segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Hostilidade e beligerância eleitoral

Hostilidade e beligerância eleitoral

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

A hostilidade e a beligerância sempre marcaram as disputas eleitorais no Brasil. No entanto, com o advento das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), a escalada desse movimento vem atingindo patamares cada vez mais perigosos e antiproducentes ao verdadeiro debate de ideias.

Recortes midiáticos, Fake News e outras estratégias, então, favorecem ao profundo esgarçamento da proposição dos planos de governo. A busca por likes e compartilhamentos parece ser o objeto central das campanhas eleitorais em detrimento da discussão sobre as demandas sociais.

Mas, não bastasse isso, uma certa omissão silenciosa, por parte da Justiça Eleitoral, em relação às condutas de certos candidatos e seus históricos pregressos, recheados por práxis delituosas, precisa ser questionada. Afinal, tal flexibilização permissiva do judiciário brasileiro contribui sim, para a consolidação de verdadeiras arenas de vale-tudo.

Começam pela violência verbal e atingem as vias de fato em um piscar de olhos. Assim, ao invés de promover suas plataformas de governo, o que explode em suas redes sociais é a visualização da verborragia e de todos os tipos de manifestações de vulgaridade. De modo que a campanha eleitoral tem se transformado em monetização do absurdo, da irracionalidade, do despautério.

O que, infelizmente, acontece pelo excesso de cautela da Justiça brasileira para punir candidatos e respectivos partidos políticos. Aliás, os veículos de comunicação e de informação trouxeram, no fim de semana, a notícia de que três procurados da Justiça, pelos atos criminosos em 08 de janeiro de 2023, se lançaram candidatos e faziam campanha sem serem presos. Antes disso, circularam notícias a respeito de organizações criminosas que vêm trabalhando para eleger representantes no cenário-político partidário.

Pois é, essa é a tecitura representativa que o país vem construindo. Ela acentua os piores valores e princípios existentes. Está fazendo uma aposta perigosa no “quanto pior melhor”. Algo que escancara a despreocupação total com a solução dos problemas que afetam milhares de pessoas todos os dias. Enquanto, uns e outros, por aí, focam na exaltação dos seus próprios interesses.

Tão atuais as palavras de Rui Barbosa, quando escreveu que “Creio que a ordem não pode florescer, senão no seio da estabilidade e da justiça. Mas vejo os depositários da ordem respirarem deliciosamente na agitação, animando-a, promovendo-a, propagando-a, e sinto empolarem-se, cada vez mais acirradas, as paixões políticas, em que a vida oficial parece comprazer-se” 1. Afinal, é exatamente isso o que temos bem diante dos olhos.

Há alguns anos que a sociedade vem falando a respeito da fragilização democrática, justamente, porque as “Democracias podem morrer não nas mãos de generais, mas de líderes eleitos – presidentes ou primeiros-ministros que subvertem o próprio processo que os levou ao poder” (Steven Levitsky – Como as Democracias Morrem, 2018).  Daí a necessidade de atenção ao contexto político-eleitoral em todos os seus níveis de organização. Todos têm responsabilidade com a defesa da Democracia, do Estado de Direito, da Cidadania.



1 Obras completas – página 76, de Rui Barbosa – Publicado por Ministério da Educação e Saúde, 1942.