do etarismo, ... como mecanismo de legitimação do ódio ou de quaisquer outros sentimentos correlatos a ele.

De modo que ao ser disseminado na sociedade contemporânea, o ódio ultrapassa as fronteiras das polarizações ideológicas. Por trás desse tipo de estopim social, me parece muito mais plausível a análise a respeito dos desalinhos e desvios comportamentais dos indivíduos, ou seja, a má resolução existencial de uns e outros, por aí.

Afinal, como dizia Carl Gustav Jung, “Tudo o que nos irrita nos outros pode no levar a uma melhor compreensão de nós mesmos”. Nesse sentido, considerando o tripé - individualismo, narcisismo e egoísmo - vigente na contemporaneidade, não é de se espantar que a semente do ódio emerja de uma construção social idealizada.

Como se o indivíduo quisesse exercer o pleno poder decisório sobre como deve ser o mundo em que ele habita. Assim, ele não precisaria lidar com seu próprio reflexo, através do outro. Porém, isso é impossível. Aí o ódio explode. De diferentes formas. Em diferentes situações. Com diferentes pessoas.

O que a maioria não se dá conta é de que ao expressar avassaladoramente o seu ódio, revela-se ao mundo o tamanho de uma incompletude existencial, que parecia não existir, em razão do lustro garantido pelo poder apropriado. Quem diria?! Além do ódio trazer à tona a real dimensão do ser humano, há uma franca demonstração da insuficiência do poder, seja ele de que natureza for.

Desse modo, semeando o ódio daqui e dali, vamos percebendo o encolhimento ético e moral da humanidade, com milhares de seres pequenos, mesquinhos, infelizes, revoltados, ... atormentados em sua própria condição humana. Afinal, nem mesmo o poder foi capaz de blindá-los, protegê-los, salvá-los, de quem habita sua própria pele!  

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Uma breve linha do tempo ...

Uma breve linha do tempo ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Na vida, certos acontecimentos se mostram muito mais profundos do que aparentam ser. As discussões em torno dos recentes atos de golpismo de Estado, no Brasil, apresentam tantas camadas, que acaba por ser inevitável enxergar a sua total dimensão.

Pensando a respeito e observando as oscilações do dólar, segundo os humores do mercado financeiro, comecei a estabelecer uma linha do tempo dos acontecimentos, bastante interessante. Afinal, como é fácil constatar, o frame presente não faz jus à história em si!

Vejam. A gestão federal, entre 2019 e 2022, fragmentou as estruturas de governo sob o pretexto da transformação sem, no entanto, trazer quaisquer propostas substitutivas. Foi, simplesmente, estabelecer obstáculos para a gestão do que estava funcionando.

Mas, por quê? Esse tipo de pensamento já se mostrava um tipo de plano alternativo, caso o projeto de reeleição não lograsse êxito. Sim, porque aquele que assumisse o país, a partir de um cenário, praticamente, de “terra arrasada”, não conseguiria colocar em prática a sua plataforma de governo e se tornaria alvo de críticas e cobranças dos eleitores. Um contexto que favoreceria imensamente uma eventual retomada da Direita e seus matizes, nas eleições de 2026.

Entretanto, não para por aí. No campo econômico, a escolha do Presidente do Banco Central foi feita a dedo. Ora, fosse a reeleição bem sucedida, ter uma figura simpatizante e aliada aos interesses direitistas demonstrava uma boa estratégia.

Mas, em caso de não reeleição, haveria uma infinidade de possibilidades capazes de construir obstáculos, os quais minariam, de forma contundente, as perspectivas de sucesso do projeto de gestão progressista, para o país.

Dito isso, basta uma recapitulação das matérias publicadas pelo mais amplo espectro nacional e internacional de mídia, para se deparar com o árduo trabalho do Presidente do Banco Central, que agora se despede, para descredibilizar e implantar um cenário nacional de instabilidade econômica para o mercado financeiro global. Isso, sem contar, a política perversa de juros e a inação do Banco central (BC) diante da ocorrência dos episódios de elevação do dólar.

Isso significa que, em todo esse recorte temporal, uma construção dialógica especulativa vem pairando sobre a política econômica nacional. Com o objetivo de deteriorar a gestão vigente e abrir espaços para uma campanha depreciativa, junto à opinião pública, a fim de favorecer o retorno da Direita e seus matizes, nas eleições de 2026.

Aliás, vale lembrar que, ao se falar em mercado financeiro, ele é constituído justamente por indivíduos pertencentes ou simpatizantes do espectro político-partidário de Direita. Portanto, todo o tensionamento e instabilidade que seus comportamentos desencadeiam na economia tem sim, um propósito muito bem definido aos seus interesses de poder.

Mas, não se engane ao pensar que tudo isso é privilégio brasileiro! Porque não é. Como já devem ter ouvido, o movimento expansionista da ultradireita, em todo o mundo, tem buscado minar os projetos progressistas de governança, a partir desse mesmo modus operandi.

De certa forma, o que eles buscam não difere, em praticamente nada, das bases ideológicas que sustentaram o Colonialismo, entre os séculos XVI e XIX. Além do poder político em si, essas pessoas buscam se reapropriar de outras formas de poder, ou seja, econômico, social, cultural, religioso, para exercerem as suas práxis de dominação e controle.

Daí a precarização da economia e do trabalho ser tão importante aos seus objetivos, na medida em que ela recrudesce a obstaculização das pretensões de ascensão e de mobilidade social. Em linhas gerais, isso representa a reafirmação das desigualdades socioeconômicas concomitantemente à ampliação dos interesses das elites dominantes.

Algo que se explica, por exemplo, pela manifestação de comportamentos racistas, aporofóbicos, xenofóbicos, misóginos, ... dentro de contextos, cada vez mais, constituídos por fundamentos necropolíticos.  Portanto, um claro contraponto à visão progressista de governança.

E assim, de repente, somos capazes de perceber a tecitura dos processos golpistas. Ao contrário do que muitos acreditam, tudo começa pela corrosão da estabilidade, da capacidade de gestão e da materialização das plataformas de governo.  Há uma flagrante utilização da depreciação discursiva, por parte das instituições em parceria com os veículos de comunicação e de informação, para criar um movimento de oposição por parte da opinião pública.

Como bem escreveu Steven Levitsky, “Os cidadãos muitas vezes demoram a compreender que sua democracia está sendo desmantelada – mesmo que isso esteja acontecendo bem debaixo do seu nariz” (Como as democracias morrem, 2018). Acontece que essa demora pode custar caro.

Portanto, lembre-se do que dizia o filósofo Platão, “... Cada um de nós é como um homem que vê as coisas em um sonho e acredita conhecê-las perfeitamente, e então desperta para descobrir que não sabe nada ...!”. Não é à toa, que seja tão fundamental abrir os olhos e a mente, para dedicar-se a uma análise crítico-reflexiva dos acontecimentos contemporâneos que nos cercam.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O ineditismo ...


O ineditismo ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não se engane, o ineditismo é sempre a ponta de um imenso iceberg. Uma parcela significativa do Brasil está perplexa pela ousadia da construção golpista que se estabeleceu nos últimos anos. Mas, em relação ao alcance de membros da alta cúpula militar na recente tentativa de Golpe de Estado, é preciso olhar além da superfície.

Seria mais um equívoco terrível da história nacional, sustentar a tese de que um movimento golpista seria uma questão pontual dentro das Forças Armadas. A partir do fato de que elementos do generalato, o mais alto cargo da hierarquia do Exército, estão presos e que o trabalho de persuasão para apoiar a eleição do ex-Presidente da República se deu dentro de centros de formação militar, em atividades festivas para as quais ele era convidado a participar e, algumas vezes, discursar, é fundamental apurar a dimensão corrosiva trazida pela ideologização política radical e extremista dentro das instituições militares, como um todo.

É importante ressaltar que tal conjuntura prosperou porque encontrou condições favoráveis. A redemocratização brasileira, na década de 1980, não trouxe consigo uma reformulação de crença, valores e princípios aos segmentos militares do país. A anistia brasileira se transformou em processo de silenciamento histórico e um grande impeditivo para uma reflexão dos acontecimentos. Assim, os processos de formação militar permaneceram fundamentados ideologicamente por velhos e obsoletos paradigmas globais, construindo uma realidade paralela e contrária ao desenvolvimento e ao progresso social do país.

Parece absurdo, mas não é! O ódio destilado pelos matizes mais radicais e extremistas da Direita, dentro do núcleo militar, reflete a disseminação contemporânea de questões totalmente fora de propósito. Eles parecem presos na sua trajetória histórica, ampla e profundamente manipulada pelos interesses internacionais, a certas ideias tais como a Guerra Fria, o combate ao Comunismo e quaisquer ideologias de caráter progressista. Estão entrincheirados numa guerra contra inimigos imaginários, os quais foram convencidos sobre uma eventual periculosidade, quase, letal.

Acontece que esse pensamento, transitando de dentro para fora e de fora para dentro dos quartéis, inevitavelmente, se torna nocivo à manutenção democrática. A verdade é que não estamos falando apenas de ideias; mas, de um conceito próprio de realidade, capaz de afetar as relações sociais em diferentes níveis. Acostumados a uma condição de obediência hierarquizada, a construção do pensamento militar passa por uma limitação da consciência crítica e reflexiva, dentro de um condicionamento de aceitação e não contestação.

Daí é fácil entender porque razão, gerações e gerações de militares, permanecem olhando e entendendo o mundo a partir de uma mesma perspectiva. A caserna não acompanhou a evolução da própria sociedade. De modo que ela enxerga os equívocos, os erros, os absurdos, na figura do outro, aquele que não pertence à sua realidade. Uma construção histórica que permitiu os colocar em uma posição de superioridade absoluta e incontestável, a qual lhes garantiu também um conjunto de regalias, privilégios e poderes que não estão dispostos a negociar jamais.

Por isso, ainda que não haja uma unanimidade ideológica golpista dentro das Forças Armadas, não se pode relativizar e dizer que ela é pontual, dada a sua organização hierárquica e a permissividade com que certas fraturas protocolares se estabeleceram dentro das unidades de comando. Começando por essa aglutinação político-militar, a qual afronta diretamente a atemporalidade do Estado, ou seja, governos mudam e o Estado permanece, cabendo às forças militares servirem aos interesses do Estado e não, de pessoas.   

É preciso compreender que a responsabilização dos envolvidos na tentativa recente de Golpe de Estado, inclusive militares, é algo inegociável na perspectiva da manutenção democrática nacional. Mas, não é tudo. Se não houver uma mensuração do grau de disseminação golpista nas Forças Armadas, se não houver uma mudança paradigmática e curricular dos militares, se não houver uma ruptura definitiva com essa aglutinação político-militar, a presença de elementos golpistas persistirá nessas instituições e o risco ao qual a Democracia estará submetida, será de inteira responsabilidade da inação e da negligência das autoridades brasileiras. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

O filme “Ainda Estou Aqui” e Fernanda Torres garantiram indicações para o Brasil no Globo de Ouro 2025.

Ainda estou aqui (I'M STILL HERE) | Official Trailer (2025)

10 de Dezembro - Dia Internacional dos Direitos Humanos (Human Wrights Day)



Dia Internacional dos Direitos Humanos

Dia Internacional dos Direitos Humanos

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Há tempos venho me questionando sobre quais os motivos que levam os Direitos Humanos a causarem tamanho desconforto e mal-estar entre muita gente, por aí. Até que, de repente, entendi que falar sobre tais direitos é um ato que expõe a dimensão do nosso fracasso civilizatório.

Sim, porque apesar de todas as tentativas de domesticação e civilização, o Homo sapiens permanece o bárbaro, o primitivo, de sempre. Com especial atenção para a contemporaneidade, quando ele encontrou um discurso de legitimação para o seu individualismo, o seu egoísmo, o seu narcisismo e a sua ânsia por liberdade sem limites.

Razão pela qual estamos diante de uma luta explícita entre a indignidade e os Direitos Humanos. Enquanto ela promove um verdadeiro tsunami de desumanização na sociedade, eles tentam, a duras penas, permanecer o farol de segurança e acolhimento da população; sobretudo, das camadas mais frágeis e vulneráveis, em tempos caóticos.

E isso acontece porque existe uma construção discursiva histórica que obstaculiza a compreensão de que os Direitos humanos significam um direito meu, um direito seu, um direito nosso. Ora, essa ideia desconstrói a possibilidade de se justificar as desigualdades no mundo! Em síntese, ela representa um abalo nas regalias, privilégios e poderes, das classes historicamente dominantes.

Afinal de contas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), publicada em 10 de dezembro de 1948, em seus 30 artigos não estabeleceu hierarquias de raça, credo, gênero, escolaridade, status, ... Falou-se estritamente sobre e para os seres humanos. Os indivíduos foram, portanto, igualados na sua condição existencial, porque é isso o que realmente importa. Cada vida que chega a esse mundo tem as mesmas demandas fundamentais para sobreviver, de modo que está nesse contexto o real ponto de análise.

Embora, a DUDH não nasceu para ter força de lei, pelo menos, ela sempre buscou exercer o papel fundamental de delinear um roteiro para que haja uma conscientização social sobre a necessidade da manutenção da dignidade humana. Abordando os direitos e liberdades individuais, sociais, políticos, jurídicos e nacionais dos indivíduos, ela estabelece uma consciência em torno das responsabilidades e compromissos com a coletividade humana.

O que me parece ser um ponto nevrálgico para que diversos espectros dentro da sociedade manifestem tamanho desprezo ou ódio em relação aos Direitos Humanos.  Considerando o grau de importância e desimportância social atribuído a certas parcelas da população, a dignidade, em seus mais diferentes aspectos, se torna uma questão não acessível a todos. Como se ela pudesse ser apropriada por uns em detrimento de outros. Daí ao longo da história nos depararmos com situações de exploração, de trabalho análogo à escravidão, de desumanização.

Algo difícil de compreender e aceitar, na medida que subtrai do ser humano qualquer sinal de empatia, de alteridade, de respeito, que deveriam ser intrínsecos à sua natureza. Mas, infelizmente, tal comportamento está disseminado por todo o planeta, de uma maneira trivializada, banalizada, naturalizada. Trazendo a impressão de que muitos indivíduos estão, de fato, perdendo a capacidade de reconhecer a sua humanidade no outro. O que torna as expressões da desumanização contemporânea cada vez mais aterrorizantes e brutais. Basta se debruçar sobre as notícias estampadas pelos veículos de comunicação e de informação, para se ter a dimensão a respeito.

Como escreveu Carlos Drummond de Andrade, “Os direitos do homem são muitos, e raro o direito de gozar deles. Nem todo homem tem direito a conhecer seus direitos”. Esse é o contexto da reflexão a ser desenvolvida por cada indivíduo. Na análise crítica do seu papel individual sobre o coletivo, no sentido de aceitar, de concordar e, até mesmo, referendar, todo tipo de absurdos cometidos contra os seus semelhantes. Afinal, “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar” (Martin Luther King Jr.).  

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

O dono da bola


O dono da bola

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Sabe a história do dono da bola, aquele menino que insatisfeito com o jogo, contrário aos seus interesses, pega a bola e vai para casa, acabando com a brincadeira? Esse é o Brasil que, em pleno século XXI, permanece monopolizado pelos interesses, regalias, privilégios e poderes de suas elites dominantes.

Só mesmo uma dose gigantesca de ingenuidade para acreditar que o pior para o progressismo, no país, seria a disputa eleitoral em 2022. Ganhando ou perdendo, o simples fato de a Direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, terem reconquistado o seu espaço social, já sinalizava o que viria pela frente.

Como sempre digo, é o ranço colonial brasileiro! Nossos valores monárquicos. Nossos modelos burgueses. Nosso vira-latismo degradante. Nos mostram como a nossa construção identitária de país, não passa de uma caricatura horrenda, uma terrível contradição existencial.

Não é à toa que aceitamos passivamente que parlamentares da Direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, em pleno período de exercício de seus mandatos, viagem ao exterior para difamar e constranger o país.

Que nos curvamos às pautas delirantes e vexatórias que circulam pelo Congresso Nacional, reafirmando o nosso atraso no mundo do século XXI.

Que assistimos aos interesses dos dominadores do capital se sobreporem às lutas seculares contra as desigualdades socioeconômicas do país. ...

Estamos sempre dando um passo à frente e dez atrás na nossa história, porque há uma tendência rançosa à naturalização, à banalização, à trivialização, dos interesses, regalias, privilégios e poderes das elites dominantes, em detrimento da grande massa populacional brasileira.  Como se isso fosse ponto pacífico. Só que não.

Esse é só mais um tipo de anistia que se tenta empurrar goela abaixo da gente trabalhadora e espoliada diariamente nos seus direitos e na sua dignidade, ou seja, uma anistia às desigualdades, como se elas jamais tivessem existido.

O que torna prático e cômodo aos interesses das elites dominantes, pois retira delas o peso da sua responsabilidade, da sua desumanidade, da sua crueldade, ... Algo que reafirma a dimensão do enviesamento e da distorção social brasileira.

Ora, para as parcelas que compõem a base da pirâmide social, em tempo algum da nossa história, houve condescendência, houve empatia, houve humanidade, houve tolerância. Muito pelo contrário. Tiveram sempre que pagar caro por tudo, inclusive pela própria existência.

Foram sempre os mais afetados pelos impostos, pelas ofensas, pelas injúrias, pela criminalização, pelo cárcere injusto, enfim... Mas, ao contrário de clamarem por anistia, inexplicavelmente, sua voz sempre manifestou por justiça. Talvez, Freud explique!

Por isso, apesar do lastimável show de absurdos que tem constituído as atitudes e os comportamentos de membros, apoiadores e simpatizantes da Direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, havemos de agradecê-los.

Afinal, rasgaram as fantasias, tiraram as máscaras, estão desnudos na sua essência, sujeitos ao escrutínio da opinião pública. Suas incongruências, suas dissimulações, suas inverdades, ... nada mais passa desapercebido e inquestionado.

Aliás, se tudo estivesse sob controle, segundo sua perspectiva, o descontrole, a ira, o extremismo, não teriam encontrado guarida. Valer-se de práxis tão antigas, como Golpe de Estado, só mesmo, sentindo-se incapazes de lidar com os reveses da vida!

Em um piscar de olhos, perderam o verniz da civilidade e mostraram todo o seu primitivismo, como era de se esperar. Porque, nesse contexto, foi sempre surpresa zero.  Seus bons modos, assim como, o seu conservadorismo, não passam de fachada.

Tanto é verdade, que as criaturas permanecem indóceis! Seus planos infalíveis já foram descobertos. Alguns membros, apoiadores e simpatizantes já estão no xadrez. Investigações e processos se encontram em análise para desfecho. Mas, ainda permanecem alguns “heróis da resistência”, acreditando que o seu sonho não acabou! Despejam a sua verborragia non sense, por onde passam, enquanto tentam resgatar o ânimo da sua claque.  

De modo que deveríamos ficar atentos. Mais do que a Democracia em risco, é o país em si. Lamento, mas essas pessoas quando tomam o poder não sabem o que fazer com ele.  Metem os pés pelas mãos. Em nome dos seus interesses, prejudicam a população de todas as formas. Fazem péssimo uso do dinheiro público. Desorganizam as estruturas institucionais. E sempre arrumam um bode expiatório para jogar a culpa pelos seus atos e incompetências. Isso, quando não pedem anistia!  

sábado, 30 de novembro de 2024

Ganhar ou perder ...


Ganhar ou perder ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Ganhar ou perder é parte de qualquer esporte. Mas, não é de hoje, que as profundas mudanças organizacionais e estruturais nos times de futebol trazem dúvidas em torno dos resultados das partidas.  

Ora, euforia não ganha jogo! Por mais torcida que exista, em favor de um e em detrimento de outro, esportes são marcados pela incerteza do placar. Pelo menos em tese! De modo que aprendemos, há tempos, a conviver com a marotice de uma zebrinha, na TV aberta, que trazia os resultados surpreendentes da rodada!

Além disso, por mais que os calendários sejam absurdamente perversos, trazendo uma sobrecarga indiscutível às equipes, espera-se, no mínimo, a manutenção do espírito desportivo, da dignidade dos atletas ao vestirem a camisa e entrarem em campo. Especialmente, quando se trata de atletas da elite do futebol.

Estamos falando de gente experiente que, apesar de jovem, já carrega uma bagagem suficiente para saber se portar e dar o melhor de si, em campo.  Que torna inadmissível uma participação repleta de atitudes principiantes. Afinal, não dá para escolher, quando a dignidade deve entrar em campo. Se no jogo A, B ou C. Como dizem, por aí, jogo é jogo e não se escolhem adversários! Cada vitória é o fim de uma batalha bem sucedida!

Portanto, quando se chega ao final de um grande campeonato, espera-se dos competidores um nível total de motivação e de entrega. Como se aquele fosse o jogo de suas vidas. Nada é mais importante! Nada pode ser empecilho para buscar a vitória! Hipoteticamente, o que se imagina são atletas driblando todo e qualquer obstáculo que surja na sua frente. Seja a chuva ou o sol. Sejam os erros de arbitragem. Sejam os desalinhos no campo. Seja o cansaço. ... Não interessa.

Afinal, aquela conquista já é, em si mesma, o trampolim para outras tantas que o futuro reserva. E não é só isso! O futebol contemporâneo, que lida com cifras astronômicas de investimento; sobretudo, a partir das premiações, tem condições de construir equipes cada vez mais competitivas. Formar elencos de primeira grandeza, oferecendo-lhes a melhor infraestrutura de trabalho possível.

De modo que as derrotas não são apenas motivo de um pesar momentâneo. Elas reverberam pelo tempo. Elas sinalizam desafios concretos adiante. E tudo isso é sim, um gigantesco balde de água fria sobre o torcedor. A relação entre times e a população, no Brasil, é historicamente muito intensa e passional. Atravessa gerações de uma mesma família. Agrega amigos ao longo do caminho. Tece afetos enamorados entre simpatizantes de um mesmo escudo.  

Por essas e por outras, é que a repentina falta de apetite, de garra, de vontade de vencer, atinge de maneira tão cruel e dolorosamente o torcedor. Há uma ruptura da reciprocidade que se imaginava existir. De certo modo, o torcedor sente-se traído na sua devoção, no seu apoio, no seu genuíno amor. O que explica porque, depois do apito final da partida, as coletivas de imprensa são insuficientes e ineficientes para justificar o que se viu. Desculpas não alteram o resultado. Se faltou isso ou aquilo, não importa mais. No entanto, jamais saberemos o que, de fato, acontece nos bastidores dessa teia, que envolve a organização e a estrutura dos times de futebol contemporâneos, para que as equipes se comportem dessa ou daquela maneira.

Diante desse cenário, vitórias e derrotas acabam tendo um gosto amargo. Como se, de algum modo, o curso dos acontecimentos não tivesse fluído de uma maneira natural, sem interferências diversas. Infelizmente, a alma do futebol perdeu muito do seu brilho. Está opaca. Está arranhada. Está visivelmente melancólica. Não é à toa que Nelson Rodrigues dizia, “Estão a postos os jogadores, o técnico e o massagista. Mas quem ganha e perde as partidas é a alma” (À sombra das chuteiras imortais, por Ruy Castro, p.29).

Enquanto o torcedor parece continuar o mesmo. Maluco. Insano. Passional. Irracional. O futebol não. Está longe e distante da sua molecagem tradicional. Da sua leveza inspiradora. Da sua euforia indomável. O coração pulsa; mas, a alma não. Por isso, gostaria muito que o futebol brasileiro resgatasse a sua alma inspirando-se no feito incrível da Seleção Sul-Africana de Rugby, que venceu a sua principal competição, a Copa do Mundo, em 1995, contrariando todos os prognósticos 1. Uma história que mostra como é possível fazer o esporte sair do fracasso para a glória, a partir de um verdadeiro movimento de renascimento das suas próprias cinzas.  



1 Invictus – trailer (https://www.youtube.com/watch?v=211tsGoram8)

CARLIN, J. Playing the Enemy: Nelson Mandela and the Game That Made a Nation. 2008.

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Mal humorados ...


Mal humorados ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Mais uma vez, o mercado sendo o mercado! Tamanho mau humor é facilmente explicado pela própria historicidade nacional. Contudo, o que causa desapontamento é ver certos segmentos da população se comprazendo na construção de um pseudocaos.

De certa forma, as manifestações contrárias à proposta de isenção do Imposto de Renda até R$5 mil deveriam constranger quem se posiciona dessa maneira. Considerando que o salário-mínimo atual, no Brasil, é de R$1.412,00, essa faixa de isenção significaria aproximadamente 3,5 salários-mínimos.  

Caro (a) leitor, a distribuição da pirâmide social brasileira está apresentada da seguinte forma: classe A – 2,9% da população, renda superior a 20 salários-mínimos, o equivalente  a R$28.240,00; classe B1 – 5,1% e B2 – 16,7% da população, renda entre 10 e 20 salários-mínimos, o que corresponde entre R$14.120,00 e R$28.240,00; classe C1 – 21% e C2 – 26,4% da população, renda entre 4 e 10 salários-mínimos, o que corresponde entre R$5.648,00 e R$14.120,00; classe D/ E – 27,9% da população, o que corresponde entre 2 e 4 salários-mínimos ( R$2.824,00 e R$5.648,00) e abaixo de 2 salários-mínimos (até R$2.824,00).

Observando o painel elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), para o mês de outubro de 2024, a realidade entre o salário-mínimo nominal e o salário-mínimo necessário foi de R$1.412,00 e R$6.769,87, respectivamente. De modo que um cidadão que recebesse o salário-mínimo necessário à sua sobrevivência seria taxado dentro da nova proposta.

Portanto, nada mais legítimo para um país cuja renda mínima está aquém das necessidades fundamentais de um indivíduo e sua família, no que diz respeito à moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, do que promover a isenção no Imposto de Renda.  Essa é uma política pública de combate ao histórico de reafirmação das desigualdades socioeconômicas, no Brasil. Daí o incômodo por parte das elites ou oligarquias nacionais.

Infelizmente, não há como negar a aporofobia nacional! Acontece que a manutenção das velhas práxis que fundamentam as desigualdades, na verdade, aprofundam a necessidade de políticas compensatórias e mitigadoras a esses processos. A legitimação do empobrecimento social, a fim de favorecer as classes A e B da população, não desobriga o governo das suas responsabilidades institucionais e constitucionais com a dignidade humana. A não ser que a intenção seja consolidar explicitamente a necropolítica, no país.

Então, quando se percebe a condescendência subserviente de membros da população, de representantes político-partidários, de entidades públicas ou privadas, de veículos de comunicação e de informação, ao manifestarem posições de afirmação à manutenção de práxis historicamente perversas e cruéis, é possível entender o longo caminho que o Brasil precisa trilhar para superar os seus ranços coloniais.

Infelizmente, há um certo tipo de vira-latismo, nesse país, que diante de uma visão inferiorizada de si mesmo, torna o cidadão um bajulador de quem o maltrata e oprime, sob diferentes formas de violência, a fim de obter algum benefício. Essas pessoas não entendem, ou não querem entender, que a ínfima parcela abastada da pirâmide social, jamais olha para baixo.

Aqueles que estão no topo se mantêm focados, o tempo todo, para administrar e resguardar as regalias, os privilégios e os poderes, os quais lhes foram repassados de geração em geração, até aqui. Eles enxergam a base da pirâmide como um efeito colateral da sua posição, ou seja, para que estejam por cima é preciso que alguém os sustente nessa posição. Nada diferente, do que as Metrópoles europeias promoviam em suas colônias, durante os séculos XVI a XIX. O que significa uma reprodução abjeta de padrões ideológicos e comportamentais.

Como escreveu Darcy Ribeiro, “O espantoso é que os brasileiros, orgulhosos de sua tão proclamada, como falsa, ‘democracia racial’, raramente percebem os profundos abismos que aqui separam os estratos sociais. O mais grave é que esse abismo não conduz a conflitos tendentes a transpô-lo, porque se cristalizam num modus vivendi que aparta os ricos dos pobres, como se fossem castas e guetos. Os privilegiados simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social, que perpetua a alternidade” (Darcy Ribeiro – O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil, 1995).

Por essas e por outras, se entende tamanho mau humor!  Tanto ranger de dentes! Tanta irritação desmedida! Todas as vezes que esses indivíduos se sentem contrariados, eles agem assim. Mostrando todas as camadas da sua aporofobia, da sua xenofobia, do seu racismo estrutural, do seu desvirtuamento ético e moral. Afinal, “A estratificação social separa e opõe, assim, os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis, mais do que corresponde habitualmente a esses antagonismos. Nesse plano, as relações de classe chegam a ser tão infranqueáveis que obliteram toda comunicação propriamente humana entre a massa do povo e a minoria privilegiada, que a vê e a ignora, a trata e a maltrata, a explora e a deplora, como se esta fosse uma conduta natural” (Darcy Ribeiro – O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil, 1995).


CONSUMO...


CONSUMO...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Hoje é um dia bastante oportuno para a reflexão a respeito do consumo consciente. Quando incorporamos estratégias consumistas, largamente utilizadas em outros países, esquecemos de observar certos detalhes fundamentais. A começar pelas diferenças socioeconômicas que marcam as realidades.

Sim, o primeiro ponto de análise aborda as desigualdades. A estimulação do consumismo em países afetados por esses abismos socioeconômicos, não só expõe os cidadãos a uma corrida frenética pela constante aquisição de bens, produtos e serviços, como estabelece fronteiras subjetivas para o pertencimento social. O Ter se transforma, portanto, em palavra de ordem.

Milhares de pessoas começam a ultrapassar os seus limites orçamentários, físicos e mentais para atingir as metas que os possibilitem acompanhar a avalanche de novidades trazidas pelo mercado. Seus propósitos de vida acabam condicionados pelo consumo, o que fomenta uma crise inevitável de fastio ou de insatisfação, na medida em que é um caminho sem fim, sem limites. O que significa algo extremamente viciante ao mesmo tempo em que exaustivo, extenuante, sob diferentes aspectos.    

Contudo, não para por aí. O comportamento consumista afeta diretamente o espaço geográfico do planeta e o equilíbrio socioambiental. Um bom exemplo para compreender essa questão está em matérias, tais como “Lixões persistem e coleta seletiva ainda não é universal: IBGE revela como o Brasil lida com resíduos” 1 , “’Lixo do mundo’: o gigantesco cemitério de roupa usada no deserto do Atacama” 2, e “Os segredos revelados pelas ilhas de lixo formadas nos oceanos” 3.

Queiram ou não aceitar, o consumo excessivo e desinteligente é flagrantemente incompatível com o bem-estar do planeta e da população.  Veja, a maioria dos produtos possui um tempo de decomposição superior à expectativa de vida dos seres vivos. De modo que as áreas de descarte e aterro consomem espaços geográficos importantes para a dinâmica cotidiana, incluindo áreas de vegetação nativa que auxiliam no ciclo hidrológico. Sem contar, a diversidade de contaminantes que passa a penetrar no solo e nos cursos d’água, durante o processo metamórfico dos resíduos. Portanto, alguns lugares se tornam impossibilitados de permitir um reaproveitamento espacial pela população.

Muitos se esquecem ou não se dão conta, também, de que a produção industrial por si só, já resulta no consumo de recursos naturais, especialmente, a água. Cada produto consumido é fruto de processos os quais, nem sempre, são planejados de maneira sustentável e de menor potencial degradante. Além disso, a própria engenhosidade produtiva resulta em novos resíduos e efluentes a serem descartados na atmosfera, no solo e nas fontes hídricas, sem que se respeite eventuais medidas de controle e mitigação.

Daí a necessidade de se REPENSAR o consumo, analisando criticamente as nossas prioridades, inclusive, pelo nosso ponto de vista cidadão, que extrapola o individualismo para exercitar um olhar mais coletivo. Essa consciência RESPONSÁVEL não significa abolir o consumo, por completo. Temos necessidades e precisamos supri-las. No entanto, isso pode ser feito de uma maneira inteligente.

Podemos, por exemplo, RECUSAR os excessos. Se por um lado, as promoções do tipo “leve 3 pague 2” parecem economicamente atraentes e viáveis, por outro, elas nos levam a consumir um volume de produtos desnecessário. O que muitas vezes, acaba ocasionando em perdas do prazo de validade e mais resíduos para descarte. Uma lista de compras bem planejada, pensada, permite REDUZIR não só os gastos, como, também, as falsas demandas.

Por isso, na hora de elaborá-la, vale um olhar atento sobre o que se pode REUTILIZAR, RECICLAR e RESTAURAR. São muitas as publicações e reportagens disponíveis, a respeito dessas estratégias sustentáveis. Termos como upcycling 4 e downcycling 5 já são uma realidade na consolidação da chamada moda ecológica ou eco-friendly. Afinal, o objetivo é fazer com que a população estabeleça uma consciência sobre o seu papel na minimização do impacto ambiental tanto na produção quanto no consumo.

E esses comportamentos, não dizem respeito somente à moda. Eles cabem em qualquer segmento da vida cotidiana. Utensílios domésticos. Decoração. Mobiliário. Material escolar. Cozinha. ... Basta um bocado de atenção ao ambiente em que se está inserido e uma boa pitada de criatividade, para colocar em movimento essas práxis.

Assim, pensando sobre todas essas questões, é impossível não lembrar das palavras da poetisa Cecília Meireles: “É preciso amar as pessoas e usar as coisas e não, amar as coisas e usar as pessoas”. Sim, porque é nesse sentido que o consumismo tem conduzido milhões de seres humanos. A uma hipervalorização da monetização e da mercantilização das coisas e das pessoas, como se tudo pudesse ser despojado de ética e de moral, para atender aos desejos insaciáveis da sociedade de consumo.   



4 É o termo dado para a transformação de um produto que iria ser descartado, em um novo produto pronto para o uso.

5 É uma solução prática e importante para reaproveitar e reutilizar matéria-prima que não poderia ser reciclada de outra forma, acabando num aterro ou incinerada.