quinta-feira, 26 de junho de 2025

Qual o motivo do espanto, da perplexidade?


Qual o motivo do espanto, da perplexidade?

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Qual o motivo do espanto, da perplexidade? Não é a primeira e, certamente, não será a última vez, que parte da representatividade político-partidária nacional se despe da ética, da moral e do compromisso constitucional, para trair a pátria. Vamos, lá! Vamos fazer uma breve retrospectiva dos acontecimentos. Lembrando que não há acasos e nem coincidências na historicidade brasileira.

Dada a sua gênese colonial, as forças do poder concentradas, ao longo de pouco mais de 500 anos, nas mãos de uma ínfima minoria, é desde sempre refratária a quaisquer movimentos que busquem uma transformação social por meio de reformas e avanços, geralmente em áreas como direitos humanos, igualdade social e justiça. Bem, mas é nas mãos dessa gente que, também, se concentram os poderes político-partidários.

Portanto, a verdade é que essa gente não se sente representante de quem não pertença ao seu nicho social. O que significa que eles não se veem obrigados ou compromissados a trabalhar em favor das camadas que os sustentam na pirâmide social.  Pelo contrário, eles estão sempre a postos para defender os seus interesses e os daqueles que lhes são apoiadores, financiadores e simpatizantes. Afinal, eles não estão dispostos a incorrer em aventuras que sinalizem uma   transformação social, no país.

Daí a fúria, a indignação, o inconformismo, sob diferentes formas e conteúdos, que essa gente tem apresentado para retomar as rédeas do Brasil, em suas mãos; bem como, banir, a qualquer preço, a presença física e ideológica das correntes progressistas, no país. Haja vista a arquitetura de um processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff. A prisão do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para impossibilitá-lo de concorrer às eleições de 2018. As maquinações engendradas para desqualificar o sistema eleitoral brasileiro, a partir de 2019. E a configuração de inúmeros atos antidemocráticos, que culminaram na depredação das sedes dos Poderes, em Brasília, no 08 de janeiro de 2023.

Acontece que o resultado dessa empreitada não foi o esperado. Apesar de todos os pesares, o progressismo retornou ao poder. Antevendo essa possibilidade, mesmo valendo-se de todo o uso da máquina pública para garantir que o resultado das urnas, em 2022, os favorecesse, eles trabalharam arduamente no desmantelamento da organização institucional, do país.

Não bastasse a imposição de um modelo político-administrativo com plena ênfase no livre mercado, na intervenção mínima estatal, na desregulamentação, na privatização, na austeridade fiscal, ainda que em detrimento do bem-estar social, a gestão federal entre 2019 e 2022, deixou um campo minado para o governo posterior.

Aliás, eu trouxe esse assunto em textos como, “Até o apagar das luzes...” 1, “Orçamento federal para 2023. Reminiscências do Beija-Mão.” 2 e “Promessas, prioridades, necessidades... O impasse da LDO/2023” 3.

Portanto, basta de ingenuidade! A historicidade humana não deixa dúvidas sobre o quanto as relações sociais são atravessadas e manipuladas pela força do poder econômico. Assim, considerando o fato de que um governo progressista foca em questões como, por exemplo, a eliminação da pobreza, da discriminação e do acesso aos serviços básicos, minar sob diferentes aspectos a economia é uma estratégia de fragilização e obstaculização para o engessamento das pautas governamentais.

Clara e objetivamente, a decisão do presidente da Câmara dos Deputados em pautar e colocar em votação, na calada da noite, de forma inesperada, o projeto que derruba o decreto do governo federal sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) 4, é só mais um estratagema de reapropriação do poder pelos herdeiros históricos do topo da pirâmide social.

Trata-se de uma atitude que não é menos ruim ou grave do que a barbárie do 08 de janeiro de 2023, na medida em que tem como pano de fundo, o mesmo objetivo, ou seja, demonstrar aos quatro cantos do país a sua fúria, a sua indignação, o seu inconformismo, diante de quaisquer iniciativas que teimem em alterar o seu status quo. Eles e seus apoiadores, financiadores e simpatizantes não desejam um país diferente do que herdaram de suas ascendências.  

Bem, e se há fúria, indignação e inconformismo, pode-se esperar novos movimentos contra o governo. De modo que é preciso trazer à tona, à luz da população, de maneira didática, o que está acontecendo no país e o que pode vir a acontecer. As pressões e tensões, para impedir que o Brasil construa uma sociedade mais justa e equitativa, estão cada vez mais acirradas. É fundamental que a população entenda a dimensão das perdas que isso representa para ela, no seu dia a dia, antes que ela descubra da pior forma.

 Não nos esqueçamos das palavras de Bertolt Brecht, quando diz que “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.

domingo, 22 de junho de 2025

O mundo. Seus pedaços. Seus remendos.


O mundo. Seus pedaços. Seus remendos.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não, não adianta negar. Fugir. Se esconder. Desconversar. O cenário atual do mundo, repleto de guerras e conflitos, não deixa dúvidas quanto a um processo de desdemocratização global. Em linhas gerais, isso significa que as correntes de poder, lideradas principalmente pela ultradireita, estão imbuídas em trabalhar a favor da redução de direitos, liberdades e participação popular.

Guerras e conflitos são um prato cheio para essa ideia. Afinal, eles estabelecem um cenário bastante favorável à submissão e ao desalento, por parte de todos aqueles que se encontram abaixo das linhas de poder. Não é à toa que a beligerância vem explodindo de um lugar para outro, sem trégua, sem limites, sem razão.

Na verdade, esse é um processo contextualizado pelas idas e vindas dos ciclos colonizatórios e imperialistas, os quais a historicidade tem muito a revelar. O que importa, diante da conjuntura atual, é entender as razões que levam certos grupos a lançarem mão da desdemocratização como estratagema de manutenção e preservação de poder.

O grande passo dado pela humanidade com a Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII, fracassou nas suas promessas. A começar pelo fato, por exemplo, de que a autorregulação do mercado, sem intervenção estatal, não foi capaz de garantir o bem-estar social. Além disso, os custos sociais e ambientais das atividades econômicas, como poluição e degradação ambiental, mostraram-se inúteis e desproporcionais diante de recursos naturais finitos, os quais a qualquer momento podem causar a paralização dos processos. Assim, busca-se com a deflagração de um estado de beligerância global promover um elevado tensionamento social que submeta a população aos ordenamentos impostos pelas forças de poder.

Algo já conhecido historicamente nos tempos coloniais e/ou imperialistas. Acontece que nesse tipo de geopolítica, em pleno curso, na contemporaneidade, há uma nova sistemática de apropriação indevida do espaço geográfico e, portanto, um rearranjo das fronteiras e limites territoriais, à revelia da soberania dos países. De modo que os ciclos exploratórios, sob diferentes formas e conteúdos, acontece alheia aos parâmetros jurídicos, inclusive, do direito internacional. Essa grave violação de direitos, geralmente através da força militar e com a perda de autonomia da região colonizada, ameaça populações inteiras, no que diz respeito à sua identidade e patrimônio nacional.    

Sem contar que, dentro desse contexto, o papel da desdemocratização busca enfraquecer as instituições locais, estabelecer leis que enfraquecem, de diferentes maneiras, o exercício cidadão, acirrar a desigualdade social e econômica, usar a máquina estatal em favor dos seus interesses privados, e, por fim, causar a erosão completa do Estado de Direito a fim de que as leis existentes sejam aplicadas de forma seletiva ou não sejam respeitadas.

É isso o que está acontecendo no mundo, em pleno século XXI. Para garantir que os processos industriais permaneçam, por mais algum tempo, viáveis e que a acumulação de capitais esteja dentro dos parâmetros esperados pelas elites do poder, esse é o preço que está sendo cobrado da humanidade. Haja vista a escalada de violência e de práxis autoritárias, que vem sendo empregada nas guerras e conflitos, em curso.

Bem, dizia Agustina Bessa-Luís, escritora portuguesa, “As guerras não surgem por motivos econômicos ou passionais. É uma atitude de indivíduos abandonados à razão, incluindo a razão do seu mundo interior isolada do mundo exterior”. Mas, seja por qual motivo for, a única verdade é que “Ninguém ganhou a última guerra nem ninguém ganhará a próxima” (Eleanor Roosevelt - Ex-primeira-dama dos Estados Unidos).

Afinal, “Não é a paz que lhe interessa. Eles se preocupam é com a ordem, o regime desse mundo. (...) O problema deles é manter a ordem que lhes faz serem patrões. Essa ordem é uma doença em nossa história” (Mia Couto - O Último Voo do Flamingo, 2000). Por essa razão, “Sorte a dos que, deixando de ser humanos, se tornam feras. Infelizes os que matam a mando de outros e mais infelizes ainda os que matam sem ser a mando de ninguém. Desgraçados, enfim, os que, depois de matar, se olham ao espelho e ainda acreditam serem pessoas” (Mia Couto - Mulheres de Cinza, 2015).


DOE SANGUE. VOCÊ PODE.

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sábado, 21 de junho de 2025

Para cada criança no mundo ...

“A infância não é um tempo, não é uma idade, uma coleção de memórias. A infância é quando ainda não é demasiado tarde. É quando estamos disponíveis para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar. A infância é uma janela que, fechada ou aberta, permanece viva dentro de nós”.

(Mia Couto. Tradutor de chuvas. Portugal: Ed Caminho, 2015.)

20 de junho - Dia Mundial do Refugiado


Todos os anos, em 20 de junho, o mundo honra a força e a coragem das pessoas que foram forçadas a deixar seu país de origem em função de conflitos, perseguições e violações de seus direitos. A data reforça a necessidade de seguir defendendo o direito delas de buscar proteção e de serem devidamente incluídas no país de acolhida.

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https://www.acnur.org/br/dia-mundial-do-refugiado


quinta-feira, 19 de junho de 2025

Documentário: "REY, ciência em defesa da vida"


Ele foi para a Amazônia como médico. Levou jovens para conhecer a realidade do país. Foi proibido de ensinar e pesquisar pelo regime militar. Combateu as doenças da pobreza em diversos países. Orientou e formou dezenas de alunos. Escreveu livros. 'Rey, ciência em defesa da vida' é um documentário sobre o legado de um brasileiro. Realização: Instituto Oswaldo Cruz / Fiocruz Apoio: Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde / Fiocruz Ano da produção: 2018 Distribuição: VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz e Editora Fiocruz

Cientistas fazem apelo para uma resposta coordenada e sistêmica visando a proteção de crianças expostas a agrotóxicos

Em artigo de discussão recém-publicado na revista STOTEN (Science of The Total Environment, Volume 990), o professor Rafael Buralli, do Departamento de Política, Gestão e Saúde da FSP-USP, lidera um time internacional de autores em um importante e urgente chamado à ação, envolvendo a vigilância e a proteção à saúde de crianças expostas a agrotóxicos em áreas rurais de países com menor renda. [...]

Saiba mais e leia o artigo na íntegra em

https://www.fsp.usp.br/site/noticias/mostra/61692