Em cima do muro
Por Alessandra Leles Rocha
Mesmo
a mais incrível das obras, que aparentemente se mostre completa, cabe sim, aqui
e ali, um retoque, um aprimoramento, um detalhe a mais. Neste caso, os seres
humanos jamais deveriam se enquadrar fora desse contexto; porque a essa espécie
a perfeição não passa de mera aspiração a ser arduamente perseguida.
Cheios
de virtudes e defeitos, caminhamos sempre cambaleantes. Às vezes de mãos dadas
com o Bem, outras de braços dados com o Mal. Depende do dia, da hora, da
inspiração, da vontade, ou quase sempre da inquieta motivação da própria
personalidade. Como entender o ser humano? Para essa criatura tão volúvel, tão
inconstante, tão contraditória,... nem sempre dois pontos dão origem a uma
reta! Sobe, desce, vira, revira, balança pra lá e pra cá, faz e acontece;
mas,... Não há, então, como assegurar os resultados!
Tentativas
e mais tentativas, na historia da humanidade, em se promover uma classificação,
ou segmentação, ou categorização da sociedade mostraram-se um tanto quanto
ineficazes do ponto de vista da sua exatidão. Para o ser humano é difícil um
real posicionamento e, geralmente, ele tenta permanecer “em cima do muro”, como
se pudesse garantir a sua isenção diante dos acontecimentos da vida ou um
momento mais “apropriado” para se decidir. Só que isso não é possível! Inevitavelmente,
quem está “em cima do muro”, nessa suposta “zona de conforto”, há de cair. Pode
ser que seja em um ou outro lado já consolidado filosoficamente, ou seja em uma
nova perspectiva aberta pela própria inventividade individual, em total
contraposição ao já estabelecido.
A contemporaneidade
nos tem sido cada vez mais pródiga no sentido de nos possibilitar, através de inúmeros
fatos, o aprendizado e a reflexão sobre as consequências, e as inconsequências,
do nosso distanciamento na busca pelo aperfeiçoamento moral e ético. Por isso, o
muro parece cada vez mais frágil e tem derrubado muita gente em cada um de seus
lados, mesmo a contragosto. Esse “choque de realidade” é muito bom! Porque apesar
de vivermos em coletividade, não há evolução substancial se não tomarmos as rédeas
da nossa existência individual. Somos nós quem decidimos, a partir dos menores
e mais simples gestos, o peso a ser colocado em cada lado da nossa balança: mais
virtudes, ou mais defeitos... Como disse Martin Luther king Jr. 1, “O que me preocupa não é o grito dos
maus. É o silêncio dos bons” 2. É
assim, que assinamos o nosso termo de responsabilidade com a vida e adquirimos
ou perdemos o direito de reclamar as agruras, ou vulgarizamos os princípios.
Apesar
de toda a imperfeição que sustenta nosso ser, a premissa da existência humana é
a liberdade; portanto, sempre há tempo para ousar, transformar, mudar, renascer,
evoluir. A vida há de ser vista pela composição de todos os prismas, sem que
haja uma só verdade, um só pensamento, uma só ideologia . Não deixe limitar os
seus sentidos ao que parece pronto e imutável; podemos sim ouvir além dos ruídos,
enxergar além das entrelinhas, degustar além dos sabores, cheirar além dos
odores, sentir além do palpável. Tudo é relativo; mas, é diretamente dependente
do seu grau de autonomia, de cidadania, ou para muitos, simplesmente, de perspectiva.