terça-feira, 3 de julho de 2012

Crônica da semana!!!

Em cima do muro

Por Alessandra Leles Rocha


Mesmo a mais incrível das obras, que aparentemente se mostre completa, cabe sim, aqui e ali, um retoque, um aprimoramento, um detalhe a mais. Neste caso, os seres humanos jamais deveriam se enquadrar fora desse contexto; porque a essa espécie a perfeição não passa de mera aspiração a ser arduamente perseguida.
Cheios de virtudes e defeitos, caminhamos sempre cambaleantes. Às vezes de mãos dadas com o Bem, outras de braços dados com o Mal. Depende do dia, da hora, da inspiração, da vontade, ou quase sempre da inquieta motivação da própria personalidade. Como entender o ser humano? Para essa criatura tão volúvel, tão inconstante, tão contraditória,... nem sempre dois pontos dão origem a uma reta! Sobe, desce, vira, revira, balança pra lá e pra cá, faz e acontece; mas,... Não há, então, como assegurar os resultados!
Tentativas e mais tentativas, na historia da humanidade, em se promover uma classificação, ou segmentação, ou categorização da sociedade mostraram-se um tanto quanto ineficazes do ponto de vista da sua exatidão. Para o ser humano é difícil um real posicionamento e, geralmente, ele tenta permanecer “em cima do muro”, como se pudesse garantir a sua isenção diante dos acontecimentos da vida ou um momento mais “apropriado” para se decidir. Só que isso não é possível! Inevitavelmente, quem está “em cima do muro”, nessa suposta “zona de conforto”, há de cair. Pode ser que seja em um ou outro lado já consolidado filosoficamente, ou seja em uma nova perspectiva aberta pela própria inventividade individual, em total contraposição ao já estabelecido.
A contemporaneidade nos tem sido cada vez mais pródiga no sentido de nos possibilitar, através de inúmeros fatos, o aprendizado e a reflexão sobre as consequências, e as inconsequências, do nosso distanciamento na busca pelo aperfeiçoamento moral e ético. Por isso, o muro parece cada vez mais frágil e tem derrubado muita gente em cada um de seus lados, mesmo a contragosto. Esse “choque de realidade” é muito bom! Porque apesar de vivermos em coletividade, não há evolução substancial se não tomarmos as rédeas da nossa existência individual. Somos nós quem decidimos, a partir dos menores e mais simples gestos, o peso a ser colocado em cada lado da nossa balança: mais virtudes, ou mais defeitos... Como disse Martin Luther king Jr. 1, “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons” 2. É assim, que assinamos o nosso termo de responsabilidade com a vida e adquirimos ou perdemos o direito de reclamar as agruras, ou vulgarizamos os princípios.
Apesar de toda a imperfeição que sustenta nosso ser, a premissa da existência humana é a liberdade; portanto, sempre há tempo para ousar, transformar, mudar, renascer, evoluir. A vida há de ser vista pela composição de todos os prismas, sem que haja uma só verdade, um só pensamento, uma só ideologia . Não deixe limitar os seus sentidos ao que parece pronto e imutável; podemos sim ouvir além dos ruídos, enxergar além das entrelinhas, degustar além dos sabores, cheirar além dos odores, sentir além do palpável. Tudo é relativo; mas, é diretamente dependente do seu grau de autonomia, de cidadania, ou para muitos, simplesmente, de perspectiva.  
Trabalho Gráfico de Alessandra Leles Rocha.