CORRUPÇÃO
...
Por Alessandra
Leles Rocha
Segundo o relatório anual da Transparência
Internacional sobre o Índice de Percepção de Corrupção, o qual estabelece o
ranking dos países do mundo de acordo com o grau em que a corrupção é percebida
como existente entre os funcionários públicos e políticos, o Brasil apresentou
retrocesso e ficou na 107ª posição na edição de 2024.
Lamento, mas corrupção no Brasil
é presença constante na sua historicidade. Eu sei que a corrupção não é um
privilégio nacional; mas, por aqui ela é uma terrível endemia. Não pelo fato
das práxis em si; mas, pelo modo como a própria sociedade lida e trivializa os
acontecimentos.
Corrupção não é só um caso de
polícia, de justiça. Mais do que isso, corrupção é caso de profundo
desvirtuamento e desconsideração com a própria identidade cidadã. Trata-se da manifestação
mais contundente da desimportância que se dá ao senso coletivo. Um olhar
estritamente individualista e narcísico.
Mas, não para por aí. A corrupção
também encontra espaço para prosperar, por conta das fragilidades e
vulnerabilidades democráticas, dos excessos burocráticos, da plutocracia 1, das desigualdades socioeconômicas,
dos baixos níveis educacionais. Afinal, esse emaranhado contexto social dificulta
a promoção de políticas adequadas e eficazes contra a corrupção.
Por isso, se engana quem pensa
que a corrupção só existe mediante grandes ilícitos. Não. A corrupção come
pelas beiradas. Lenta e gradualmente. Suborno. Peculato (Apropriação indébita
ou Rachadinha). Tráfico de influência. Fisiologismo.
Nepotismo. Clientelismo. ... Somente, quando a situação já está impossível de esconder
é que a notícia explode para conhecimento da opinião pública.
Aí, se tem a grande decepção. Por
mais que a polícia e a justiça se empenhem no combate às práxis da corrupção, chegou-se
a um ponto, no país, que a sociedade não mais se escandaliza ou enfurece, a
respeito. Simplesmente, vê os casos como algo trivial, banal, natural à
historicidade brasileira.
Acontece que esse pensamento
legitima a corrupção. Daí ela persistir; pois, não encontra uma resistência social
forte e robusta. Além disso, é importante ressaltar que esse comportamento,
também, contribui significativamente para uma explosão de absurdos, os quais
pelo fato de serem amparados por lei, não se caracterizam como crimes. Porém, do
ponto de vista ético e moral são tão escandalosos e ultrajantes quanto a
corrupção.
É o caso, por exemplo, dos
supersalários. Enquanto milhões de brasileiros fazem malabarismos econômicos para
sobreviver com seu salário-mínimo, uma parcela ínfima de cidadãos, que atuam
nas estruturas dos Poderes da República, desfrutam de pequenas fortunas pagas
mensalmente. Sim, além dos salários vultosos, essa gente incorpora uma série de
benefícios adicionais, os chamados penduricalhos.
Algo que rompe flagrantemente com
o princípio da igualdade constitucional. Não, não somos iguais, caro (a) leitor
(a)! Por conta dessas regalias e privilégios, esses indivíduos são alçados a
uma posição de superioridade e importância, a qual sequer os permite ver, com nitidez
e clareza, a dura realidade da grande massa da população. Talvez, por isso, as
mazelas que se arrastam historicamente, no país, lhes passem sempre despercebidas.
É, já dizia o Barão de Montesquieu,
“A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus
princípios”. Vale ressaltar, ao ler governantes, leia-se todos aqueles que
são cobertos por regalias e privilégios custeados com o dinheiro público. São esses
que se permitem flexibilizar seus princípios a fim de satisfazer suas conveniências
e interesses.
Por essas e por outras, “Quando
observares a corrupção a ser recompensada e a honestidade a converter-se em
autossacrifício; então poderás constatar que a tua sociedade está condenada” (Ayn
Rand). É nesse tipo de autorreflexão que reside o ímpeto de resgatar o
pudor cidadão, capaz de não permitir a continuidade e a perpetuação da
banalização ou da trivialização dos atos que afrontam a ética e a moral, no
país.