Natal - entre a magia e a reflexão
Por Alessandra Leles Rocha
Na amplidão da diversidade humana é certo que nem todos compartilhamos dos mesmos pensamentos, ideologias, gostos, comportamentos, práticas,... por essa razão, algumas ocasiões, como o Natal, por exemplo, nos arrebatam de modo bastante particular.
Entre as luzes que já começam a reluzir acentuadas pelas cidades, o movimento acelerado pelas compras especiais, o lento e gradual desacelerar da rotina que vislumbra dias de trégua até o reiniciar anual; ainda que alguns não estejam em busca de festejar o nascimento de Cristo, o consenso aponta que todos compreendem que o Natal é momento de união, de congregar com quem nos é especial, de sentir pulsar no fundo da alma a delicada chama da paz, mesmo sabendo que o mundo não tem caminhado nesse sentido.
Dentro de tantos excessos cometidos, pois muitos não dispõem da habilidade necessária para comemorar sem exageros, esta é para muitos a única oportunidade do ano de reunir a família, os amigos, de encurtar as distâncias, de por em dia a saudade asfixiante, sem medir esforços. E talvez, sem se darem conta de que isso tudo representa a maior lição de Cristo, lá estão eles a tecer as delicadas fibras do amor. Sim! Amor com altos e baixos, timidez e extravagância, inteiro e remendado,... mas, amor de verdade, genuíno, que quase mata pela ausência do ente querido.
Seja nos grandes condomínios de luxo ou nas comunidades mais humildes, sob grandes ou até inexistentes árvores decoradas, com mesa farta ou não, a emoção do abraço, do carinho, do afago, do sorriso compartilhado nasce da mesma essência. Naquela noite singular o grande presente é sentir que a solidão ficou do lado de fora da festa; a casa está cheia, a vida está repleta do essencial. O Natal nos premia com a oportunidade de renovar nossos votos de fé, nossa crença individual e intransferível no Criador e nos seus mistérios da criação, quando podemos agradecer em comunhão pela presença de cada um ao nosso redor, mais uma vez.
Neste ano em que remando contra marés de total instabilidade socioeconômica mundo afora, temos a sorte de aportar em águas aparentemente mais tranquilas, o Natal nos chega trazendo grandes e valiosas lições para a nossa própria evolução. Talvez venhamos postergando há tempos à devida reflexão sobre a vida e conduzindo ano após ano os momentos difíceis, de grandes preocupações, para um Natal alienado e descompromissado individual e coletivamente; quando extrapolamos os limites do TER para compensarmos nossas dificuldades e inabilidades quanto ao SER.
Então, se os bolsos estão mais vazios, se a consciência previdente pede parcimônia nos gastos, se a festa será menos glamourosa, a verdade é que a vida apesar de todos esses eventuais pesares nos garantiu o essencial. Se a saúde está em dia, agradeça; pois há muitos tão distantes dela. Se estiver empregado, agradeça; pois a fila dos desempregados só faz crescer. Se o país está sem conflitos, agradeça; pois o ano foi marcado por um tsunami de intolerância e contestação. Se não foi possível realizar todos os sonhos, agradeça; pois eles podem ser guardados para momentos mais oportunos. ...
Não se trata de demagogia, ou mera filosofia de botequim! A verdade é esta mesmo, a nos saltar aos olhos, a esbofetear nosso rosto quando ligamos a TV ou abrimos as páginas dos jornais; afinal, não se fala em outra coisa a não ser em crise. Então, aproveitando esse “oásis” que é o Natal, nos refresquemos em suas águas cristalinas e deixemos que esse momento de “quietude” enalteça nossos melhores sentimentos e virtudes, reafirmando o que nossa alma sempre entendeu sobre o significado desta data; de modo, que nos dias seguintes tenhamos nova força de inspiração a nos guiar para a consolidação de novos paradigmas sociais.