Por Alessandra Leles Rocha
Somos um povo com características muito próprias, às vezes até peculiares; mas, demonstramos certa similaridade com o comportamento tipicamente conservador e tradicional dos norte-americanos nesta eleição. Os valores familiares, tão questionados pelos yankees em diversas disputas pelo poder e que levaram muitos candidatos à perda de uma conquista indubitável, soprou forte sobre o nosso país.
A imprensa reafirma o que captaram as agências de pesquisa eleitoral sobre o fato de o voto religioso ter impedido a vitória da candidata que se apresentava à frente no 1º turno 1. O Brasil é visto por muitos como um país muito liberal sob vários aspectos; mas, se esquecem de que as bases tradicionais firmadas pela doutrina cristã ao longo da consolidação deste território estão ainda muito presentes; além da reafirmação perene de comportamentos divergentes do ponto de vista ético e moral nas relações políticas e de poder.
Como diz o provérbio, “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”; a sociedade brasileira, se não por completo, já se sente cansada e desgastada dos comportamentos inapropriados, contraditórios e agressivos cometidos em desfavor da sua gente. Levantar uma questão como a legalização do aborto foi o mesmo que mexer em um vespeiro! Tanta sujeira rolando no cenário nacional e ainda atentar contra o direito a vida! Ah! Foi a gota d’água! Porque se há um pensamento desfavorável ao nascimento de uma criança, por detrás do discurso poderá também se esconder outros meandros desse direito a vida, como a perda da liberdade de expressão, a ruptura com a democracia, a insegurança quanto ao direito da propriedade privada, enfim...
A realidade desse segundo turno parece ter vindo amparada pela vontade de uma manifestação pública e real das intenções, ou melhor, do programa de governo; afinal, não se governa um país com promessas e vagas intenções. Aqui dentro ou lá fora temos metas emergenciais a serem cumpridas, as quais foram estabelecidas para o desenvolvimento do país e consequentemente para resguardar a sua credibilidade internacional. O que se fala deve estar escrito, documentado, para que não se cometam equívocos com discursos ambíguos, paradoxais. Além disso, a análise pessoal do candidato também pesa na balança. O candidato não é um ser que surgiu do nada para de repente concorrer ao pleito eleitoral; ele tem vida, tem história, tem uma trajetória para apresentar e que só pode ser feita por ele mesmo. E neste caso, quem conta o conto, não pode aumentar um ponto, porque o que se escreve no currículo tem que ser comprovado. Tomem como exemplo o Tiririca, eleito o deputado com o maior número de votos na história, prestes a ter a sua candidatura indeferida se comprovado que ele mentiu ser alfabetizado2.
Aos que desacreditaram na força mobilizadora da Lei da Ficha Limpa, mais do que atuar na exclusão de políticos impróprios ao ingresso ou permanência na vida pública, ela desestabilizou a cômoda posição do eleitorado, a apatia arraigada no discurso de que “a política no Brasil não tem jeito”. A presença de novas lideranças, de novos estilos de discurso e comprometimento com a sociedade também somaram forças nessa ruptura de paradigma. Se o povo brasileiro espera mais desse país, o mundo também espera! Nossa evidência colocou-nos mais perto dos perigos, nos engajamos em alianças internacionais que cobram preços altos pelo nosso melhor desempenho. Por isso o equilíbrio, a serenidade, o bom senso, o comprometimento precisam estar pulsando na nossa consciência no momento da escolha. Como disse Churchill3, “A vida dá lições que só se dão uma vez” 4.