domingo, 17 de janeiro de 2016

Reflexão da semana!!!

Chove... sem parar!
 
Por Alessandra Leles Rocha
 
Muito embora o verão seja a estação do sol, do calor escaldante, das roupas leves e coloridas, da descontração explícita, as chuvas fazem parte também do programa. Mas, para quem aprecia o verão tipicamente estereotipado por nós brasileiros, uma chuvinha aqui e ali até pode ser; só fica estranho, quando por razões das mudanças climáticas, o regime chuvoso sai do controle, como se São Pedro quisesse esgotar toda a água do céu.
É. Janeiro começou assim! Chuva. Muita chuva para lavar a alma, os pecados, as injustiças, os descalabros... Nada de uma chuvinha de verão, com hora para começar e terminar, com única finalidade de amenizar as altas temperaturas. Não, as águas a rolarem dos céus não estão de brincadeira. Estão fazendo estragos graves pelo país afora, deixando milhares de desabrigados e muito a ser reconstruído. E para completar, a umidade é tanta que a sensação térmica é de friagem, precisando de blusas e cobertas para aquecer, apesar de ser verão.
Depois de uma estiagem extrema, causando racionamento de água em várias regiões; agora, se vive o contrário. Tudo parece mesmo fora de lugar, inclusive o clima. A vida na Terra que já era guiada pelas surpresas tornou-se uma incógnita mais do que imprevisível. Estamos literalmente ao sabor dos ventos, que sopram de um lado para outro no balé das nuvens de algodão. Dizem os especialistas na área que o Sol também está mais próximo de nós, interferindo na temperatura e, consequentemente, nesse rebuliço atmosférico.
Seja qual explicação for para tudo isso, esse verão nublado e cinza a chorar sua melancolia dia e noite, nos trancafiou dentro de casa e de nossa concha. Arbitrariamente, a chuva antecipou nossos momentos de reflexão e casmurrice outono/inverno; era para estarmos vibrantes, alegres, felizes e saltitando como pipocas pelas ruas... As janelas embaçadas, salpicadas de gotas transparentes e frias, abrigam os frutos do que se faz em dias assim: pensar, pensar; talvez, sonhar... E sem querer percebemos que a chuva chove através de nós silenciosamente.
Entre uma xícara de chá ou café quentinho, uma leitura interessante ou as preciosidades contidas em um bom roteiro de cinema vamos aguardando pelas águas de março fechando o verão; posto que, pela insistência delas não parece que se renderão tão cedo.  Então, terá sido um verão atípico. Mas, em tempos de uma vida tão atípica, tão surreal, tão absurdamente fora de lógica, por que o espanto? Nem nós somos os mesmos! Nem a chuva que cai sem parar é sempre a mesma!
Contudo, isso não significa algo ruim, ou que tenhamos ‘perdido’ o verão, ou deixado de viver dias de inteiro ócio e vagabundagem. Ao contrário, ao sermos subitamente surpreendidos pela insistência de uma chuvinha malcriada fomos lançados ao vento de uma introspecção não voluntária, sem redes de proteção, para fora da zona de conforto. Aí, é como diz a mensagem “O Rio e o Oceano”, do filósofo Osho: Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano. Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento. Assim somos nós. Só podemos ir em frente e arriscar. Coragem! Avance firme e torne-se Oceano!”.
Dizem que a chuva é benção, é purificação, é o que alimenta a vida. Quem sabe, esse verão de águas fartas não seja o nosso caminho para um oceano de dias melhores, mais amenos, mais humanos, hein?!   Cada gotinha de água no guarda-chuva é que constrói o rio em que navega a nossa vida; então, melodicamente entoamos, “Chove chuva, chove sem parar...” 1.



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