Entre
sorrisos e lágrimas: o desafio em ser Bom
Por
Alessandra Leles Rocha
O
balanço diário do cotidiano tem me feito ver com mais clareza o quanto é
difícil dar “paz a consciência” sem uma pitadinha sequer de sofrimento. O que
quero dizer com esse “dar paz a consciência” é viver dentro dos preceitos do
que é bom, justo e correto, sem prejuízos ao coletivo ou ao ambiente.
Na
verdade, esse é um caminho naturalmente espinhoso para se escolher já que a
própria essência humana tem lá as suas complexidades, seus altos e baixos
existenciais, suas incorreções (imperfeições) naturais; mas, somos desde cedo
orientados a buscar incessantemente pelo Bem. Nada de ser “bonzinho”! Ser bom é uma escolha! Ser bom no sentido de
compreender em profundidade a repercussão do significado da liberdade, da
igualdade, da fraternidade, da justiça e de todos os demais valores que
estruturam os princípios mantenedores do equilíbrio social humano. Mas o poço
das virtudes que deveria jorrar em profusão dentro de cada um, às vezes é tão
raso, que quase se torna imperceptível, a ponto de não permitir o florescer dessa
harmonia. Trata-se da enxurrada das distorções, dos preconceitos, das
intolerâncias, das maledicências, das intrigas, das rivalidades, das disputas,
dos revanchismos,... que brotam muitas vezes do nada, sem sentido ou razão, por
pura pequenez humana a limitar os olhos do corpo e da alma na visão do que
realmente é importante e fundamental. Ah! E quando isso acontece, por mais
forte que pense ser, o ser humano é golpeado de jeito, fica sem chão, sem
vontade querer prosseguir.
A
partir do momento que não somos “ilhas de isolamento” e, mesmo que a
contragosto, tenhamos que conviver na amplidão geográfica, ser um praticante da
filosofia do Bem é um exercício de altíssima habilidade que além de consumir
energia traz consigo as teias da dor. Sim! Agir conforme as batidas ritmadas da
própria consciência exige a força necessária para assumir o desafio de remar
solitário contra as marés e, nem sempre, sabemos precisamente se dispomos ou
não dela. Particularmente no mundo contemporâneo, o que assistimos é a grande
massa se deixar envolver pela praticidade de ser “mais um na multidão”; nada de
posicionamentos próprios, de ideias singulares e inovadoras. Ser “mais um”
evita maiores justificativas e mascara eventuais “pecados”; afinal, como dizem “todos
agem da mesma forma”. Por isso haja força, coragem, ousadia ou qualquer outro
adjetivo capaz de explicar o necessário para sobreviver nesse mundo de meu
Deus!
De
repente, quando menos esperamos descobrimos que o Bem, com toda a sua “boa
intenção” da asas ao Mal, sabia? É! Às vezes se predispor a auxiliar voluntariamente
alguém, por exemplo, pode não ser bem interpretado ou aceito; você descobre que
a ajuda precisa ser solicitada por quem dela necessita, ainda que a situação
seja de extrema gravidade. Ou despender
tempo e recursos próprios em favor de causas humanitárias cria um mecanismo de
morosidade e negligência entre os agentes públicos, muito embora estejam prescritas
na legislação as atribuições deles e os recursos oriundos dos impostos continuem
a ser por eles recebidos; fazendo com que o auxilio espontâneo torne-se a única
ação realizada.... Então, nos fica a dúvida crucial: fazer ou não fazer?
Talvez
seja por isso, que só de pensar em ser bom paira no ar uma sensação estranha,
como se milhões de dedos em riste nos apontasse como piegas, démodé, idealista
ou, simplesmente, bobos! A dificuldade em trazer a sociedade para o patamar
necessário ao seu real desenvolvimento coletivo parece tão impossível que o
descrédito ganha ares de superioridade.
A questão é que ao se deixar corromper pelo discurso de uma maioria
acomodada no “quanto pior melhor”, você passa a ser um a menos a estabelecer
contraposição ao Mal e a assegurar a sua dignidade ideológica em favor do Bem.
O consenso surge após incansável reflexão e não pela imposição, ainda que
velada, de uns e outros; este há de acontecer no diálogo silencioso com os
próprios botões. Ora, imaginem só, em pleno século XXI, pessoas continuarem a permitir
se deixar envolver ou governar pelas ideias alheias!
Infelizmente
estamos diante de uma forte tentativa de inversão de valores; mas, daí querer
nos impingir que os maus são maioria é um despautério! Apesar do sofrimento, da
angustia, da labuta que é tentar ser bom em pleno mar revolto; os bons são sim,
maioria! Gente que não pensa em mudar o mundo sozinho, mas não quer ficar de
fora da colaboração. Gente que cria seu próprio espaço no planeta, sem ser uma
ilha é claro; mas, estabelece prioridades que sejam de fato relevantes e
promotoras do bem comum. Gente que não se importa em não ser compreendido,
aceito; mas, sobretudo, não tem vergonha de ser como é, porque a procura em ser
bom não é motivo para ter vergonha!