segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Crônica da Semana!!!


Rompendo as amarras


Por Alessandra Leles Rocha


Vejo uns e outros se gabando por aí, das conquistas e progressos da contemporaneidade, sem ao menos permitir um leve sopro de transformação em si mesmo. É! A mesma sociedade que comumente costumamos identificar como hábil idólatra do Ter em detrimento do Ser; agarra-se como pode ao Ser, quando na verdade apenas Está.
Por mais espantoso que possa parecer, a verdade é exatamente essa: Não SOMOS; mas, ESTAMOS! E entre SER e ESTAR há diferenças gritantes, as quais muitos não querem enxergar ou admitir; pois, estariam afirmando aos quatro cantos a efemeridade do ESTAR.  Títulos, bens, riquezas, conquistas, nada (absolutamente nada) seguirá conosco quando a vela se apagar!
Somos humanos, somos filhos, somos cidadãos, somos... uma variedade de personagens existenciais ao longo de toda a vida; mas, o restante é só empréstimo! A corda bamba que sustenta nossos pés, às vezes dá e outras retira das mãos o poder, o status, o dinheiro, a visibilidade, a influência, a saúde,... É assim! Nem sempre o presente tem a semente do futuro!
Então, assistindo a esse apego desmedido, percebo que por detrás dele existe um medo enorme de se deixar conduzir pelas mudanças que a vida julga convenientes e necessárias. Medo de perder a identidade diante do espelho, de não saber mais como se enquadrar no mundo, de não se adaptar aos novos pensamentos, de não saber revitalizar os próprios padrões; afinal, “os outros” podem ser inquisidores implacáveis e não mais nos aceitar como antes. Existir amparado pelo conceito de SER é muito mais confortável e indolor! Não é à toa que tanta gente vive de sobrenome, de linhagem familiar, de fatos e momentos que já se perderam nas areias do tempo. Trata-se de tentativas desesperadas de se convencerem de que um dia foram; mas, que no fundo, apenas estiveram. Como se pudessem imortalizar o passado que lhes parece tão caro!
Mas a vida é ESTAR! Ciclos que vão e vem, alternando ritmos e velocidades, mesclando experiências, lapidando a evolução. É na existência que nos deparamos com o SER! O descortinar da alma com todas as suas nuances de razão e sensibilidade; nosso retrato mais íntimo e mais pessoal. O grande segredo é justamente equilibrar e harmonizar o modo que desfrutaremos de ambos; a aceitação de que a paz do SER depende de se deixar conduzir pela metamorfose do ESTAR.
        É por isso que deveríamos contemplar mais de perto as lições da Natureza! A luz de nossos olhos encontra-se o planeta em que nada se perde e tudo se transforma! Folhas que viram adubo, sementes em árvores, flores em arte, lã em vestimenta,... e não se vê resistência, nem  indignação, nem descontentamento. Cada um sabe a sua importância, o seu papel, o seu lugar no espaço, com a obediência pura de aceitar o momento de seguir em frente.