quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Viva Milton Nascimento! Viva Darcy Ribeiro! Viva Belchior!


Viva Milton Nascimento! Viva Darcy Ribeiro! Viva Belchior!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Todos os dias têm suas aventuras e desventuras, suas graças e seus castigos. Por quê? Não sei dizer. Mas, particularmente, acredito nas conjunturas dos astros, na composição etérea das energias, nas conspirações silenciosas dos deuses.

Hoje, é um dia assim, especial! A gratidão começa pela celebração de oito décadas de existência de um dos maiores nomes da música popular brasileira, Milton Nascimento 1. Carinhosamente chamado por Bituca. No entanto, eis que de repente a lista de extraordinários do dia não pode deixar de contemplar, também, o antropólogo, sociólogo e historiador Darcy Ribeiro 2, que estaria completando 100 anos, e o cantor e compositor Belchior 3.

Em tempos tão estranhos, sisudos, pesados, esse dia nos remete a um Brasil diferente. Um país que sabe se olhar, sabe se ver, sabe reconhecer a sua identidade plural, multicultural; bem como, o seu papel e a sua significância no mundo. Um país que não estabelece pudores e melindres para dissecar as suas camadas mais profundas e buscar caminhos para estabelecer a sua inteireza bonita, produtiva e pulsante.

Esses três grandes nomes brasileiros têm através de seus respectivos legados nos propiciado exatamente esse exercício. Não importando o dia, a hora ou o lugar. Porque apesar da sua notoriedade, da sua repercussão midiática, eles se fizeram acessíveis e populares ao conjunto do povo brasileiro, por meio da conexão estabelecida por suas palavras, em verso e prosa. De certo modo, tornando-se guias dos labirintos que perfazem a nossa própria cidadania, a fim de que pudéssemos, em algum momento, nos descobrir em essência, nos revelar em amplidão, ao encontrar as luzes no fim do túnel.

É ou não é para agradecer aos mistérios do universo algo dessa natureza, hein? Um dia marcado no calendário pela presença de gente assim, especial por excelência. Gente genuinamente brasileira e que faz questão de enaltecer suas raízes, de defender os seus potenciais de desenvolvimento e de progresso, com base na força da educação e da cultura. Gente que é a cara do Brasil, na transcendência da sua diversidade.

Pensar neles é realmente pacificador! Porque, ainda que nem tenham se dado conta disso, eles são capazes de romper com a nossa solidão, o nosso desalento, a nossa tristeza. De olhos abertos ou fechados, a consciência em relação às suas imagens, refletidas na nossa retina, imprime esperança. Do mesmo modo que suas palavras. Exala deles uma aura positiva, na qual dias melhores parecem bem mais do que uma simples perspectiva.

Embora, tenha que admitir que eles não se escondem em subterfúgios para tornar a realidade mais bonita ou palatável. São francos, diretos; às vezes, até um bocadinho cruéis. Mas, sem verdade não há transformação! Para mudar é preciso conhecer, saber onde pisa, traçar as estratégias de sobrevivência. Contudo, isso pode ser feito com delicadeza, com respeito, com serenidade, de modo que os resultados venham a ser melhores do que os esperados. E a prova está aí, bem diante de nós! Na sua atemporalidade. Na sua imortalidade. Afinal, 26 de outubro nos deu Bituca, Darcy e Belchior como presentes a serem desfrutados sempre, todos os dias.  

Bem mais do que admirar, respeitar, reverenciar suas obras, cada brasileiro (a) deveria mesmo, era mergulhar nesse vasto oceano de conhecimento, que ultrapassa todas as linhas e as entrelinhas para chegar em um lugar ainda sem nome. Um lugar onde cada um de nós seja capaz de se conectar com sua própria brasilidade, a sua própria essência humana e se permitir refletir a respeito.

Talvez, hoje, seja um bom dia para dar adeus à preguiça e dedicar atenção a esses caras geniais! Ouvir mais a letra do que a melodia! Ler mais as palavras do que os textos! Deixar-se tocar pelos trabalhos individualmente e não, apenas, pelo conjunto da obra. Como quem saboreia um prato sem pressa, destilando os gostos, as nuances, as combinações, até alcançar o resultado final. Construindo uma compreensão própria em torno das percepções desse processo único, singular.  

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