domingo, 18 de novembro de 2012

Crônica da semana!!!


Qual é o seu ideal de felicidade?

Por Alessandra Leles Rocha


Não há como refutar a avalanche promovida pelo desenvolvimento tecnológico. O “progresso”, como muitos gostam de se referir a esse fenômeno, trouxe seus benefícios; mas, paralelamente impôs malefícios quase impossíveis de eliminar. A vida passou a ser encarada como uma guerra diária em que é preciso o máximo da dedicação extenuante para não estragar as expectativas e manter uma subjetiva segurança do seu lugar ao sol. Mas, a pergunta que sempre fica é: as eventuais conquistas desse esforço realmente suprem a nossa essência humana, o nosso ideal de felicidade?
Muito do que conquistou a raça humana desde o seu aparecimento sobre a Terra não estava necessariamente previsto no que se pode chamar de “projeto inicial”; tanto é verdade, que a própria condição biológica do DNA não mantem ativos todos os nossos genes. Em parte, uma estratégia natural para economia energética e garantia de se evitar danos aos genes que podem ser uteis em situações de emergência. Contudo, as transformações externas, ou ambientais, ao longo dos séculos foram impondo movimentos de readaptação dos seres humanos e desencadeando o surgimento de novas doenças. Enquanto a tecnologia deveria nos suprir das melhores condições de sobrevivência, ela passou a ter que desenvolver novas terapias e mecanismos de controle das antigas e recém-surgidas patologias. Então, se estamos degradando a própria carcaça, qual o sentido do modelo de evolução vigente? Esgotar-se a si mesmo e não ter como desfrutar dos árduos anos de trabalho?
Tenho observado uma tendência interessante, pelo menos entre pessoas que vivenciaram um limiar muito tênue entre a vida e a morte, de olhar verdadeiramente para si e reconstruir a sua concepção de felicidade. O choque da contraposição entre a alegria e a dor costuma ser devastador na alma humana, apesar de simultaneamente revolver esse terreno de uma forma tão profunda e profícua que as pessoas conseguem sair de todo o processo revigoradas espiritualmente. Acredito que a conjuntura social em que vivemos tem sido a grande responsável por essa movimentação positiva de reavaliação e resgate dos verdadeiros valores humanos. Quando se chega ao “fundo do poço” só há um caminho: voltar à superfície! Vamos sendo tão oprimidos, massacrados, espoliados, escravizados por pensamentos, palavras e ações, que no fim das contas só nos resta abandonar o jogo, as convenções, as arbitrariedades, as imposições sociais e fazer algo que realmente nos faça sentir bem e inteiro.
É quando a felicidade nos sorri! A primeira grande descoberta que ela nos oferece é não se materializar inteira, plena, constante. Podemos ser felizes aos poucos, em gotas, para não nos enfastiarmos do seu sabor. Podemos ser felizes em dias tristes, pesados, difíceis, como quem encontra um recanto de paz no turbilhão do conflito. Depois, ela nos ensina que não vem com etiqueta de grife, nem com preço a pagar, nem embalada para presente... A felicidade está naquilo que consegue efetivamente tocar a nossa sensibilidade, eriçar a nossa pele, fechar nossos olhos na profundeza de um suspiro, desanuviar os nossos pensamentos. Outra lição importante está na dimensão que ela nos apresenta sobre nós mesmos. Para ser feliz é preciso compreender plenamente que se é humano, falível, mortal; nem melhor, nem pior, apenas individual. A aceitação do incontestável nos faz feliz, nos liberta, nos dá asas para sonhar e agir.
Enquanto insistirmos em sermos algozes da própria existência patinaremos inertes no lodo, consumiremos as melhores energias em vão; apenas, esperando inconscientemente o dia em que não mais será possível acordar e ser feliz. Como disse Thomas Huxley 1, “O degrau de uma escada não serve simplesmente para que alguém permaneça em cima dele, destina-se a sustentar o pé de um homem pelo tempo suficiente para que ele coloque o outro um pouco mais alto” 2. Parar o tempo, sem dúvida é impossível, por isso a evolução vai continuar o seu o processo; a questão está em como preservaremos a nossa verdadeira felicidade sem que o progresso possa danificá-la de alguma forma, ou seja, definirmos qual é o nosso ideal de felicidade.


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