domingo, 26 de dezembro de 2021

Eis que 2022 já aponta no fim dessa estrada...


Eis que 2022 já aponta no fim dessa estrada...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

2021 se aproxima do fim. O ano que tinha tudo para ser diferente, daquele 2020 intenso e avassalador da Pandemia, frustrou as expectativas. Já estavam disponíveis no mercado farmacêutico as vacinas que trariam a oportunidade de imunização contra o Sars-Cov-2 e suas variantes, mitigando a incidência dos casos mais graves e complexos da doença, reduzindo assim, a fatalidade. A vida poderia, então, retomar o seu fluxo e iniciar a reconstrução dos pilares que foram abalados ou destruídos no ano anterior. Enfim, seria um tempo de renascimento, ressignificação, reconstrução, redimensionamento de valores, princípios e crenças; mas... O panorama projetado para ser de ordem global, não se sucedeu assim.

O Brasil nos fez sentir como se estivéssemos diante de um fluxo contínuo de acirramento das adversidades. O desfolhar do calendário de 31 de dezembro de 2020 para 1º de janeiro de 2021 não resultou na concretização das esperanças, apenas se mostrou como rito protocolar. A exceção, no entanto, o que ninguém sabia naquele momento inicial é que a realidade encontraria meios para expurgar suas verdades mais inconvenientes, ao trazer à tona tanta coisa que estava obscura nas entrelinhas dos acontecimentos até aquele ponto. O que de certo modo passou a justificar a razão pela qual 2021 se tornaria uma mera extensão de 2020.

Infelizmente, ou felizmente, estava decretado o fim da existência de quaisquer espaços para se negar os fatos. Todos os acontecimentos no Brasil se configuravam na contramão do mundo e não se restringiam apenas à Pandemia. O status de isolamento no cenário global se consolidava a cada dia, sem que houvesse quaisquer esforços de retomada dos rumos pelo bom senso, pela competência, pela habilidade diplomática, ... O que desencadeou uma manifestação acelerada dos desdobramentos e consequências negativas, e porque não dizer nefastas, para o país. Sobretudo, quanto à sua credibilidade e protagonismo decisório.

Atirando no que se via, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a Pandemia, instaurada pelo Senado Federal, acabou acertando em algo que jamais se poderia supor. As vísceras do país foram dissecadas e mostraram o grau de deterioração, de putrefação, ali existente. Havia omissão. Havia corrupção. Havia má intenção. Havia negligência dolosa. ... Havia de um tudo, de mais terrível, que não encontrava resistência, constrangimento ou quaisquer outros sentimentos capazes de frear suas investidas. Havia pessoas tripudiando sobre uma Pandeia que era a causa mortis de milhões de brasileiros e brasileiras de todas as idades, credos, gêneros, raças e status, enquanto contribuíam para obstaculizar severamente o processo de imunização no país.

Ao mesmo tempo, corriam por outras vertentes, questões não menos impactantes à sobrevivência da população. O caos se disseminava pela gestão pública através da Economia. O que já era sentido no dia a dia do cidadão foi abruptamente comprovado e reafirmado inúmeras vezes pelas estatísticas. Altos índices de desemprego, subocupação, desalento. Miséria e pobreza em franca expansão. Juros levados à estratosfera, como medida de contenção de uma inflação indomável. Perda do poder de compra da população. Crescimento das atividades econômicas estagnado. Desvalorização galopante da moeda nacional diante da elevação do dólar. Espaços urbanos tomados por uma legião de desabrigados, de gente sem acesso à moradia, expostos aos golpes da indignidade cidadã. ...

Pois é, tudo devidamente registrado a olhos nus e pelos veículos de informação e comunicação nacionais e estrangeiros. Páginas recentes de uma história bastante indigesta para se contar, para se lembrar; mas, que trazem a devida explicação dos motivos que nos fizeram tão cansados, tão exauridos, tão fatigados para transitar pelos 365 dias desse 2021. O efeito cumulativo desses acontecimentos foi o fiel da balança para tornar essa jornada tão desafiadora e cruel. Nem mesmo as alegrias dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, ocorridos extra tempore no Japão, foi capaz de resgatar o brasileiro, de maneira plena e satisfatória, dos abismos das adversidades. Apesar de dias mais suaves, o espírito humano estava muito ferido para celebrar e comemorar na intensidade que sempre lhe foi pertinente. Havia sempre uma nuvenzinha de preocupação e desconforto rondando o espaço mental e contendo as emoções e os sentimentos mais felizes.

Viver o 2021 foi viver aos sobressaltos. A vida colaborou para nos colocar em um alerta ininterrupto. Nada de certezas. Tudo caminhando pelos labirintos do relativismo, entre idas e vindas no tempo de um piscar de olhos, de um breve suspiro. Como se os dias tivessem se transformado em uma eterna observação do horizonte. Vai chover? Vai fazer sol? Vai ter vendaval? Vai ter estiagem? Como será? E esse movimento cansa. Como cansa! Não dá uma razão sequer para aliviar a alma, para se segurar em alguma mínima convicção. Porque as mudanças não demoram a volta completa do relógio. Acontecem da manhã para tarde, da tarde para a noite. É assim. Nesse ritmo frenético e incontrolável, que nos deixa meio cabisbaixos, sem viço, sem entusiasmo, sem aquele brilho nos olhos.

Mas, como a vida não é mesmo de dar muita atenção para as nossas opiniões, eis que um novo ano já aponta no fim dessa estrada. O que me parece oportuno para ouvir aquela canção, “Um novo tempo”1. Apesar de nos sentirmos frágeis, sensíveis, no fundo não é bem assim. Ainda que seja difícil de perceber, de detectar, as duras lições nos forjaram sim, o espírito, nos lapidaram a essência, nos restituíram uma força incomensurável.

Justamente por isso, precisamos alterar o curso da história, remendar os fiapos do que restou de nós até aqui, a fim de seguirmos adiante sob novas perspectivas e expectativas. Afinal, não podemos nos render de joelhos, nos entregar aos inimigos e as adversidades sem quaisquer resistências. Como diz o livro sagrado dos cristãos, “Enquanto há vida, há esperança (Eclesiastes, 9:4) ” e 2022 está aí para ser escrito. Porque projeções, conjecturas, idealizações, delírios, nada disso dispõe da robustez e da solidez suficientemente determinada para se afirmar na condição de fato concreto e absoluto. Elas são apenas sinais, indicativos, possibilidades, não são certezas. E há sempre muita água para rolar por debaixo da ponte.

Como de costume, não vai ser fácil. Porque a vida é assim. A sugestão que deixo, então,  para você, caro leitor, é que procure entender em profundidade que “querer mudar o mundo ao seu redor” implica necessariamente “saber que mudar por dentro pode ser melhor”2. E assim, com uma dose generosa de “paciência”3, mais dia menos dia, você descobre as possibilidades que viabilizam fazer da crença esperançosa uma realidade revestida de “dias melhores” 4, cantando “a beleza de ser um eterno aprendiz” 5 que jamais deixa de ter “fé na vida, fé no homem, fé no que virá” 6. Salve, salve, 2022 7! Feliz Ano Novo 8!



1 Novo Tempo (Ivan Lins / Vitor Martins) - https://www.letras.mus.br/ivan-lins/46444/

2 Daqui só se leva o amor (Jota Quest) - https://www.letras.mus.br/jota-quest/daqui-so-se-leva-o-amor/

3 Paciência (Lenine / Dudu Falcão) - https://www.letras.mus.br/lenine/47001/

4 Dias melhores (Jota Quest) - https://www.letras.mus.br/jota-quest/46686/

5 O que é, O que é? (Gonzaguinha) - https://www.letras.mus.br/gonzaguinha/463845/

6 Nunca pare de sonhar (Gonzaguinha) - https://www.letras.mus.br/gonzaguinha/46281/

7 Renova-te (Cecília Meireles) - https://blogdospoetas.com.br/poemas/renova-te/

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