quinta-feira, 19 de julho de 2012

Crônica do fim de semana!!!

Basta querer

Por Alessandra Leles Rocha

Como tantas outras datas comemorativas, o Dia do Amigo  (20 de julho) talvez não precisasse existir, se estivéssemos abertos e atentos ao seu mais profundo significado. Amizade. Uma palavrinha tão doce e ao mesmo tempo tão complexa.
Nesse cotidiano de extrema correria, onde cada segundo computa seu ônus, uma desorganização (quase que natural) nos transformou e subverteu a ordem de nossas prioridades humanas, incluindo as nossas relações. Por uma ou milhares de razões, as amizades foram se tornando “figurinhas de um álbum a completar”, ou seja, elas têm o seu significado, a sua importância, mas as suas lembranças fixadas num determinado espaço de tempo, como se não houvesse a mínima possibilidade de se efetivarem parte integrante de uma longa história.
A quantidade exacerbada de compromissos, de atividades, de trabalho, etc.etc.etc. foi sim, exaurindo lentamente a nossa disponibilidade e o nosso querer construir. Ah! Isso demanda tempo! E esse não está tão fácil de esticar! Lembra-se que quando criança as amizades pareciam se proliferar? Em cada lugar que chegávamos havia sempre um (a) amigo (a) a nos esperar. Tínhamos tempo para ser e para estar com eles; conhecer e se deixar conhecer nas mais profundas entrelinhas. Divertíamo-nos, brigávamos e fazíamos as pazes praticamente ao mesmo tempo; mas, o gosto daquela convivência nos fazia querer eternizá-la como um tesouro que jamais poderia ser perdido. Éramos amigos, cumplices, companheiros de uma inocência recheada de sonhos, de imaginação, de fantasia.
Um belo dia, sem que nos déssemos conta do momento exato à vida se transformou, mudou de rumo, de cor, e os amigos, que antes andavam de mãos dadas, agora haviam se desprendido, cada um foi para um canto. Junto com eles também se foi a pracinha, a escola, as brincadeiras, a lua, o sol, as estrelas... a cidade não era mais do mesmo jeito, do mesmo tamanho, a imagem que cabia em nossa retina. Mas, nem por isso perdemos por eles aquilo que era essencial: a amizade. Esse conjunto de sentimentos reunidos da medida certa, sempre pode se manter pulsante dentro da alma, basta querer!
É! Esse metamorfosear da vida não significa sepultar o que recebemos dela de melhor. A amizade, por exemplo, faz parte desse senso de humanidade que habita em cada um de nós; portanto, o evoluir ao longo do tempo não nos declara incapazes ou proibidos de mantê-la como chama acesa e forte. Tudo se resume ao querer. Está na nossa vontade mais sincera e profunda a chave para organizar o tempo e extrair dele o espaço para a amizade. Ainda que a geografia não seja generosa, que o dia a dia teime em nos absorver, que a família nos roube o foco,... encontraremos um caminho.
Partindo do fato de sermos essencialmente energia, só de elevar os melhores pensamentos aos nossos amigos fortalecemos os laços invisíveis que nos unem uns aos outros. Mas, além disso, estamos em pleno século XXI rodeados de toda a tecnologia disponível, então o virtualismo encurta a teimosia da distancia; conversas via webcam, e-mails para lá e para cá, mensagens, tarifas reduzidas no telefone fixo e no celular promovem dedos de prosa, enfim... E quando o coração parece que vai explodir de tanta saudade, que o afeto não consegue mais se conter, aviões e ônibus resolvem a questão. Aí, dias e noites se misturam numa conversa sem fim, que não pode desperdiçar nenhum segundo depois de tanto tempo.
Tudo na vida se resume aos cuidados, sobretudo, quando se trata do ser humano. Pode ser o individuo mais frio, mais distante, mais fechado, que mesmo assim ele carece de estabelecer vínculos afetivos e emocionais com seus semelhantes. Quando nos tornamos amigos inconscientemente firmamos o compromisso de sermos responsáveis pelo outro, na medida de nos tornamos um ponto de apoio e uma referencia ao longo da grande jornada existencial. Esse cuidado só existe a partir do nosso despojamento, sem amarras ou mascaras que nos impeçam de consolidar a força dessa relação. Temos que estar aptos para rir e chorarmos juntos, para darmos colo e abraço, para calarmos e apenas ouvir, para aconselharmos, para sermos presença sensível ainda que imaterial. Talvez, por essas e tantas outras razões, o que inclui a nossa própria capacidade de doação humana, seja de fato muito difícil estabelecer um circulo de amizade com grandes dimensões. Mas, o importante é sermos amigos, é batalharmos sempre pela fiação desse sentimento, é fazer deles um pensamento e uma emoção constante nos 365 dias do ano.