Sobre regalias
e privilégios
Por Alessandra
Leles Rocha
Não se deixe enganar!
Constrangimento, no Brasil, não significa muita coisa. Depois de terem sido traídos
pela própria sanha por ampliar o poder no Congresso Nacional, eles já articulam
uma nova forma de silenciar a parcela político-partidária que faz oposição aos
seus mandos e desmandos legislativos.
Sim, o presidente do Senado, busca
aprovar um projeto que impeça partidos de recorrerem ao Supremo Tribunal
Federal (STF) contra votações da Câmara. Em linhas gerais, isso significa conter
a judicialização de pautas absurdas e inconstitucionais, as quais direta ou
indiretamente afetam os interesses da população, evitando quaisquer arbitragens
por parte do Judiciário.
Ora, não fossem as vozes ruidosas,
dessa oposição, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), o cenário político
nacional estaria muito pior. De fato, têm sido eles os responsáveis por
questionar as aberrações que tramitam pelas Casas Legislativas, em Brasília,
quase sempre na calada da noite e a toque de caixa, para evitar que passem
despercebidas da opinião pública.
E de tanto fazer e fazer e fazer,
eis que “a casa caiu”, com o recente episódio do Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF). Se alguém ainda tinha dúvidas quanto ao ranço colonial cultivado
pelas elites brasileiras, o espectro político-partidário de Direita fez questão
de não deixar pedra sobre pedra a respeito. O que fez a resposta popular ser
imediata, com toda a força da Tecnologia e das mídias sociais.
Por essas e por outras, esse
pessoal está furioso com a repercussão negativa a seu respeito. Acostumados a
darem seus nós em pingos d’água e silenciarem a indignação popular através de quireras
e migalhas, não perceberam o tamanho do problema que é se manter preso a um
recorte do tempo, sem observar as metamorfoses que acontecem no mundo à revelia
de quem quer que seja.
Pois é, habituados a olhar o
mundo da perspectiva do topo da pirâmide, de fato, suas vidas transcorrem sem
sustos e sobressaltos, dando-lhes a falsa impressão de que nada muda. Acontece que,
em contrapartida, os 99% restantes da pirâmide vivem uma realidade bem
diferente, na qual a mudança é palavra de ordem a todo instante. Especialmente,
quando o assunto lhes fala diretamente às suas demandas históricas de sobrevivência
e de dignidade.
Diante dessa efervescência,
então, sugiro que apertem os cintos, porque o tensionamento tende a se acirrar.
O que temos assistido, no país, desde 2016, é a representação político-partidária
de Direita e seus apoiadores, financiadores e simpatizantes, se digladiando por
um retorno triunfante e absoluto ao Poder. Haja vista a recente tentativa de Golpe
de Estado, cujo ápice foi a depredação do patrimônio histórico nacional, nas
sedes dos poderes da República, em Brasília, em 08 de janeiro de 2023.
Para essa gente, parada no tempo
e no espaço, é difícil admitir as ondas de transformação que avançam sobre o
mundo, desconstruindo, reconstruindo e, às vezes, ressignificando, paradigmas,
valores, crenças e princípios. Essas pessoas aprenderam que o dinheiro é poder
e que isso basta. Só que não. A dinâmica do mundo, das sociedades, depende
diretamente do ser humano. Suas necessidades. Seus sonhos. Suas metas. Seus trabalhos.
... Porque pessoas são as responsáveis por mover as engrenagens sociais, culturais,
políticas e econômicas. São elas as grandes protagonistas da história, seja
para o bem ou para o mal.
Assim, em mais um capítulo desse
eterno cabo de guerra sobre regalias e privilégios, de uns poucos em detrimento
de uma maioria, o qual já perdura pouco mais de 500 anos, só nos resta prestar
bastante atenção aos acontecimentos, intervindo no roteiro, sempre que se fizer
necessário. Afinal de contas, nosso histórico colonial não só, não nos permite
esquecer de que "A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de
produzir riqueza, produz ricos" 1
(Mia Couto); mas, também, "Quando as teias de aranha se juntam,
elas podem amarrar um leão” (Provérbio africano) 2.