Façam o
que fizerem, nada muda os fatos.
Por Alessandra
Leles Rocha
Melhor assim. Cartaz sobre a
mesa. Porque silêncios falam por si. Omissões falam. Traições falam. Dissimulações
falam. E ao contrário do que pensam, uns e outros do Congresso Nacional, nada
dessa discursividade tem, de fato, caráter de afronta, de disputa, de
animosidade contra o Executivo ou o Judiciário.
O que revela a linguagem
utilizada pelo Congresso Nacional, ao menos em parte dele, é o desprezo, o
desrespeito e a arbitrariedade nutrida em relação ao eleitor, ao cidadão
brasileiro. Eles próprios não deixam dúvidas de que o Congresso é sim, inimigo
do povo!
E isso vai muito além dos pouco
mais de 200 milhões de cidadãos! Essa é uma inimizade contra o país em si! Que
prova de maneira cabal não só o desconhecimento desses indivíduos sobre o
significado de cidadania e de ética, como a dimensão do seu despreparo para o
ofício da representação político-partidária de seus eleitores.
Ora, o episódio de 8 de Janeiro
de 2023 teve um impacto ético e cidadão profundo, revelando uma crise de
civilidade e respeito às instituições democráticas, com significados
sociológicos importantíssimos.
Só para recapitular, o Brasil e o
mundo assistiram a exibição repugnante da polarização extrema, da
desinformação, da fragilização do Estado de Direito, e da luta entre a barbárie
e a civilização, marcando uma tentativa de golpe que, ao falhar, reforçou a
resiliência democrática e a necessidade de educação cívica e punição dos
responsáveis.
Então, como aceitar que a Câmara
dos Deputados busque aprovar sorrateiramente uma Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) de Anistia, a partir de uma redução das penas impostas aos
condenados pelo judiciário nacional? Uma aprovação é simplesmente a tradução de
uma "autoanistia", por parte do próprio Congresso, ou de um
"salvo-conduto" para crimes hediondos, gerando cinismo e desconfiança
na população em relação à moralidade e à imparcialidade dos legisladores e do
sistema político como um todo.
Aliás, não para por aí. Não se
pode esquecer da condescendência em torno de três deputados federais, réus em
processos recentemente julgados pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal
(STF), que se encontram foragidos internacionalmente. Eles, até o momento, não
perderam seus mandatos ou sofreram quaisquer repreendas, parte da referida instância
legislativa, diante de tamanha falta de decoro e desvio de função constitucional.
Inclusive, demoraram para ter seus vencimentos e penduricalhos legislativos
suspensos, o que gerou um ônus desnecessários aos cofres do país.
Vira daqui, mexe dali, a verdade
é uma só. Bem mais do que desfaçatez, os acontecimentos recentes no Congresso
Nacional, dão conta do desespero que se abateu sobre certos membros do
Legislativo federal.
Agora, eles se encontram
profundamente desconfortáveis com a mudança de cenário promovida pelas
investigações e ações da Polícia Federal (PF).
A impunidade que sempre circulou
pelas altas rodas do poder está ameaçada. A complexa teia de delitos que se
ramifica, também, por lá, começou a ser revelada a partir do trabalho da PF.
Por isso, querem anistiar. Querem
reduzir penas. Querem blindar. Querem calar todo tipo de ruídos e clamores
populares. Querem segurar com unhas e dentes a sua herança histórica colonial, considerando
que o Legislativo, ao longo do tempo, tem funcionado como um espaço de
acomodação dos interesses das elites econômicas.
Algo que resulta em uma
representação política que prioriza os interesses do capital e da propriedade
privada em detrimento das demandas das classes populares.
Mas, façam o que fizerem, nada
muda os fatos. A verdade é a verdade. Doa a quem doer. Afina de contas, eles próprios
já colocaram as cartas sobre a mesa, já jogaram as máscaras no chão, já se
despiram das personagens, já rasgaram as fantasias.
A verdade está nua e crua, para
quem quiser ver. Aberta ao escrutínio popular, como um aperitivo para o ano
eleitoral que surgirá no horizonte de 2026. Cada atitude intempestiva,
irracional, imprudente, incinera o pouco que resta do carcomido e famigerado
capital político desses indivíduos.
Por isso, eles deveriam se atentar para o fato de que as ações e decisões têm consequências concretas e, na maioria das vezes, irreversíveis. Nesse sentido, uma eventual confissão pública de arrependimento, posteriormente a catástrofe, só faria reforçar o sinal de fraqueza, de inconsistência ou de erro de julgamento, que os fez agir. Bom, é como diz o provérbio: "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come"!






