sábado, 28 de maio de 2022

UNIVERSIDADES FEDERAIS. As entrelinhas de uma pauta tão importante.


UNIVERSIDADES FEDERAIS. As entrelinhas de uma pauta tão importante.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

E aí, vai continuar considerando tudo obra do acaso ou vai enxergar a vida como ela realmente é? Não há nada de coincidência, no fato de que essa semana duas notícias causaram uma repercussão enorme na área de Educação do país.

A primeira diz respeito à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) número 206, a qual propõe cobrar mensalidades nas universidades públicas 1. A segunda, segue a mesma linha do absurdo, e anuncia que o “Governo bloqueia 14,5% da verba para custeio e investimento de universidades federais” 2. Portanto, só não entende o que está acontecendo quem não quer.

Então, vamos traçar uma reflexão passo a passo. Começando pelo fato de que as Universidades públicas são um gigantesco “tendão de Aquiles” que desconforta terrivelmente os simpatizantes dos diferentes matizes da direita brasileira.

Principalmente, depois que políticas públicas envolvendo, por exemplo, a criação de cotas e a ampliação do acesso da população através da abertura de novos campi e da criação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) permitiram a construção de uma pluralidade social dentro dessas instituições.

O que significa que as Universidades públicas se tornaram representantes de um movimento de mobilidade e ascensão social. Aliás, a fim de não me alongar em explicações óbvias a esse respeito, sugiro àqueles que ainda encontram alguma dificuldade em compreender, que assistam ao filme “Que horas ela volta? ” (2015) 3, dirigido por Anna Muylaert. De maneira cirúrgica e contundente, essa obra disseca esse “desconforto social” presente nas elites nacionais.

Mas, quem disse que para por aí? Não. As investidas contra o ensino universitário público explicitam de maneira irrefutável o desejo que pulsa nas veias da direita brasileira; sobretudo, da sua elite, em desfavorecer a grande massa da população de quaisquer possibilidades de desenvolvimento humano.

Não sejamos tolos ou ingênuos ao ponto de acreditar que as notícias acima têm como propósito “beneficiar as elites”. Porque isso é uma grande falácia narrativa! Ora, as elites não precisam das universidades públicas, ou de quaisquer políticas públicas. Quando querem uma educação de qualidade eles colocam seus filhos nas melhores instituições do país ou do mundo. Simples assim!

É para os 94% restantes da população 4 que as políticas públicas são importantes. É para esses cidadãos que as oportunidades fazem total diferença. E o que há de mais perverso e cruel nessas investidas é a tentativa desvairada de comparar realidades incomparáveis. Vamos e convenhamos, há um abismo real entre o Brasil e qualquer país desenvolvido. Basta verificar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 5 ou o índice Gini 6, para retomar a consciência a esse respeito.

Para quem não se deu conta ainda, “a dívida estudantil é a segunda principal causa de endividamento para as famílias nos EUA” 7. Então, imagina no Brasil? Contrariando uma resistência furiosa de muita gente por aí, o mundo contemporâneo está em um processo de franco empobrecimento em razão das conjunturas que se estabeleceram nas últimas décadas.

De modo que cada vez menos pessoas têm recebido salários compatíveis e satisfatórios às suas demandas fundamentais, sem contar os elevados índices de desemprego. A precarização laboral agrega ao endividamento um peso cada vez mais emblemático. Na recente pesquisa mensal da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), de abril deste ano, o país “registrou um recorde de 77,7% das famílias brasileiras, que afirmaram fechar o mês com dívidas a vencer em três em cada dez contas” 8.

Então, a discussão em torno da cobrança de mensalidades nas universidades públicas já acontece pautada sobre o notório conhecimento a respeito da realidade de endividamento nacional. O ponto de análise a se fazer, portanto, é que ela está diretamente atrelada as razões para os cortes de orçamento. É muito simples. Precarizar e sucatear o ensino e a pesquisa no país é um modo de pressionar para privatização das universidades e instituições de ensino federais.

Por mais tosco e repugnante que possa ser, a elite brasileira não quer perder a oportunidade de se diferenciar do resto da população por meio da desigualdade de acesso a bens, produtos e riquezas. Como já disse anteriormente, para ela tanto fez como tanto faz a inexistência das políticas públicas. Não importa a perda de royalties das pesquisas, dos avanços científicos e tecnológicos, do salto qualitativo e quantitativo da Educação nacional. Ela tem dinheiro. Ela tem poder. Ela tem acesso. Ela dita as regras.

Contudo, não se esqueça. Embora seja chocante admitir, o Brasil do século XXI é o Brasil do século XVI. O Brasil da “Casa Grande e Senzala”. O Brasil elitista, racista, escravocrata, aporofóbico, preconceituoso e violento até o último grau. O Brasil do imobilismo social. O Brasil que grita, xinga e bate na mesa dentro dos seus limites territoriais; mas, fala calmo e suave, na mais vexatória subserviência, quando está no contexto das grandes potências mundiais. Afinal, uma vez Colônia sempre Colônia!  



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