Elas...
Por
Alessandra Leles Rocha
Mais
de 7,2 milhões de pessoas no mundo. São graças ao esforço e ao trabalho delas
que o progresso e o desenvolvimento têm alcançado os patamares inimagináveis,
quando nos colocamos a pensar sobre o grande passo dado pela Revolução Industrial,
no início do século XVIII. Bom, mas quando falamos sobre essas pessoas, não
podemos em hipótese alguma nos esquecer de que estamos falando sobre a espécie humana
composta por homens e por mulheres.
Sendo
assim, quero propor a você, leitor (a), que feche os olhos por alguns segundos e
tente imaginar o século XXI, tendo chegado amparado apenas pelo esforço e o
trabalho de um dos grupos humanos – homens ou mulheres. Então, eu lhes
pergunto, será que teríamos conseguido alçar voos tão altos, tão impensados,
tão grandiosos?
Esta
é uma reflexão profunda e impactante, que nos dá a dimensão exata da importância
de cada ser humano para o planeta. Mas, se você ainda não consegue assimilar
tudo isso de uma forma satisfatória; então, eu proponho que pense no que acontece
quando há uma greve de algum segmento social, por exemplo, dos serviços de
saúde ou de segurança, em sua cidade. É um transtorno para população, não é
mesmo? Essa situação demonstra facilmente como a ausência de um determinado grupo
de pessoas na sociedade afeta diretamente o equilíbrio e a harmonia
populacional. De repente, nos damos conta do quão importante esses indivíduos são;
embora, possamos nem conhecê-los de fato.
É por
isso que, em pleno Terceiro Milênio, a reafirmação da desigualdade entre os
seres humanos parece totalmente absurda. Sei que algumas pessoas podem tentar justificar
a desigualdade entre homens e mulheres a partir de fundamentações ideológicas antropológicas
e históricas; inclusive, com argumentos religiosos. No entanto, será que a
repetição irrefletida dessas ideias sustenta verdadeiramente a manutenção dessa
desigualdade? Será mesmo que as mulheres são a representação única e plena de
todos os males do mundo? Serão elas tão frágeis e incapazes para serem
consideradas no seio social?
Ora,
enquanto lhes atiramos pedras, lançamos seus corpos e almas às fogueiras
inquisidoras, se não fossem elas a raça humana já teria sido extinta há muitos milênios;
pois, a manutenção da espécie depende delas. Nem mesmo a biotecnologia, os
avanços da fertilização in vitro, a
evolução da genética, nada exime o papel da mulher como guardiã da vida. Percebem
como soa desproposital todas as desconsiderações e estigmas, que
arbitrariamente lhes impingimos? Sem esses milhões de vida providos por elas,
também, não haveria desenvolvimento ou progresso, concordam? Gostem ou não,
está nas mãos delas o poder de todos os poderes.
Mas,
no desconforto que essas reflexões costumam trazer entre muitos viventes,
verdade seja dita, homens e mulheres serão sempre seres humanos, mas jamais
iguais; o que não é nenhuma novidade, na medida em que nenhum individuo é igual
ao outro. Agora, porque eventuais diferenças possam ser consideradas razão para
formalizar uma hierarquia de mais ou menos capazes, melhores ou piores
intelectualmente,... é que precisamos superar. O mesmo ser humano que já chegou à Lua, que
usa e abusa da Tecnologia da Informação,... não pode, em hipótese alguma,
continuar reverenciando tamanhas ignorâncias éticas e morais.
Vejamos
que, no momento de receber e usufruir todos os benefícios, inclusive materiais,
advindos do esforço e do trabalho das mulheres, a sociedade não os considera dispensáveis
ou menos importantes. Verdade! Você já viu, por exemplo, alguma diferença na
alíquota de imposto de renda entre homens e mulheres? No entanto, no que dizem
respeito aos salários, eles e elas recebem valores bem diferentes, no exercício
das mesmas funções. Aliás, segundo dados da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), em dezembro de 2016, o crescimento da desigualdade salarial
entre homens e mulheres cresceu entre as mais diversas atividades remuneradas 1.
Dentro
desse contexto, a reafirmação da desigualdade não impacta somente a economia, no
que diz respeito ao poder de compra, a arrecadação de impostos que consome
grande parte desses baixos salários, ao suprimento das demandas de sobrevivência
humana (em diversos países, incluindo o Brasil, as mulheres apesar desse desequilíbrio
econômico representam um número expressivo de provedoras do lar); mas,
interfere diretamente nas relações sociais, a partir do acirramento ideológico da
superioridade masculina, que fomenta em grande parte os índices de violência,
incluindo o feminicídio.
A sociedade
que aceita a subvalorização feminina está, de certa forma, referendando o
ranqueamento da sua população, entre indivíduos mais ou menos importantes. O que
essa mesma sociedade faz, na verdade, é demonstrar uma total incapacidade de
cuidar, de proteger, de dignificar seus cidadãos de forma igualitária; para,
depois, assistir diariamente o extermínio e a violência, principalmente, contra
as mulheres; sem ao menos se dar conta, do grave prejuízo que isso representa
no contexto da população economicamente ativa de seu país.
É preciso
entender que o empenho, ao longo de séculos, em torno da discussão e da
formulação de reinvindicações igualitárias, por parte das mulheres, não é uma
simples questão de disputa de influência e poder, muito menos, de revanchismo
feminista; trata-se apenas de uma necessidade fundamental de sobrevivência justa
e equilibrada para todos. As relações econômicas e sociais, oriundas do
processo de industrialização, nos impingem cada vez mais a necessidade de
trabalharmos conjuntamente, homens e mulheres, em favor da mitigação dos inúmeros
problemas sociais que afligem a população mundial.
A pauta
base do século XXI é o ser humano, independente de quem ele seja, o que ele
faça, onde ele resida, qual sua história. Respeito e dignidade as mulheres não deve
jamais ser tratado como uma obrigação e, muito menos, uma conquista, como se
não estivéssemos falando de um direito fundamental a todo indivíduo. Mesmo enfrentando
inúmeras oposições e resistências, sobretudo, nas sociedades urbanas
industriais em desenvolvimento ou subdesenvolvidas, as mulheres não abdicam do
seu papel e da sua responsabilidade na parte que lhes cabe no progresso de seus
países. Portanto, pensemos nisso antes de lhes atribuir olhares rasos e periféricos
aos seus corpos, ao invés de enxergar-lhes a grandeza e a fortaleza que reside
em suas almas; mesmo, quando elas próprias, por diversas razões, não conseguem enxergar-se
além da superfície.