quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Apenas, uma questão de prioridade...


Apenas, uma questão de prioridade...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Apesar das ondas de reverberação dos acontecimentos de 7 de setembro, a insatisfação diante da inconsistência das respostas institucionais, aos gravíssimos insultos à Democracia, o movimento de clamor popular me parece distante da consciência necessária para sua efetividade.

Isso porque, como bem escreveu o professor e geógrafo, Milton Santos, “A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une”. E é exatamente isso, o que está operando na sociedade brasileira neste momento.

Fruto de camadas de desigualdade dispostas cuidadosamente ao longo dos séculos, o resultado inevitável disso é a desagregação manifesta por uma visível incapacidade dialógica de unir esforços em prol de um objetivo comum, de fundamental importância para todos. Pelo o que me vem à mente, talvez, em um único momento da história nacional isso foi rompido, no Movimento das Diretas Já.

Exaustos pelos “anos de chumbo” que já duravam duas décadas, partidos políticos, representantes da sociedade civil, artistas e intelectuais se dispuseram a colocar suas diferenças ideológicas de lado para defenderem conjuntamente os interesses Democráticos do país.

Assim, eles conseguiram mobilizar, entre 1983 e 1984, milhões de pessoas em comícios e passeatas nas principais cidades brasileiras. Só no Rio de Janeiro, em 1984, reuniram um milhão de cidadãos em comício na Candelária.

Sob um mesmo palanque discursavam as mais diferentes posições político-ideológicas do país, tais como: Tancredo Neves, Leonel Brizola, Miguel Arraes, José Richa, Ulysses Guimaraes, Franco Montoro, Dante de Oliveira, Mário Covas, Gerson Camata, Orestes Quércia, Luiz Inácio Lula da Silva, Eduardo Suplicy, Roberto Freire, Luís Carlos Prestes, Fernando Henrique Cardoso, Heráclito Fontoura Sobral Pinto (jurista), Sócrates (jogador de futebol), Christiane Torloni (atriz), Mário Lago (ator), Gianfrancesco Guarnieri (ator), Fafá de Belém (cantora), Chico Buarque (cantor), Taiguara (cantor), Beth carvalho (cantora), Martinho da Vila (cantor), Osmar Santos (locutor esportista), Juca Kfouri (jornalista esportivo).  

Dentre as principais pautas que impulsionaram o movimento estavam a perseguição política, o cerceamento das liberdades, a retomada das eleições diretas para os cargos majoritários – Presidente, Governador, Prefeito e Senador, e a ineficiência econômica, com uma inflação que chegava a 211%.

Isso significa que sempre há um momento em que as questões pessoais se tornam tão insignificantes e tão pouco representativas, diante da gravidade que obstaculiza a sobrevivência de todos, que não resta outro caminho senão agregar as forças e combater o inimigo comum. É preciso entender, de uma vez por todas, que a desagregação só favorece à perpetuação dos problemas. Como explica a Física, vetores na mesma direção; mas, em sentido oposto, se anulam. Simples assim.

Dada a gravidade da conjuntura atual, então, não interessa o que cada um fez no verão passado. O foco tem que estar centrado no que realmente importa que é a sobrevivência do país. Só a Pandemia, que já arrastou para o túmulo mais de meio milhão de brasileiros, seria motivo suficiente para não se ater em desavenças inúteis. Mas, há muito mais, necessitando de ações contundentes a serem resolvidas pela força do espírito coletivo.

Quem nunca ouviu falar sobre o “Dilema do Porco Espinho”, do filósofo alemão Arthur Schopenhauer 1? Ou buscamos uma trégua as divergências, a partir de um ponto de equilíbrio que nos une verdadeiramente, ou as conjunturas irão se tornar cada vez piores e mais complexas. Está claro que o atual governo não pretende retroceder nos descaminhos que escolheu trilhar, então...

Não se esqueça, “O inimigo inteligente ataca, exatamente, onde você acha estar a salvo” (Pearl Harbor, 2001). Por isso, o fato de abrir mão de algo, temporariamente, por um objetivo maior, não significa uma ruptura definitiva com suas crenças e valores. Não significa se deixar frágil ou vulnerável.

Muito pelo contrário. A vida é repleta de momentos em que certas escolhas são imperiosas para a sobrevivência adiante. E reconhecer isso é de extrema importância; sobretudo, para a consolidação do processo evolutivo humano. O amanhã depende do hoje, do agora.

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