sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Cidadania & Sustentabilidade: Catadores se organizam e criam nova forma de uso da cidade, mostra pesquisa da FAU


Giovanni Santa Rosa / Agência USP de Notícias

Desenvolvimento de possíveis novos modos de produção e organização em cooperativas que permitiram independência e visibilidade política: essas são conquistas dos catadores de materiais recicláveis da região do Glicério, bairro da região central de São Paulo, área que ficou abandonada por décadas tanto pelo poder público quanto pela iniciativa privada. Segundo pesquisa da arquiteta Márcia Saeko Hirata, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, a perda do valor comercial da região permitiu que os coletores se organizassem e consolidassem sua atuação no local.
A área, estudada por Márcia na tese Desperdícios e centralidade urbana na cidade de São Paulo: uma discussão sobre o catador de materiais recicláveis do Glicério— trabalho orientado pelo professor Paulo César Xavier Pereira e defendido em 2011 —, é uma região de várzea que foi ocupada principalmente por pessoas de baixa renda e operários e também concentrou atividades religiosas e culturais. Constitui-se, assim, uma situação peculiar de centralidade: apesar de estar a menos de 1 quilômetro (Km) da Praça da Sé, no centro de São Paulo, a região possui moradias baratas, como cortiços e quitinetes, e fácil acesso a trabalhos que exigem pouca qualificação.
A arquiteta tomou a Cooperglicério, cooperativa de catadores fundada em 2006, como objeto de estudo para reflexão sobre as teorias do filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre. Ela entrevistou catadores entre 2008 e 2011 para conhecer suas histórias no centro da cidade. Márcia diz que a obra de Lefebvre foi essencial para não encarar a questão por um viés do modo de produção capitalista, mas sim como central a um novo modo de produção. A organização em cooperativas, junto com a colaboração de ONGs e o discurso da sustentabilidade trazido pela crise ambiental, deu força política para catadores permanecerem na área e conseguirem ser vistos pelo poder público e pela sociedade com outros olhos.[...]