segunda-feira, 7 de julho de 2025

Sobre regalias e privilégios


Sobre regalias e privilégios

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não se deixe enganar! Constrangimento, no Brasil, não significa muita coisa. Depois de terem sido traídos pela própria sanha por ampliar o poder no Congresso Nacional, eles já articulam uma nova forma de silenciar a parcela político-partidária que faz oposição aos seus mandos e desmandos legislativos.

Sim, o presidente do Senado, busca aprovar um projeto que impeça partidos de recorrerem ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra votações da Câmara. Em linhas gerais, isso significa conter a judicialização de pautas absurdas e inconstitucionais, as quais direta ou indiretamente afetam os interesses da população, evitando quaisquer arbitragens por parte do Judiciário.

Ora, não fossem as vozes ruidosas, dessa oposição, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), o cenário político nacional estaria muito pior. De fato, têm sido eles os responsáveis por questionar as aberrações que tramitam pelas Casas Legislativas, em Brasília, quase sempre na calada da noite e a toque de caixa, para evitar que passem despercebidas da opinião pública.

E de tanto fazer e fazer e fazer, eis que “a casa caiu”, com o recente episódio do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Se alguém ainda tinha dúvidas quanto ao ranço colonial cultivado pelas elites brasileiras, o espectro político-partidário de Direita fez questão de não deixar pedra sobre pedra a respeito. O que fez a resposta popular ser imediata, com toda a força da Tecnologia e das mídias sociais.

Por essas e por outras, esse pessoal está furioso com a repercussão negativa a seu respeito. Acostumados a darem seus nós em pingos d’água e silenciarem a indignação popular através de quireras e migalhas, não perceberam o tamanho do problema que é se manter preso a um recorte do tempo, sem observar as metamorfoses que acontecem no mundo à revelia de quem quer que seja.

Pois é, habituados a olhar o mundo da perspectiva do topo da pirâmide, de fato, suas vidas transcorrem sem sustos e sobressaltos, dando-lhes a falsa impressão de que nada muda. Acontece que, em contrapartida, os 99% restantes da pirâmide vivem uma realidade bem diferente, na qual a mudança é palavra de ordem a todo instante. Especialmente, quando o assunto lhes fala diretamente às suas demandas históricas de sobrevivência e de dignidade.

Diante dessa efervescência, então, sugiro que apertem os cintos, porque o tensionamento tende a se acirrar. O que temos assistido, no país, desde 2016, é a representação político-partidária de Direita e seus apoiadores, financiadores e simpatizantes, se digladiando por um retorno triunfante e absoluto ao Poder. Haja vista a recente tentativa de Golpe de Estado, cujo ápice foi a depredação do patrimônio histórico nacional, nas sedes dos poderes da República, em Brasília, em 08 de janeiro de 2023.

Para essa gente, parada no tempo e no espaço, é difícil admitir as ondas de transformação que avançam sobre o mundo, desconstruindo, reconstruindo e, às vezes, ressignificando, paradigmas, valores, crenças e princípios. Essas pessoas aprenderam que o dinheiro é poder e que isso basta. Só que não. A dinâmica do mundo, das sociedades, depende diretamente do ser humano. Suas necessidades. Seus sonhos. Suas metas. Seus trabalhos. ... Porque pessoas são as responsáveis por mover as engrenagens sociais, culturais, políticas e econômicas. São elas as grandes protagonistas da história, seja para o bem ou para o mal.

Assim, em mais um capítulo desse eterno cabo de guerra sobre regalias e privilégios, de uns poucos em detrimento de uma maioria, o qual já perdura pouco mais de 500 anos, só nos resta prestar bastante atenção aos acontecimentos, intervindo no roteiro, sempre que se fizer necessário. Afinal de contas, nosso histórico colonial não só, não nos permite esquecer de que "A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos" 1 (Mia Couto); mas, também, "Quando as teias de aranha se juntam, elas podem amarrar um leão” (Provérbio africano) 2.



1 COUTO, M. Pensatempos: textos de opinião. Lisboa: Caminho, 2005.

2 COUTO, M. A confissão da leoa. Lisboa: Editorial Caminho, 2012.