Integração
família/escola: a verdadeira mudança de paradigmas
Por Alessandra Leles
Rocha
A saturação chegou mesmo ao seu
limite máximo, tanto que semana a semana a mídia exibe algum tipo de reportagem
constatando a precariedade da educação no país, a partir do mau aproveitamento
dos candidatos nas seleções de emprego. O pesar não vem de avaliações complexas
e com altos graus de dificuldade; mas, do ponto mais elementar de análise:
operações matemáticas simples, ditados de palavras da língua portuguesa ou
redação, conhecimentos gerais e atualidades. Então, quase em coro, a sociedade
aponta os dedos em riste ao sistema educacional brasileiro e o condena como
principal, ou quem sabe único, responsável pelo vexame. Mas, será mesmo?
Educação não consiste de um só
elemento; ela contempla a agregação de vários elos: metodologia, didática,
sistema de avaliação, formação e competência docente, infraestrutura,... mas,
sobretudo, a participação da família e o modo com que ela entende e trabalha a
sua importância para despertar e cultivar o interesse do seu (a) filho (a), o
(a) estudante em questão.
É! De fato não adianta muito
questionarmos e lamentarmos sobre os demais aspectos da educação, quando
estamos diante de um modelo social familiar que se mantém na periferia do
assunto. Sob o pretexto da famigerada correria cotidiana, do turbilhão de
afazeres e compromissos a serem cumpridos, a participação de pais e
responsáveis no cotidiano escolar dos filhos culmina por se restringir aos
eventos e comemorações.
Ora, mas o ingresso do individuo a
etapa escolar deveria ser um momento de ampla celebração e reflexão; afinal, é
o primeiro passo a ser dado em direção à responsabilidade e aos conhecimentos
necessários para o bom desempenho da sua cidadania, do seu sucesso profissional
futuro, da sua formação pessoal. O êxito depende de uma boa base, um alicerce
sólido e capaz de impulsionar o estudante a prosseguir e alçar voos maiores.
Ainda que aos olhos da família as
series iniciais não apresentem um grau de exigência extraordinário, o suporte e
acompanhamento deles junto ao estudante são fundamentais; são momentos de
comemoração das conquistas, do descortinar do mundo, da troca, dos
esclarecimentos, do incentivo, lembranças que jamais serão apagadas do seu
inconsciente.
Com o decorrer dos anos e o
desenvolvimento cognitivo humano, os alunos vão ampliando o seu leque
educacional e mais atividades vão exigindo seu maior comprometimento e
disciplina. Por isso, quando dizemos que o estudo requer disciplina; na
verdade, estamos apenas reafirmando algo que a própria vida já nos impõe (ainda
que a realidade atual nos tente fazer acreditar que não!). Mas, a negligência
dos pais e responsáveis sobre esse aspecto vem dificultando e desfavorecendo a
educação! Crianças que podem faltar com frequência às aulas, que não tem
horários estabelecidos para o estudo, que só se preparam para as avaliações na
véspera das mesmas, que não cumprem as atividades propostas pela escola, que
convivem com a ênfase de que os conteúdos estudados são muito difíceis e acima
da sua idade; certamente, manifestarão os mesmos comportamentos na sua vida
pessoal e profissional.
Especialmente na transição entre o
ensino fundamental e o ensino médio, facilmente se pode observar entre os
alunos a ideia de que se vai à escola por obrigação, que a mesma não tem
nenhuma função a mais do que isso. Não se percebe entre a maioria o interesse
de conversar com os filhos sobre o que aprenderam no dia, quais as matérias
lhes parecem mais interessantes, como se desenvolve a relação com os
professores, enfim... O discurso de muitas famílias, ao contrário, impregna na
consciência de seus filhos que eles “tem que ir à escola para não ficarem
sozinhos em casa e não fazerem coisas erradas”, como se a escola fosse um mero
“deposito de crianças e adolescentes”.
Dessa forma, os duzentos dias letivos
previstos em lei passam displicentes! Aos que apesar de todos os pesares
alcançam a aprovação, o incentivo nem sempre vem de uma forma muito salutar;
são presentes, objetos de desejo da jovem sociedade de consumo, um prêmio que
rompe com a valoração do mérito, do esforço, da dedicação e transforma em
pagamento, aquilo que deveria ser tão natural e essencial à formação do
individuo. Afinal, estamos falando de educação, a maior de todas as riquezas
que podemos conquistar; pois, nos pertence e nada nem ninguém pode nos tirar!
Aos que inevitavelmente se
distanciaram do mínimo exigido para avançar, a situação é bem mais terrível.
Primeiro, como não acompanharam de perto a vida escolar de seus filhos ao longo
do ano, a dificuldade de visualizar as falhas e os problemas deles é imensa!
Geralmente, explodem os falatórios contra os professores, a escola, o ensino no
país etc.etc.etc. Mais calmos (mas, não se sentindo capazes de ajudar), eles
saem em busca dos “professores particulares” na convicção de que estes podem
transformar seus filhos da noite para o dia em alunos exemplares; como
verdadeiros “milagreiros”. Só não entendem que um aluno à beira da reprovação é
o mesmo que teve duzentos dias para ver toda a matéria (mesmo que tenha tido
algum problema de aprendizado), buscar ajuda para sanar as duvidas com tempo
hábil, e simplesmente optou por não fazer nada.
É! Filhos dão trabalho! E quem não
cuida deles como deve os entrega ao mundo totalmente despreparados! Como
eliminar problemas de alfabetização, de bullying, de repetência,...? A educação
só conseguirá vencer esses e tantos outros desafios no dia em que pais, mães e
responsáveis decidirem atuar de forma mais efetiva, como por exemplo, desenvolvendo
uma seleção criteriosa para a escolha da escola, conhecendo o material didático
definido, estabelecendo um diálogo franco e constante com professores,
coordenadores, supervisores e direção, lutando por uma infraestrutura adequada
ao desenvolvimento escolar, reivindicando melhorias no modelo vigente,
participando do cotidiano de seus filhos. A integração família/escola muda os
paradigmas da sociedade e a torna mais bem preparada para lutar pelo progresso
e pelo desenvolvimento do país.