quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Crônica de quarta-feira!!!


Entre sorrisos e lágrimas: o desafio em ser Bom


Por Alessandra Leles Rocha


O balanço diário do cotidiano tem me feito ver com mais clareza o quanto é difícil dar “paz a consciência” sem uma pitadinha sequer de sofrimento. O que quero dizer com esse “dar paz a consciência” é viver dentro dos preceitos do que é bom, justo e correto, sem prejuízos ao coletivo ou ao ambiente.
Na verdade, esse é um caminho naturalmente espinhoso para se escolher já que a própria essência humana tem lá as suas complexidades, seus altos e baixos existenciais, suas incorreções (imperfeições) naturais; mas, somos desde cedo orientados a buscar incessantemente pelo Bem. Nada de ser “bonzinho”!  Ser bom é uma escolha! Ser bom no sentido de compreender em profundidade a repercussão do significado da liberdade, da igualdade, da fraternidade, da justiça e de todos os demais valores que estruturam os princípios mantenedores do equilíbrio social humano. Mas o poço das virtudes que deveria jorrar em profusão dentro de cada um, às vezes é tão raso, que quase se torna imperceptível, a ponto de não permitir o florescer dessa harmonia. Trata-se da enxurrada das distorções, dos preconceitos, das intolerâncias, das maledicências, das intrigas, das rivalidades, das disputas, dos revanchismos,... que brotam muitas vezes do nada, sem sentido ou razão, por pura pequenez humana a limitar os olhos do corpo e da alma na visão do que realmente é importante e fundamental. Ah! E quando isso acontece, por mais forte que pense ser, o ser humano é golpeado de jeito, fica sem chão, sem vontade querer prosseguir.
A partir do momento que não somos “ilhas de isolamento” e, mesmo que a contragosto, tenhamos que conviver na amplidão geográfica, ser um praticante da filosofia do Bem é um exercício de altíssima habilidade que além de consumir energia traz consigo as teias da dor. Sim! Agir conforme as batidas ritmadas da própria consciência exige a força necessária para assumir o desafio de remar solitário contra as marés e, nem sempre, sabemos precisamente se dispomos ou não dela. Particularmente no mundo contemporâneo, o que assistimos é a grande massa se deixar envolver pela praticidade de ser “mais um na multidão”; nada de posicionamentos próprios, de ideias singulares e inovadoras. Ser “mais um” evita maiores justificativas e mascara eventuais “pecados”; afinal, como dizem “todos agem da mesma forma”. Por isso haja força, coragem, ousadia ou qualquer outro adjetivo capaz de explicar o necessário para sobreviver nesse mundo de meu Deus!  
De repente, quando menos esperamos descobrimos que o Bem, com toda a sua “boa intenção” da asas ao Mal, sabia? É! Às vezes se predispor a auxiliar voluntariamente alguém, por exemplo, pode não ser bem interpretado ou aceito; você descobre que a ajuda precisa ser solicitada por quem dela necessita, ainda que a situação seja de extrema gravidade.  Ou despender tempo e recursos próprios em favor de causas humanitárias cria um mecanismo de morosidade e negligência entre os agentes públicos, muito embora estejam prescritas na legislação as atribuições deles e os recursos oriundos dos impostos continuem a ser por eles recebidos; fazendo com que o auxilio espontâneo torne-se a única ação realizada.... Então, nos fica a dúvida crucial: fazer ou não fazer?
Talvez seja por isso, que só de pensar em ser bom paira no ar uma sensação estranha, como se milhões de dedos em riste nos apontasse como piegas, démodé, idealista ou, simplesmente, bobos! A dificuldade em trazer a sociedade para o patamar necessário ao seu real desenvolvimento coletivo parece tão impossível que o descrédito ganha ares de superioridade.  A questão é que ao se deixar corromper pelo discurso de uma maioria acomodada no “quanto pior melhor”, você passa a ser um a menos a estabelecer contraposição ao Mal e a assegurar a sua dignidade ideológica em favor do Bem. O consenso surge após incansável reflexão e não pela imposição, ainda que velada, de uns e outros; este há de acontecer no diálogo silencioso com os próprios botões. Ora, imaginem só, em pleno século XXI, pessoas continuarem a permitir se deixar envolver ou governar pelas ideias alheias!
Infelizmente estamos diante de uma forte tentativa de inversão de valores; mas, daí querer nos impingir que os maus são maioria é um despautério! Apesar do sofrimento, da angustia, da labuta que é tentar ser bom em pleno mar revolto; os bons são sim, maioria! Gente que não pensa em mudar o mundo sozinho, mas não quer ficar de fora da colaboração. Gente que cria seu próprio espaço no planeta, sem ser uma ilha é claro; mas, estabelece prioridades que sejam de fato relevantes e promotoras do bem comum. Gente que não se importa em não ser compreendido, aceito; mas, sobretudo, não tem vergonha de ser como é, porque a procura em ser bom não é motivo para ter vergonha!



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