quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Crônica de quarta-feira!!!



Integração família/escola: a verdadeira mudança de paradigmas


Por Alessandra Leles Rocha


A saturação chegou mesmo ao seu limite máximo, tanto que semana a semana a mídia exibe algum tipo de reportagem constatando a precariedade da educação no país, a partir do mau aproveitamento dos candidatos nas seleções de emprego. O pesar não vem de avaliações complexas e com altos graus de dificuldade; mas, do ponto mais elementar de análise: operações matemáticas simples, ditados de palavras da língua portuguesa ou redação, conhecimentos gerais e atualidades. Então, quase em coro, a sociedade aponta os dedos em riste ao sistema educacional brasileiro e o condena como principal, ou quem sabe único, responsável pelo vexame.  Mas, será mesmo?
Educação não consiste de um só elemento; ela contempla a agregação de vários elos: metodologia, didática, sistema de avaliação, formação e competência docente, infraestrutura,... mas, sobretudo, a participação da família e o modo com que ela entende e trabalha a sua importância para despertar e cultivar o interesse do seu (a) filho (a), o (a) estudante em questão.
É! De fato não adianta muito questionarmos e lamentarmos sobre os demais aspectos da educação, quando estamos diante de um modelo social familiar que se mantém na periferia do assunto. Sob o pretexto da famigerada correria cotidiana, do turbilhão de afazeres e compromissos a serem cumpridos, a participação de pais e responsáveis no cotidiano escolar dos filhos culmina por se restringir aos eventos e comemorações.
Ora, mas o ingresso do individuo a etapa escolar deveria ser um momento de ampla celebração e reflexão; afinal, é o primeiro passo a ser dado em direção à responsabilidade e aos conhecimentos necessários para o bom desempenho da sua cidadania, do seu sucesso profissional futuro, da sua formação pessoal. O êxito depende de uma boa base, um alicerce sólido e capaz de impulsionar o estudante a prosseguir e alçar voos maiores.
Ainda que aos olhos da família as series iniciais não apresentem um grau de exigência extraordinário, o suporte e acompanhamento deles junto ao estudante são fundamentais; são momentos de comemoração das conquistas, do descortinar do mundo, da troca, dos esclarecimentos, do incentivo, lembranças que jamais serão apagadas do seu inconsciente.
Com o decorrer dos anos e o desenvolvimento cognitivo humano, os alunos vão ampliando o seu leque educacional e mais atividades vão exigindo seu maior comprometimento e disciplina. Por isso, quando dizemos que o estudo requer disciplina; na verdade, estamos apenas reafirmando algo que a própria vida já nos impõe (ainda que a realidade atual nos tente fazer acreditar que não!). Mas, a negligência dos pais e responsáveis sobre esse aspecto vem dificultando e desfavorecendo a educação! Crianças que podem faltar com frequência às aulas, que não tem horários estabelecidos para o estudo, que só se preparam para as avaliações na véspera das mesmas, que não cumprem as atividades propostas pela escola, que convivem com a ênfase de que os conteúdos estudados são muito difíceis e acima da sua idade; certamente, manifestarão os mesmos comportamentos na sua vida pessoal e profissional.
Especialmente na transição entre o ensino fundamental e o ensino médio, facilmente se pode observar entre os alunos a ideia de que se vai à escola por obrigação, que a mesma não tem nenhuma função a mais do que isso. Não se percebe entre a maioria o interesse de conversar com os filhos sobre o que aprenderam no dia, quais as matérias lhes parecem mais interessantes, como se desenvolve a relação com os professores, enfim... O discurso de muitas famílias, ao contrário, impregna na consciência de seus filhos que eles “tem que ir à escola para não ficarem sozinhos em casa e não fazerem coisas erradas”, como se a escola fosse um mero “deposito de crianças e adolescentes”.
Dessa forma, os duzentos dias letivos previstos em lei passam displicentes! Aos que apesar de todos os pesares alcançam a aprovação, o incentivo nem sempre vem de uma forma muito salutar; são presentes, objetos de desejo da jovem sociedade de consumo, um prêmio que rompe com a valoração do mérito, do esforço, da dedicação e transforma em pagamento, aquilo que deveria ser tão natural e essencial à formação do individuo. Afinal, estamos falando de educação, a maior de todas as riquezas que podemos conquistar; pois, nos pertence e nada nem ninguém pode nos tirar!
Aos que inevitavelmente se distanciaram do mínimo exigido para avançar, a situação é bem mais terrível. Primeiro, como não acompanharam de perto a vida escolar de seus filhos ao longo do ano, a dificuldade de visualizar as falhas e os problemas deles é imensa! Geralmente, explodem os falatórios contra os professores, a escola, o ensino no país etc.etc.etc. Mais calmos (mas, não se sentindo capazes de ajudar), eles saem em busca dos “professores particulares” na convicção de que estes podem transformar seus filhos da noite para o dia em alunos exemplares; como verdadeiros “milagreiros”. Só não entendem que um aluno à beira da reprovação é o mesmo que teve duzentos dias para ver toda a matéria (mesmo que tenha tido algum problema de aprendizado), buscar ajuda para sanar as duvidas com tempo hábil, e simplesmente optou por não fazer nada.
É! Filhos dão trabalho! E quem não cuida deles como deve os entrega ao mundo totalmente despreparados! Como eliminar problemas de alfabetização, de bullying, de repetência,...? A educação só conseguirá vencer esses e tantos outros desafios no dia em que pais, mães e responsáveis decidirem atuar de forma mais efetiva, como por exemplo, desenvolvendo uma seleção criteriosa para a escolha da escola, conhecendo o material didático definido, estabelecendo um diálogo franco e constante com professores, coordenadores, supervisores e direção, lutando por uma infraestrutura adequada ao desenvolvimento escolar, reivindicando melhorias no modelo vigente, participando do cotidiano de seus filhos. A integração família/escola muda os paradigmas da sociedade e a torna mais bem preparada para lutar pelo progresso e pelo desenvolvimento do país.