Domingo...
Por
Alessandra Leles Rocha
Quase
em regime de consenso o domingo tem sempre uma carinha melancólica, com ares de
preguiça, de vontade se entregar ao mais completo ócio. É! O primeiro dia da
semana não nos passa uma empolgação esfuziante e, talvez, seja por isso que o
restante se torne tão difícil de levar!
Domingo
é o único dia da semana que nos transmite a sensação de domínio sobre os
ponteiros do relógio. Podemos dormir até mais tarde. Podemos realizar as
refeições fora de hora. Podemos escolher a rotina que melhor nos satisfaça. No domingo
nós podemos...!
Mas,
valsando nos seus ares, podemos sim desfrutar de momentos particularmente
interessantes. Seja sob a moldura de um lindo dia de sol ou de pingos d’água
desenhados por conta própria na vidraça embaçada, uma inspiração, quase
inconsciente, nos toma pelas mãos a divagar.
A
quietude do ambiente – menos carros, menos barulho, menos gente – agita o nosso
interior. Na televisão a programação de domingo não inspira muito o despender
da nossa atenção. Então, pensamentos... muitos, variados, coloridos ou não,
surgem para nos fazer companhia. Numa fusão impensada o ontem, o hoje e o
amanhã parecem uma coisa só; tal qual se o tempo não tivesse a força e a
coragem de jamais parar.
Domingo
é dia de buscar a vida no fundo baú; um flashback de emoções e sentimentos. Dia
das trilhas sonoras, das fotografias, dos filmes, das pessoas que estiveram, ou
ainda estão, nos ajudando a escrever nas paginas das lembranças milhares de
historias. Dia de rejuvenescer a alma através da energia que emana de todas as experiências
acumuladas. Dia para rir ou chorar; mas, sobretudo, para se encontrar consigo
mesmo. Nada de solidão! Do sombrio peso de estar só!
O
convite que o domingo nos faz é para o desfrute do prazer indescritível oriundo
da própria companhia. Aquele bom dedo de prosa com os próprios botões,
entende?! Praticamente um balanço semanal da vida, a contabilidade existencial
dos lucros e prejuízos; ora de refazer os planejamentos, selecionar as
prioridades, estabelecer novas metas e delimitar os riscos. É! São tantas variáveis
a nos ocupar, que nem sobra espaço para quaisquer investidas da solidão;
afinal, domingo também é dia para estar com aqueles que queremos tão bem. Perto
ou longe, não importa! A geografia não é desculpa para distanciamentos!
Portanto,
a semana se inicia sempre nos conclamando ao exercício do equilíbrio, do
resgate ao que nos é de fato importante. Por isso, o domingo é um dia atípico!
Precisamos das suas diferenças marcantes para chamar a nossa atenção e nos
envolver; a pausa que antecede a todos os veredictos. Desse modo, os domingos
não se arrastam como fardos pesados; passam breves, suaves e até com gostinho
de quero mais para aqueles que sabem extrair as suas sutis entrelinhas. Carpe
diem!