domingo, 3 de junho de 2012

Semana do Meio Ambiente


Se ainda nos resta uma única gota...

Por Alessandra Leles Rocha

Lá se vão quarenta e quatro (44) anos desde o Clube de Roma 1, o primeiro encontro realmente voltado para o debate sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, e que descortinou o cenário adiante: Estocolmo (1972) 2, Rio de Janeiro (1992) 3, Johanesburgo (2002) 4 e, agora, a Rio+20 5. Ainda que milhares de cidadãos não estejam lá, presentes e sentados às mesas de discussão e negociação, cada um no silêncio de sua alma precisa refletir profundamente, pois não se trata de alarmismo ou demagogia, só haverá futuro e vida se algo for transformado imediatamente.
 A semana em comemoração ao Meio Ambiente 6 começou com o anúncio do fim das atividades do Aterro Metropolitano do Rio de Janeiro, no bairro de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, considerado o maior da América Latina 7. Mas, e o lixo produzido, para onde irá a partir desse momento?
Discutir sobre o Meio Ambiente é antes de tudo encarar os desafios de frente. No caso do lixo, por exemplo, não há solução final, pois o mesmo não para de ser produzido e cada vez mais se torna diversificado em constituição. O assunto deve ser tratado, portanto, do ponto de vista de gestão sistematizada e integrada. Consideradas vilãs pelos ambientalistas, as sacolinhas plásticas, por exemplo, já estão sendo proibidas através de legislações estaduais, em várias partes do Brasil; mas, continuamos a consumir na aquisição de um único produto diversos tipos de embalagens e no acondicionamento dos resíduos domésticos, senão usamos mais as tais sacolinhas, utilizamos os sacos próprios para lixo, pois não havemos de fazer o descarte de qualquer jeito, inclusive propiciando o aparecimento de insetos transmissores de doenças e animais peçonhentos atraídos pela farta oferta de água, abrigo e alimento. E diariamente vemos surgir diante dos olhos nossa pequena porção de lixo – plásticos, papeis, vidros, metais, pilhas, baterias, entulho etc.etc.etc. -, a qual o poder público há de pensar o que fazer com ela!
Mas os espaços geográficos parecem encolher diante do crescimento vertiginoso das necessidades humanas. Além de um lugar para descartar os resíduos, precisa-se de milhares de outros para alocar a população, as escolas, os hospitais, as indústrias, o comércio, as áreas de lazer e cultura,... e, então, de repente se entende de uma vez por todas que a grande esfera é limitada! Que os resíduos a serem geridos não são produzidos apenas no contexto doméstico de cada lar; mas, de um universo de outras atividades. Que qualquer lugar para descartar também não serve como solução, porque pode interferir na qualidade dos cursos d’água e já sabemos que esse líquido precioso está em falta para atender o imenso contingente populacional do planeta; seja pela seca, pelo desmatamento das nascentes e margens dos cursos d’água, pelo assoreamento ou pela poluição em todas as suas faces. Mais de sete bilhões de vidas que precisam de água para matar a sede, para suprir as necessidades de higiene, para utilizar na preparação dos alimentos, para irrigar as produções agrícolas e manter vivos os animais para o abate, para a construção civil, para os hospitais, para as escolas, para...
A revolução industrial acionou o gatilho do progresso e do desenvolvimento tecnológico no planeta, só se esqueceu de pensá-los intimamente correlacionados ao fluxo dinâmico da existência humana. A mesma mão que ofereceu o infinito de possibilidades retirou gradativamente a qualidade e a garantia da sobrevivência humana. Ocupamos espaços sem análise ou critério, dilapidamos os recursos naturais sem a devida observação óbvia de sua finitude, promovemos a proliferação e a disseminação de doenças pelo mau uso dos recursos, desenvolvemos toneladas de resíduos e inutilidades pela falta de consciência frente ao consumo,... empregamos mal o nosso conhecimento a ponto de sacrificar sem pudores o Meio Ambiente.
Depois de tantas conferencias, seminários, encontros, jornadas para tratar dessas questões e os relatórios parecerem inertes dentro das gavetas, a esperança teme minguar. Destruir o planeta significa exatamente destruir a própria casa. Sem uma casa para voltar no fim do dia, qual seria o significado do trabalho, da acumulação de bens e riquezas, da classificação social? Vejamos a árdua luta dos diversos grupos de refugiados em prol de um espaço territorial que lhes permita uma moradia digna para resgatar sua cidadania, seus valores e sua cultura. É a casa que abriga nossos sonhos, que nos protege das adversidades, que guarda as nossas memórias, que emoldura o nascer de novos dias. Nem a semana do Meio Ambiente, nem a Rio+20, nem qualquer outro momento estão pondo em discussão banalidades ou declarações apaixonadas e inflamadas de pessoas meramente idealistas; o que está sobre a mesa de negociações é um ultimato, são todos os atestados de que o amanhã de algumas décadas a mais pode jamais se tornar realidade e que o modelo vigente já é o retrato do grande fracasso humano. Arregaçar as mangas e agir é o que nos cabe fazer se ainda nos resta uma única gota do instinto animal de sobrevivência.