É ou não é???
Por Alessandra Leles Rocha
O que é a imagem senão a interpretação dos olhos!
Sim, e por mais que nossos olhos tenham boa capacidade de captar o que acontece
ao nosso redor, nem tudo o que parece é. Não são raras às vezes em que nos
deixamos levar pelas ilusões do mundo e desperdiçamos excelentes oportunidades
de aprofundar a nossa evolução.
O jenipapo é um fruto de aparência não muito
agradável; mas, se fôssemos nos levar por isso, jamais degustaríamos a
maravilha do seu licor. O mesmo acontece com a uva passa; toda enrugadinha, sem
graça, mas de um sabor inigualável. As aparências enganam!
Só a essência, a alma de tudo o que existe é capaz
de dizer com propriedade. Nela não há subterfúgios, máscaras, dissimulações,
pois não sofre ingerências ou controles da consciência; ela caminha parceira do
inconsciente, onde tudo se revela límpido, cristalino, natural.
O mundo da pressa, da competição exacerbada, do
elogio ao TER, empurra sistematicamente a sociedade a um grau intolerável de
insatisfação consigo e com a vida; por isso, a imagem dificilmente se apresenta
ao gosto do freguês. Os limites parecem sempre inatingíveis e cruéis, fazendo
com que os indivíduos adoeçam o corpo e o espírito, através dessa loucura
gradativa.
Livres para ser o que é e desfrutar de cada
elemento do seu próprio ser as pessoas optam por se submeter às diversas
ditaduras da contemporaneidade. Ser magro. Ser jovem. Ser rico. Ser bem
sucedido. Ser poderoso. Ser elegante. Ser... Dentro de parâmetros rígidos,
inflexíveis e isentos de uma gota sequer de sensibilidade vital. Mesmo que não
haja um espelho diante de nós, uma voz ecoa inquisidora sobre nosso consciente e
nos julga severa, apontando a todo instante as nossas limitações e nos banindo
para nos enquadrar neste ou naquele grupo.
Frente à tamanha opressão, a mente se torna
letárgica e incapaz de enxergar o óbvio: devemos refletir não o que está sobre
a pele, mas o que só é perceptível ao nível dos sentidos. Não somos carimbos.
Não somos cópias. Não somos e nem temos que ser reproduções mal feitas uns dos
outros. Somos indivíduos únicos, complexos, controversos, resultados de erros e
acertos, de virtudes e defeitos, de beleza e feiúra. Caminhamos no comprimento
de nossas pernas. Falamos na entonação de nossas cordas vocais e desejos.
Realizamos no impulso de nossas escolhas e necessidades. Conduzimos a vida na
dimensão com que ela nos apresenta. Precisamos recobrar a consciência sobre o
nosso verdadeiro valor.
Chega de aparências! Enquanto você julga o mundo,
como se estivesse de fato em condição de fazê-lo, ele lhe paga na mesma moeda!
Cuide-se. Cuide em ser você, em crescer, em aprimorar, em se reinventar.
Preocupe-se. Preocupe em ser feliz, em fazer boas escolhas, em construir
verdadeiros laços, em compartilhar, em fortalecer a sua fé. A vida passa muito
mais breve do que se imagina e não temos como controlá-la. Os anos deixam suas
marcas nas lições; mas, também, em nossa carcaça. O grande presente que sempre
fica são as lembranças, as quais conservam intactas o que havia de melhor, de
mais interessante, de mais emocionante naquele certo momento. Quanto às
aparências, elas pouco importam quando a alma quer realmente se deixar invadir
por sonhos, esperanças, projetos, desafios, e porque não dizer, vida.