terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Façam o que fizerem, nada muda os fatos.


Façam o que fizerem, nada muda os fatos.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Melhor assim. Cartaz sobre a mesa. Porque silêncios falam por si. Omissões falam. Traições falam. Dissimulações falam. E ao contrário do que pensam, uns e outros do Congresso Nacional, nada dessa discursividade tem, de fato, caráter de afronta, de disputa, de animosidade contra o Executivo ou o Judiciário.

O que revela a linguagem utilizada pelo Congresso Nacional, ao menos em parte dele, é o desprezo, o desrespeito e a arbitrariedade nutrida em relação ao eleitor, ao cidadão brasileiro. Eles próprios não deixam dúvidas de que o Congresso é sim, inimigo do povo!

E isso vai muito além dos pouco mais de 200 milhões de cidadãos! Essa é uma inimizade contra o país em si! Que prova de maneira cabal não só o desconhecimento desses indivíduos sobre o significado de cidadania e de ética, como a dimensão do seu despreparo para o ofício da representação político-partidária de seus eleitores.

Ora, o episódio de 8 de Janeiro de 2023 teve um impacto ético e cidadão profundo, revelando uma crise de civilidade e respeito às instituições democráticas, com significados sociológicos importantíssimos.

Só para recapitular, o Brasil e o mundo assistiram a exibição repugnante da polarização extrema, da desinformação, da fragilização do Estado de Direito, e da luta entre a barbárie e a civilização, marcando uma tentativa de golpe que, ao falhar, reforçou a resiliência democrática e a necessidade de educação cívica e punição dos responsáveis.

Então, como aceitar que a Câmara dos Deputados busque aprovar sorrateiramente uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de Anistia, a partir de uma redução das penas impostas aos condenados pelo judiciário nacional? Uma aprovação é simplesmente a tradução de uma "autoanistia", por parte do próprio Congresso, ou de um "salvo-conduto" para crimes hediondos, gerando cinismo e desconfiança na população em relação à moralidade e à imparcialidade dos legisladores e do sistema político como um todo.

Aliás, não para por aí. Não se pode esquecer da condescendência em torno de três deputados federais, réus em processos recentemente julgados pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que se encontram foragidos internacionalmente. Eles, até o momento, não perderam seus mandatos ou sofreram quaisquer repreendas, parte da referida instância legislativa, diante de tamanha falta de decoro e desvio de função constitucional. Inclusive, demoraram para ter seus vencimentos e penduricalhos legislativos suspensos, o que gerou um ônus desnecessários aos cofres do país.

Vira daqui, mexe dali, a verdade é uma só. Bem mais do que desfaçatez, os acontecimentos recentes no Congresso Nacional, dão conta do desespero que se abateu sobre certos membros do Legislativo federal.

Agora, eles se encontram profundamente desconfortáveis com a mudança de cenário promovida pelas investigações e ações da Polícia Federal (PF).

A impunidade que sempre circulou pelas altas rodas do poder está ameaçada. A complexa teia de delitos que se ramifica, também, por lá, começou a ser revelada a partir do trabalho da PF.

Por isso, querem anistiar. Querem reduzir penas. Querem blindar. Querem calar todo tipo de ruídos e clamores populares. Querem segurar com unhas e dentes a sua herança histórica colonial, considerando que o Legislativo, ao longo do tempo, tem funcionado como um espaço de acomodação dos interesses das elites econômicas.

Algo que resulta em uma representação política que prioriza os interesses do capital e da propriedade privada em detrimento das demandas das classes populares.

Mas, façam o que fizerem, nada muda os fatos. A verdade é a verdade. Doa a quem doer. Afina de contas, eles próprios já colocaram as cartas sobre a mesa, já jogaram as máscaras no chão, já se despiram das personagens, já rasgaram as fantasias.

A verdade está nua e crua, para quem quiser ver. Aberta ao escrutínio popular, como um aperitivo para o ano eleitoral que surgirá no horizonte de 2026. Cada atitude intempestiva, irracional, imprudente, incinera o pouco que resta do carcomido e famigerado capital político desses indivíduos.

Por isso, eles deveriam se atentar para o fato de que as ações e decisões têm consequências concretas e, na maioria das vezes, irreversíveis. Nesse sentido, uma eventual confissão pública de arrependimento, posteriormente a catástrofe, só faria reforçar o sinal de fraqueza, de inconsistência ou de erro de julgamento, que os fez agir. Bom, é como diz o provérbio: "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come"!