domingo, 28 de outubro de 2012

Crônica da Semana!!!


Na era do “castelo de areia” intelectual


Por Alessandra Leles Rocha


Por tantos descaminhos que a Educação já trilhou talvez um dos piores deles foi desenvolver a crença na qual a aquisição do certificado, ou diploma, resume toda a importância do ato de aprender, de adquirir conhecimento e técnica, de moldar as habilidades. Como se um simples pedaço de papel pudesse de fato determinar com o máximo de precisão a qualidade do trabalho a ser desenvolvido por seu detentor.
Ora, ora! Quem nunca ouviu a celebre frase escolar “quem não cola não sai da escola”? O que parece algo tão simples e infantil como o ato de copiar do colega as questões da prova, ou levar as respostas prontas em diminutos papeizinhos escondidos com capricho, se cronifica sim com o passar dos anos.
Cada serie cursada pelo aluno representa um degrau a mais na complexidade e exigência do ensino. Sendo assim, a ausência de segurança no próprio conhecimento fará com que ele, muitas vezes para não desapontar a família ou ficar em desvantagem aos amigos e demais colegas, utilize desse recurso para prosseguir; vai lentamente construindo seu “castelo de areia” intelectual. Até nos trabalhos com consulta, esse tipo de aluno também não mede esforços para "não se esforçar". É! São aqueles que não fazem nada e pedem para colocar o nome na capa do trabalho. Por isso, nem sempre as avaliações fazem justiça ao real conhecimento e aprendizado dos alunos.
Os anos passam, os ensinos fundamental e médio ficaram para trás e quando se deparam com o ingresso no terceiro grau costumam  continuar a optar pelo caminho menos espinhoso. Quando dão sorte de ingressar em alguma instituição pública conduzem o cotidiano amparados pelas experiências de outrora; não se preocupam além de conseguir  a média para aprovação e chegar até o fim. Quando não conseguem, buscam o caminho das instituições privadas onde os níveis de cobrança e exigência são bem mais flexíveis do que na rede pública. E mesmo com toda a flexibilidade não deixam as vivências do passado se perderem no desuso .
Entretanto, não se pode esquecer que os próprios cursos de graduação públicos ou privados tem uma parcela significativa de responsabilidade nessa questão! Na medida em que não se cumpre de maneira satisfatória a função de orientação desses trabalhos por parte dos próprios docentes e/ ou a disciplina de metodologia científica inexiste na grade curricular ou é ministrada superficial e inconsistente as necessidades 1. Apesar da ampliação de fomento por parte dos órgãos ligados a pesquisa e extensão no país (CAPES, CNPq e outros), promovendo a participação mais efetiva dos cursos no desenvolvimento da ciência e da tecnologia, percebe-se nitidamente a dificuldade dos alunos no momento de trabalharem com as ferramentas metodológicas e a execução das pesquisas.
Infelizmente, dando suporte a esse mascarar vergonhoso da capacidade intelectual encontra-se no mercado gente disposta a ganhar dinheiro; pessoas que anunciam na mídia, e até mesmo dentro de instituições de ensino, à venda de trabalhos de graduação e pós-graduação em diferentes áreas 2. Principalmente os chamados “trabalhos de conclusão de curso” que nem sempre cumprem de fato o seu papel de finalizadores de todo um processo psicopedagógico de formação discente.
Se há a venda é porque há quem compre, o principio é logico! Mas, se engana mesmo quem pensa ser dotado da mais pura “esperteza” nesse caso; ainda que não se deem conta, quem vende os trabalhos comete crime de falsidade material e quem compra de falsidade material e ideológica. Além disso, numa época em que a crise econômica mundial desembarca em nosso país milhares de trabalhadores estrangeiros, muitos deles com um nível profissional e intelectual bem mais sólidos que o nacional, o despreparo de quem se apresenta confiante nesse tipo de certificado durante os processos seletivos fica bem evidenciado 3.
Somos um país de quase duzentos milhões de habitantes e grande parte desse povo em fase economicamente ativa e produtiva, portanto a competitividade e as disputas por um “lugar ao sol” no mercado de trabalho são cada vez mais acirradas. Estudar é sempre o diferencial para quem quer conquistar um espaço; mas, estudar de verdade! Estudar com afinco, todos os dias, sob o sol e a chuva, enfrentando todos os desafios, superando todos os limites. Só o estudo nos permite escolher, reconhecer as próprias aptidões e desbravar os próprios caminhos. Quem faz o que gosta, o que tem mais afinidade, sairá sempre em vantagem e o mundo já deixou de determinar os trabalhos de maneira estática e tradicional; hoje, ele está de braços abertos para receber as novidades, os novos caminhos para se exercer um dado oficio.   
Portanto, não há atalhos para a Educação! É por isso, também, que estamos diante de uma absurda carência de mão de obra qualificada no país! Na hora de colocar a “mão na massa”, de falar uma língua estrangeira, de dominar os conhecimentos,... o diploma “se esfacela”, não se sustenta 4. Talvez seja por isso que o medo da concorrência se torne tão aflorado! A formação de um individuo que dignifique ser chamado cidadão e profissional depende de um conjunto de elementos devidamente inter-relacionados: família, escola, cursos de aprimoramento, leitura, vivência cultural. E para fundir tudo isso é preciso tempo e dedicação; uma escolha a ser encaminhada ainda nos primeiros anos de vida. Como dizem por aí, “sucesso só vem antes do trabalho no dicionário”!





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