domingo, 6 de maio de 2012

Crônica da Semana!!!


É ou não é???

Por Alessandra Leles Rocha

O que é a imagem senão a interpretação dos olhos! Sim, e por mais que nossos olhos tenham boa capacidade de captar o que acontece ao nosso redor, nem tudo o que parece é. Não são raras às vezes em que nos deixamos levar pelas ilusões do mundo e desperdiçamos excelentes oportunidades de aprofundar a nossa evolução.
O jenipapo é um fruto de aparência não muito agradável; mas, se fôssemos nos levar por isso, jamais degustaríamos a maravilha do seu licor. O mesmo acontece com a uva passa; toda enrugadinha, sem graça, mas de um sabor inigualável. As aparências enganam!
Só a essência, a alma de tudo o que existe é capaz de dizer com propriedade. Nela não há subterfúgios, máscaras, dissimulações, pois não sofre ingerências ou controles da consciência; ela caminha parceira do inconsciente, onde tudo se revela límpido, cristalino, natural.
O mundo da pressa, da competição exacerbada, do elogio ao TER, empurra sistematicamente a sociedade a um grau intolerável de insatisfação consigo e com a vida; por isso, a imagem dificilmente se apresenta ao gosto do freguês. Os limites parecem sempre inatingíveis e cruéis, fazendo com que os indivíduos adoeçam o corpo e o espírito, através dessa loucura gradativa.
Livres para ser o que é e desfrutar de cada elemento do seu próprio ser as pessoas optam por se submeter às diversas ditaduras da contemporaneidade. Ser magro. Ser jovem. Ser rico. Ser bem sucedido. Ser poderoso. Ser elegante. Ser... Dentro de parâmetros rígidos, inflexíveis e isentos de uma gota sequer de sensibilidade vital. Mesmo que não haja um espelho diante de nós, uma voz ecoa inquisidora sobre nosso consciente e nos julga severa, apontando a todo instante as nossas limitações e nos banindo para nos enquadrar neste ou naquele grupo.
Frente à tamanha opressão, a mente se torna letárgica e incapaz de enxergar o óbvio: devemos refletir não o que está sobre a pele, mas o que só é perceptível ao nível dos sentidos. Não somos carimbos. Não somos cópias. Não somos e nem temos que ser reproduções mal feitas uns dos outros. Somos indivíduos únicos, complexos, controversos, resultados de erros e acertos, de virtudes e defeitos, de beleza e feiúra. Caminhamos no comprimento de nossas pernas. Falamos na entonação de nossas cordas vocais e desejos. Realizamos no impulso de nossas escolhas e necessidades. Conduzimos a vida na dimensão com que ela nos apresenta. Precisamos recobrar a consciência sobre o nosso verdadeiro valor.
Chega de aparências! Enquanto você julga o mundo, como se estivesse de fato em condição de fazê-lo, ele lhe paga na mesma moeda! Cuide-se. Cuide em ser você, em crescer, em aprimorar, em se reinventar. Preocupe-se. Preocupe em ser feliz, em fazer boas escolhas, em construir verdadeiros laços, em compartilhar, em fortalecer a sua fé. A vida passa muito mais breve do que se imagina e não temos como controlá-la. Os anos deixam suas marcas nas lições; mas, também, em nossa carcaça. O grande presente que sempre fica são as lembranças, as quais conservam intactas o que havia de melhor, de mais interessante, de mais emocionante naquele certo momento. Quanto às aparências, elas pouco importam quando a alma quer realmente se deixar invadir por sonhos, esperanças, projetos, desafios, e porque não dizer, vida.