sexta-feira, 15 de junho de 2012

Terapia gênica desenvolvida na UFMG combate câncer de cabeça-pescoço


Terapia gênica que interfere no cálcio presente dentro do núcleo da célula tumoral pode ajudar na cura de câncer de cabeça-pescoço, mesmo em carcinomas epiteliais resistentes à radioterapia.
Desenvolvida no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, no Centro de Pesquisa René Rachou e no Instituto de Radioterapia São Francisco, a pesquisa da doutoranda Lídia Andrade mostra que a fração de sobrevida do tumor é reduzida drasticamente quando se associa o tradicional tratamento radioterápico ao bloqueio de uma função do retículo nucleoplasmático, organela responsável por atividades celulares como síntese de proteínas e armazenamento de cálcio, descoberta em 2003 pela professora Maria de Fátima Leite, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB.
O estudo mostra ainda que o tratamento proposto consegue diminuir pela metade a dose de radiação necessária e minimizar a recidiva, isto é, o retorno da doença. Orientado pela própria professora Maria de Fátima e pelo professor Olindo Assis Martins Filho, com colaboração do físico Jony Marques Geraldo, o estudo foi aceito para publicação na revista Journal of Cancer Science & Therapy, de alto impacto na área. A pesquisa é financiada por Fapemig, Capes, CNPq e Howard Hughes Medical Institute (HHMI).
Em fase pré-clínica, a terapia utiliza adenovírus construído geneticamente em laboratório para levar ao núcleo da célula uma proteína que absorve o cálcio ali produzido. O tamponamento do cálcio [processo de aprisionamento do cálcio em uma proteína, impedindo que ele circule livremente pela célula] é fundamental, uma vez que o aumento deste íon no núcleo estimula a proliferação das células carcinogênicas. “Como não é natural, o adenovírus é incapaz de se replicar no organismo”, explica Lídia Andrade, ao destacar que ele tem efeito transitório, fator considerado benéfico no tratamento por minimizar efeitos adversos da terapia.
Outro aspecto importante observado na pesquisa é que a redução do cálcio não tem efeito sobre as células sadias, que se reproduzem muito mais lentamente do que as cancerígenas. “Isso dá mais segurança ao tratamento, pois sabemos que ele não interfere, mesmo que a região ao redor do tumor venha a ser atingida pela aplicação do material”, acrescenta Fátima Leite, ao lembrar que o câncer nessa área do corpo apresenta vantagens para uso de terapias gênicas, devido à facilidade de acesso ao tumor. “É possível fazer um tratamento localizado”, diz.
Na impossibilidade de utilização do adenovírus, o carreamento da proteína para o núcleo da célula também pode ser realizado com o uso de nanopartículas de carbono. Fátima Leite observa que o vírus, como ocorre com vacinas, é delicado e necessita de temperatura e condições adequadas para ser estocado: “Contudo, a grande descoberta dessa pesquisa é que o tamponamento do cálcio no núcleo da célula associado à radioterapia mostra-se mais eficiente do que a radioterapia ministrada isoladamente.” (...)