Já
passou da hora de reconstruirmos o jardim!
Por
Alessandra Leles Rocha
Talvez, algum dia,
o mundo consiga deixar preso às paginas da história o terrível episódio do 11
de setembro. O pior de todos os atos terroristas já cometidos provou para a
humanidade que a violência não precisa necessariamente de armas, canhões ou
bombas atômicas, a astucia perversa do mal pode ser tão, ou mais, nociva. Vidas,
sonhos, famílias, amigos, se perderam em meio aos escombros e ao misto de
gritos e silêncios; o mundo parou e quando recobrou os sentidos a normalidade
não era mais a mesma.
Há exatos onze
anos o planeta Terra convive com a propagação das ondas de violência
deflagradas naquele dia. Não! Não estou dizendo com isso que a violência não
existira até então; ela é um traço da civilização humana e a acompanha desde o
início. Mas por razões étnicas, comportamentais, religiosas, políticas, e
especialmente, econômicas, temos sim vivido tempos limítrofes de violência
demarcados pela insígnia da intolerância. Ainda que em determinados episódios essa
intolerância se manifeste através do uso de armas de fogo e/ou armas brancas, a
repercussão maciça acontece de forma velada, por discursos e por ações.
É! Percebemos de
maneira clara o poder da ideologia, das palavras! Palavras podem ferir, ou até
mesmo matar, sem a necessidade de grandes arsenais bélicos. Munidos pelo ódio,
o revanchismo, a ganância, a intolerância e o poder, seres humanos são capazes
de aniquilar a sua própria espécie. No espaço individual de suas trincheiras invisíveis
ninguém conhece o que se esconde sob a essência humana dos demais; o mundo é reduzido
a um exército de incógnitas. Na balança dos extremos o que é mais importante? Mais
sagrado? Mais...? Cada um tem sua própria resposta.
No contexto de
uma realidade que interrompeu o fluxo natural de consolidação das nossas
relações sócio afetivas, em nome da pressa, da competitividade, do sucesso, do
consumo, o individualismo prejudicou significativamente nossa percepção e
visualização dos semelhantes. Se preocupar, observar, ouvir, dar oportunidades iguais
aos pares parece bastante raro! As estratégias de convivência, ou coexistência,
tem se pautado mais no descarte, nos apontamentos negativos, na invisibilidade,
de modo que os demais se sintam a margem e desconfortáveis para apresentarem
suas habilidades e potencialidades.
Depois do susto
do 11 de setembro quisera o mundo não ter visto mais nenhum derramamento de
sangue, nenhuma matança atroz de civis e militares, nenhuma família fragmentada,
nenhum sonho interrompido,... O ser humano parece tão comprimido pelos efeitos
externos da sociedade que ele não consegue mais resolver suas diferenças e seus
questionamentos, senão pela violência. E o modo mais elementar desse processo
são as palavras de exaltação (mais) e de depreciação (menos), que culminam por
estabelecer o desenvolvimento de grupos sociais que se rivalizam (como acontece
nos casos de bullying, por exemplo) e constroem novos preceitos de ética e
moral. Por isso, muitas vezes, até que o individuo seja vitimado pelas consequências
desse comportamento, ele é um dos que apoiam, aplaudem e consideram tudo
normal; o velho dito popular, “pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Mas,
não precisamos chegar ao extremo, não é? Que violência é essa?! Não há violência
que defenda a honra, nem o credo, nem o status social, nem a nação, nem coisa
alguma. Violência não garante o emprego, não aumenta o salário, não extirpa a
crise! Violência jamais abrirá os olhos para enxergar, para transformar, muito
menos para pacificar; então, já passou da hora de reconstruirmos o jardim!