Surpresa zero!
Por Alessandra
Leles Rocha
Desde 1982, a Organização das
Nações Unidas (ONU) já se dedica a criar um planejamento internacional para o envelhecimento
populacional. Em dezembro de 1991, por exemplo, foram aprovados os princípios
das Nações Unidas para pessoas idosas, através da resolução 46/91. E 1999 foi
declarado o Ano Internacional das Pessoas Idosas.
Até que, em 2002, na II
Assembleia Mundial sobre Envelhecimento, realizada em Madri, Espanha, já se
tratava da expectativa de que, por volta de 2050, 1 em cada 5 pessoas, no mundo,
teria 60 anos ou mais de idade, ou seja, haveria mais pessoas idosas do que
crianças no mundo. O que significa que o
envelhecimento populacional já se mostrava um fenômeno real e já não poderia
mais ser ignorado.
Portanto, surpresa zero diante da
recente projeção divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE)! O Brasil está sim, envelhecendo! De modo que o objeto de reflexão aqui
é olhar para essa situação com a importância que ela merece; pois, já deveríamos,
desde a década de 80, ter iniciado esse caminho.
Não, nosso maior problema em
relação a essa mudança na pirâmide etária nacional não diz respeito ao
etarismo. De fato, ele existe, é cruel, perverso, abjeto; mas, ele não resume
todos os desafios que o tema impõe. A começar pelo fato de que a população
idosa não é uma massa homogênea, igualada nas mesmas necessidades, nos mesmos
interesses, nas mesmas realidades.
Como diz a canção, “Oh! Mundo
tão desigual / Tudo é tão desigual ...” 1.
Pois é, o envelhecimento na Inglaterra é diferente do Brasil, que é diferente
da África do Sul, que é diferente da China, enfim. Aspectos sociais, econômicos,
culturais e políticos interferem na expectativa de vida das populações e, por consequência,
no envelhecimento. Isso sem contar que a dinâmica do envelhecimento é
atravessada pelo gênero. Homens e mulheres não estão submetidos ao mesmo processo
na hora de envelhecer.
De modo que cada espaço geográfico
do planeta precisa tecer as suas próprias políticas para o envelhecimento
populacional, que atendam e respeitem a especificidade de suas necessidades. O que,
certamente, não muda são os princípios gerais que sustentam esse trabalho, ou
seja, independência, participação, cuidados, autorrealização e dignidade2 , em uma clara intenção de incluir e amparar
a população idosa.
Um simples olhar sobre o
desenvolvimento populacional ao longo da história mundial, nos permite perceber
a dimensão das transformações a que foi submetido o envelhecer, no planeta. A participação
do idoso na sociedade vem, portanto, sendo cada vez mais significativa e
fundamental para alavancar o desenvolvimento e o progresso social como um todo.
Porém, os caminhos escolhidos para tratar os desafios que se apresentam, nesse
contexto, e otimizar as oportunidades é que fará a grande diferença na colheita
dos benefícios desse novo perfil de evolução demográfica.
Assim, é preciso que a população
mundial esteja ciente da necessidade de construção de um compromisso político
bem consolidado e alinhado a uma base consistente de dados e de conhecimentos,
que viabilizem uma efetiva integração intergeracional à realidade processual contemporânea.
A humanidade, em todos os lugares, tem o direito fundamental de envelhecer com
dignidade, segurança, respeito e liberdade.